Top guarda-roupas da TV | 09. Wolf Hall

A partir de uma surpreendente veracidade histórica, Wolf Hall cria uma das mais impressionantes visões da corte de Henrique VIII alguma vez filmadas.

 

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Wolf Hall, um drama que revolve em volta da subida ao poder do manipulador Thomas Cromwell na corte de Henrique VIII, retrata um mundo de perigosas maquinações sociais e políticas, pelo que é essencial que essa sociedade esteja perfeitamente construída. Os figurinos são indispensáveis na concretização de tal efeito, claramente delineando as barreiras sociais, assim como as fachadas e costumes que regem o comportamento das personagens.

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O melhor aspeto dos figurinos de Wolf Hall é o modo como a veracidade histórica foi conseguida, em grande parte, a partir de um extremo cuidado na construção do vestuário. Por exemplo, este é um dos poucos filmes a retratar a primeira metade do século XVI onde os alfinetes utilizados para prender grande parte das vestes femininas são claramente visíveis, ou os atilhos que mantêm as pesadas peças no seu lugar. Há uma qualidade quase palpável no mundo de Wolf Hall, uma certa vivência nos seus visuais que, por muito luxuosos que possam ser, nunca parecem ser o produto de qualquer glamour contemporâneo. Ao vermos os intervenientes humanos desta intriga, conseguimos imaginar como eles viviam, como se vestiam, como se moviam, devido aos seus maravilhosos figurinos.

Algumas estilizações estão presentes, mesmo assim, especialmente na escolha de materiais. O uso de cetins nos trajes de Ana Bolena são particularmente declarativos na sua vistosa ostentação. Mas, de um ponto de vista dramatúrgico, isto faz sentido, tornando Ana numa pincelada de impetuosa cor, luz e abrasiva suavidade no meio de um mundo sombrio cheio de pesados tecidos. Há algo de cuidadosamente construído na aparência de todas as personagens, mas especialmente em Ana e Henrique, definindo-os imediatamente como figuras para as quais a construção de uma imagem pública é algo de colossal importância.

Consequentemente, Henrique é um absoluta imagem de poder, em materiais luxuosos e pesados, cheio de decoração e uma silhueta que é tão historicamente correta quão é opulente e ameaçadora. Basta o vislumbrarmos uma vez para nos apercebermos do seu poder e da sua importância.

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Ainda mais impressionante que a maravilhosa criação do vestuário para a corte de Henrique VIII, é a criação das roupas utilizadas pela burguesia da época, uma classe social raramente observada no cinema ou televisão de época. A sua construção é igualmente exímia se bem que neste caso as decorações e materiais são imensamente mais pobres, revelando uma modesta elegância que nunca rivaliza a vistosa natureza dos trajes de corte e que é muito mais conservadora e simplificada. O uso de toucados em linho, praticamente copiados de pinturas da época, é de particular destaque. De facto, pelo menos um dos figurinos da cunhada de Cromwell é uma reprodução de um desenho de Hans Holbein.

Nem tudo é perfeito no entanto, nomeadamente algumas escolhas um pouco desnecessárias que foram feitas em relação às bases históricas. As coquilhas, por exemplo, são demasiado pequenas ou inexistentes, numa clara tentativa de não alienar as audiências contemporâneas. Também o uso de botas como constante calçado do elenco masculino é uma falha histórica sem grande justificação, ao contrário de alguns outros detalhes, como alguns toucados, cujos problemas deverão advir de infelizes limites de orçamento.


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Independentemente desses problemas, o guarda-roupa de Wolf Hall, desenhado por Joanna Eatwell é uma das mais fascinantes recriações de uma época que já foi retratada um infindável número de vezes em produções históricas da televisão britânica.


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