14 º IndieLisboa | Abertura e ‘Colo’, em análise

O Festival começa hoje no Cinema São Jorge e vai decorrer até 14 de Maio por outros espaços de cinema da capital. A abrir ‘Colo’, o filme português de Teresa Villaverde, um curioso drama contemporâneo sobre uma família urbana em tempo de crise de afectos e valores.

Até 14 de Maio, o IndieLisboa regressa às salas da Culturgest, Cinema São Jorge, Ideal, Capitólio e Cinemateca Portuguesa com muitas novidades e uma programação renovada à procura de um novo fôlego e uma nova dinâmica de público. A abertura oficial acontece hoje à noite no Cinema São Jorge, (21h00), com a simbólica presença do primeiro-ministro António Costa e Catarina Vaz Pinto, vereadora da cultura da CML. É efectivamente uma abertura em português com Colo, o novo filme de Teresa Villaverde, estreado no Festival de Cinema de Berlim, em Fevereiro passado. O encerramento será mais sofisticado, com a antestreia de Eu Não Sou o Teu Negro, (na Culturgest, domingo 14 de Maio, 21h30), um ensaio cinematográfico de Raoul Peck (O Jovem Karl Marx), a partir de escritos do pensador e activista negro norte-americano James Baldwin, filme que esteve nomeado para os Óscares na categoria de Documentário. Eu Não Sou o Teu Negro estreará nas salas logo a seguir ao festival.

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Os protagonistas Beatriz Batarda e João Pedro Vaz.

Depois do concurso de Berlim, realizadora portuguesa Teresa Villaverde apresenta agora no IndieLisboa em antestreia absoluta Colo, um filme sobre o tempo e o modo da crise no seio de uma família urbana em risco, que traz a adolescência como referência, e um pouco da  ingénua herança dos ‘verdes anos’ do novo cinema português.

Colo é um filme sem actores conhecidos, os protagonistas na verdade são jovens adolescentes (Clara Jost, Tomás Gomes e Alice Albergaria Borges); tem uma narrativa poética, e procura abordar um processo de incomunicabilidade — o filme assenta muito nos silêncios e nos espaços — até à desintegração de uma família de classe média, e os seus efeitos colaterais, com os jovens a sofrerem mais com esta situação.

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A crise de valores e afectos.

 E por isso, Colo é um filme na linha do cinema português mais psicológico que realista, mais duro que optimista e que segue os filmes anteriores de Teresa Villaverde, como Os Mutantes, por exemplo, que em parte a história nos conduz ao universo e aos conflitos da adolescência.

O filme desenrola-se a partir da história de um casal em ruptura, João Pedro Vaz (Cartas da Guerra) no papel de um desempregado de longa duração em desespero para encontrar trabalho, e a mulher Beatriz Batarda (Cisne), cansada do casamento, da relação quase asséptica com um marido inactivo — quase nunca se tocam — e exausta de um duplo emprego, para conseguir sustentar o lar; a filha, (Alice Albergaria Borges, um novo rosto a ter em conta no cinema português) representa as grandes questões da adolescência na actualidade: largada pelo namorado (Tomás Gomes), que opta por um percurso na música, a jovem e deprimida rapariga tem fazer as suas escolhas, dadas as limitações financeiras em casa e a ver os progenitores irem cada um para seu lado, inclusive o pai com a sua melhor amiga (Clara Jost).

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João Pedro Vaz e Clara Jost.

Colo a primeira experiência de Teresa Villaverde no cinema digital — tem uma belíssima fotografia do ‘mestre’ Acácio de Almeida — passa-se quase todo no interior de um apartamento de cores fortes, com o skyline (diurno e noturno) de Lisboa oriental, com o rio Tejo em fundo ou nas ruas escuras e jardins secos de um bairro novo da periferia. É mais uma vez a geometria dos edifícios do bairro de classe média dos Olivais — que João Salaviza, já tinha filmado em Montanha — mas agora vistos das alturas e das pequenas janelas de um prédio, que se vai tornar o palco principal deste insistente drama familiar, em tempo de crise económica e de desagregação dos valores e afectos. Depois há o Bairro Alto sujo a seguir a uma noite de copos, como manifestação de libertação e êxtase da juventude; e principalmente há as imagens do mar, para onde os portugueses se viram para respirar em tempos de aflição e que os tem ajudado historicamente a libertar (e a limpar) das suas crises, como faz a dado momento, um dos protagonistas de Colo.

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Uma Lisboa vista das janelas.

Colo é sobretudo um filme sobre a solidão das pessoas, sobre o desespero dos adultos e a história de uma crise familiar em tempos difíceis, onde quem sobressai são os mais jovens, os seus problemas e as suas inseguranças, face ao falhanço dos pais e dos adultos e sem uma perspectiva de futuro nesta democracia cheia de dúvidas e carregada de incertezas. 

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Notáveis os jovens actores.

As personagens do filme estão como todos nós em vários momentos da vida: a precisar de um colo, mas curiosamente quase nunca se tocam: cobrem-se apenas com uma camisola. Vivemos num momento muito confuso e estamos a precisar além de um colo, de algo que não sabemos exactamente o que é. E Colo, de Teresa Villaverde é um filme que reflecte exactamente isso!

Colo, em análise
colo poster

Movie title: Colo

Director(s): Teresa Villaverde

Actor(s): Beatriz Batarda, João Pedro Vaz, Alice Albergaria Borges

Genre: Drama

  • José Vieira Mendes - 60
60

CONCLUSÃO

Colo é um retrato austero sobre a sociedade portuguesa, sobre precariedade em plena crise económica, que pouco a pouco vai devastando o equilíbrio já de si instável de uma família da classe média.

O MELHOR: As interpretações dos jovens actores e a fotografia de Acácio de Almeida.

O PIOR: O tema recorrente da crise económica e de valores em que insiste o cinema português da actualidade.

JVM

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