70 º Festival de Locarno | Um Verão Português

O grande festival de cinema localizado na bela cidade suíça de Locarno começa hoje e vai até 18 de Agosto, tem cinema português em várias secções, além do realizador Miguel Gomes participar como jurado da competição internacional.

Verão Danado
As noites longas de Lisboa na actualidade.

 

O Festival de Cinema de Locarno, na sua edição redonda dos 70 começa hoje dia 2 de Agosto, mas apresenta em estreia mundial na secção Cineastas do Presente na próxima sexta (4), a longa-metragem portuguesa Verão Danado. Trata-se de uma primeira obra do jovem realizador Pedro Cabeleira. Esta competição Cineastas do Presente é dedicada a primeiras e segundas obras de jovens realizadores, mas a programação geral inclui mais filmes de produção nacional.

UM VERÃO PORTUGUÊS EM LOCARNO

Verão Danado é uma ficção, que mais parece real e que retrata um tempo que é igualmente do realizador e dos grande grupo de jovens atores e técnicos que participaram e trabalharam num filme sem grandes recursos, praticamente quase todos recém-saídos ou ainda alunos da Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC).

 Vê O trailer de Verão Danado 

 

Com realização e argumento de Pedro Cabeleira, direcção de fotografia da realizadora Leonor Teles — Urso de Ouro para Melhor Curta-Metragem, no Festival de Berlim 2016, com Balada de Um Batráquio —, produção de Marta Ribeiro, Verão Danado é uma contaminação entre o documental e a ficção, num registo meio stoner, meio psicadélico, que conta a história de Chico, um puto da aldeia que vem estudar para Lisboa — muito bem interpretado pelo estreante Pedro Marujo, que entretanto abandonou a ESTC e deixou de ser actor — e das suas tardes e noites de um verão, marcadas pelo ócio infinito, pelas drogas, desamores e sexo, imersos nas vibrações da música electrónica e do rock hard-core.

 

Verão Danado
Uma crónica da juventude entre a ficção e documentário.

 

É uma vibração juvenil de uns loucos 20 anos, de uma certa nightlife alternativa de Lisboa actualmente, ao ritmo dos excessos do protagonista. Trata-se sobretudo do retrato de uma geração à deriva, que sai à procura de algo que não existe ou fica à espera de que algo aconteça, como se diz algures no filme. No entanto, segundo o realizador, Verão Danado:

“[O filme] não tem a ambição de representar toda a juventude nem todas as tendências do momento, mas acima de tudo é um filme que foi criado no seio de jovens, sobre os jovens, onde expusemos a nossa forma de viver e de ver o mundo naquele momento, tudo aquilo que nos fascina e tudo aquilo que nos destrói”.

 

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Verão Danado
A história de Chico (Pedro Marujo), da aldeia para estudar em Lisboa.

 

Pedro Cabeleira iniciou o processo deste filme quando tinha 21 anos, no fim do curso de realização e, cheio de vontade de fazer cinema, sem grandes recursos, mas com um grupo de amigos e colegas que queriam fazer alguma coisa. O realizador contou recentemente à Lusa que o filme: Foi feito com pessoal da nossa idade, que tinha acabado a escola. Houve essa energia que foi contagiante entre uns e outros, principalmente entre os atores. Faziam 20 papéis no filme. Verão Danado  na prática foi rodado há quase três anos:

“Houve esta luta que não foi só minha. Foi uma luta de muita gente para que isto acontecesse” – acrescentou o jovem realizador agora com 25 anos – “Eram momentos e sentimentos que também eles estavam a viver na realidade, com muitos episódios que realmente aconteceram entre Maio e Novembro de 2014 e tiveram influência e entraram na narrativa, quer pelo conteúdo, quer por questões de produção”.

 

Verão Danado
Excelente a interpretação de Pedro Marujo no papel do Chico.

 

Verão Danado, foi produzido com um orçamento extremamente limitado, material emprestado, com a colaboração de amigos, actores que não cobraram nada — o elenco tem mais de 150 intérpretes — rodado em casas de pessoas conhecidas e espaços cedidos gratuitamente. A equipa, foi composta por gente com empregos e outros trabalhos, foi rotativa de forma a tornar possível os cerca de 43 dias de rodagem ao longo de 7 meses e mais de 400 dias de pós-produção.

 

Verão Danado
Uma das mais carismáticas actrizes e interpretações do vasto elenco.

 

Além do excelente desempenho de Pedro Marujo estão um grupo de jovens actores como Lia Carvalho, Ana Valentim, Daniel Viana, Sérgio Coragem, João Robalo, Luís Magalhães, Maria Leite, Ana Tang, Rodrigo Perdigão, Eugeniu lco, Cleo Tavares, Isac Graça, entre outros que compõe o elenco, que conta ainda com uma participação especial do actor Nuno Melo, entretanto falecido. Uma referência especial também para a extraordinária banda sonora, que é fundamental na narrativa, composta por jovens músicos, como  Éme, DJ Nigga Fox, entre outros.

PARA ALÉM DO VERÃO

No Festival de Locarno, serão ainda exibidas curta-metragem O Homem de Trás-os-Montes, de Miguel Moraes Cabral, fora de competição, estreado no IndieLisboa 2017.

 

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70º Festival de Locarno
João Pedro Benard é ‘O Homem de Trás-os-Montes’.

 

Esta curta, uma história de cinema dentro do cinema, um quase western, conta a viagem de um jovem realizador, interpretado pelo actor Miguel Nunes que apaixonado por Trás-­os-­Montes e inspirado no famoso Guia de Portugal — edição da Fundação Calouste Gulbenkian —,  e no percurso do musicólogo francês Michel Giacometti, procura histórias para realizar o seu filme documental. Um dia, a aparição de um homem montado num burro vai mudar o seu destino. 

 

Vê o trailer de O Homem de Trás-os-Montes 

 

E ainda o documentário António e Catarina, um produção portuguesa da romena Cristina Hanes, na competição de curtas-metragens. A estes filmes juntam-se ainda dois filmes de co-produção portuguesa: 9 Dedos, do realizador francês F.J. Ossang — recém homenageado no Curtas Vila do Conde 2017 — na competição oficial, e Milla, de Valerie Massadian, igualmente na competição Cineastas do Presente.

O 70º Festival de Locarno conta com 18 filmes na sua competição principal e candidatos ao Leopardo de Ouro, entre eles a produção brasileira As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra — com a direção de fotografia do português Rui Poças —, Ta Peau Si Lisse, do canadiano Denis Côte, e La Telenovela Errante, rodado nos anos 1990 por Raoul Ruiz e finalizado entretanto pela mulher, Valeria Sarmiento.

 

70º Festival de Locarno
O realizador Miguel Gomes jurado da competição ao Leopardo de Ouro.

 

O realizador português Miguel Gomes vai integrar o júri da competição internacional que é presidido pelo realizador Olivier Assayas. O júri da competição internacional de Locarno integra ainda o produtor grego Christos Konstantakopoulus, o realizador suíço Jean-Stéphane Bron e a atriz austríaca Birgit Minichmayr.

Jean-Pierre Léaud, Albert Serra, Paul Hamy, Denis Côté, Fanny Ardant, Dario Argento, Natassja Kinski e Jean-Marie Straub estão convidados para esta edição do festival. O realizador Todd Haynes, o ator Adrien Brody e o diretor de fotografia José Luis Alcaine receberão Prémios de Carreira.

JVM

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