Berlinale 66 (Dia 4): Faz amor, não a guerra!

 

O filme português Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira, baseado na obra de António Lobo Antunes foi bem recebido na sua estreia na Berlinale. É um belo poema de amor em tempo de guerra, feito com imagens, sobre as memórias e os traumas do ultramar português. É sobretudo um notável casamento entre a literatura e cinema.

 

Cartas da Guerra, o único filme português apresentado na competição oficial de longas-metragens é baseado nas cartas escritas por António Lobo Antunes, à sua então esposa Maria José, publicadas em 2005 com o título ‘D’este viver aqui neste papel descripto’ (‘Cartas da Guerra’). Foi a partir destas cartas de amor e saudade que Ivo M. Ferreira criou uma excelente parábola sobre a guerra colonial, que é ao mesmo tempo uma apologia do amor romântico — estou lembrar-me de ‘Cartas de Uma Freira Portuguesa’—, que combina a realidade com a ficção.

'Cartas da Guerra'
Um filme de uma impressionante tensão.

‘…as cartas de António vão relatando ao pormenor a vida quotidiana no aquartelamento na clareira do mato…’

Enviado para Angola para servir na guerra colonial, as palavras do jovem alferes-médico, estão carregadas de dor, ternura, desejo e ausência por não ver a sua primeira filha nascer. Ao mesmo tempo, as cartas de António vão relatando ao pormenor a vida quotidiana no aquartelamento na clareira do mato: a fascinante natureza, as pessoas locais a quem dá assistência médica e até como cuidou de uma menina órfã de 4 anos. Para além de mensagens de amor profundo para a mulher. Mas, aos poucos a guerra vai afectando-o, e as cartas tornam-se mais amargas e mensagens de um mundo que está a desabar e de uma guerra que parece interminável.

'Cartas da Guerra'
Imagens de uma guerra interminável.

‘….é um ensaio poético em que as imagens complementam a crónica falada em voz off, do alferes-médico António…’

Cartas da Guerra é um ensaio poético em que as imagens complementam na exactidão a crónica falada em voz off, do alferes-médico António (Miguel Nunes),  que as diz sempre com uma impressionante tensão e desespero, quer esteja na enfermaria, quer na mata de G3, em punho: Esta guerra transforma-nos em insetos lutando pela sobrevivência, escrevia António à sua amada esposa grávida (interpretada no filme pela atriz Margarida Vila-Nova), que estava em Portugal, em pleno ano de 1971 e com um discurso de Marcelo Caetano em fundo.

Vê trailer de Cartas da Guerra

Rodado num preto-e-branco brilhante, que realça a paisagem africana — faz lembrar os tons de Tabu, de Miguel Gomes —  Cartas da Guerra, é uma mistura de jornal falado das actualidades (já tratados por alguns historiadores do cinema português), documentário, relatório de guerra e declaração de amor ultra-romântico, ficção ou tudo ao mesmo tempo. Cartas da Guerra, não é uma obra-prima do cinema e para já não se pode dizer que seja um candidato a um Urso, pois ainda falta ver mais de metade da competição, mas é sem dúvida um filme que nos orgulha, por estar lá não só a nossa história mas o melhor da cultura portuguesa. O filme foi muito bem recebido na Berlinde e contou além do elenco com a presença do Primeiro Ministro e Ministro da Cultura de Portugal.

 

One thought on “Berlinale 66 (Dia 4): Faz amor, não a guerra!

  • Não acho bem que o primeiro ministro se tenha.deslocado a Berlim para a estreia. Estamos em.contenção e não se justificava, isso não é apoiar a cultura portuguesa. Estava lá o ministro da cultura era suficiente.

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