Suspiria

75 º Festival de Veneza (4) | ‘Suspiria’: A Dança da Morte

Este sábado para além da grande trovoada durante todo o dia, foi marcado por um passo de dança de terror com o aguardado remake de ‘Suspiria’, de Dario Argento agora dirigido por Luca Guadagnino.

Suspiria
Susie Bannion (Dakota Johnson), uma bailarina que que dançar na Markos Tanz Company.

Com dança, bruxas e muito sangue o Lido suspirou esta manhã com a re-interpretação do filme de terror de Dario Argento pela mão do sempre sensível Luca Guadagnino. No papel de Mater Suspiriorum de ‘Suspiria’ está a multi-facetada actriz britânica Tilda Swinton, musa do realizador italiano que explodiu à escala internacional este ano, com o famoso ‘Chama-me pelo Teu Nome’. Em ‘Suspiria’ para além de Swinton, está Dakota Johnson, que depois de ‘As Cinquenta Sombras de Grey’, volta a encarnar o papel de uma estudante que luta contra um mundo obscuro que acabará por dominá-la. Diz-se também por aí que Quentin Tarantino deu a sua bênção a esta versão Guadagnino de ‘Suspiria’ e à participação da bela Chloë Grace Moretz, como protagonista, a que referenciou como o ‘o filme mais próximo de um Stanley Kubrick moderno’. Mas há também qualquer coisa do cinema de Rainer Walter Fassbinder, neste remake de ‘Suspiria’, quanto mais não seja porque o filme passa-se na Berlim gelada da década de 70, antes da queda do Muro.

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TRAILER | ‘SUSPIRIA’ DE LUCA GUADAGNINO

No filme, que combina terror e melodrama, é Dakota Johnson — de volta ao trabalho com o realizador depois de ‘Mergulho Profundo’, e num papel que disse teve  que recorrer à ajuda de um psicanalista — que interpreta Susie Bannion, uma curiosa bailarina ruiva que chega a Berlim em 1977, cidade da qual sempre se sentiu misteriosamente atraída, e vai descobrir os segredos mais sombrios de uma prestigiada companhia de dança europeia chamada Markos Tanz Company.

Suspiria
A companhia é dirigida por uma carismática coreógrafa chamada Madame Blanc (Tilda Swinton).

Esta companhia é dirigida por uma carismática e revolucionária coreógrafa chamada Madame Blanc, interpretada com elegância minimalista por Tilda Swinton, que parece sintetizar figuras como Mary Wigman, Sasha Waltz, mas sobretudo Pina Bausch, mesmo quando pega no cigarro e assume o manipulador e vampirizante processo criativo da grande coreógrafa alemã. Na verdade, nesta companhia todas as bailarinas são bruxas, que enfrentam um difícil conflito dentro do grupo e com inevitáveis reflexões sobre o sentido da magia negra, em relação ao mundo exterior. Além das grossas paredes da arquitectura do edifício e que cercam a companhia e tornam o ambiente claustrofóbico, há ainda o choque entre aqueles que ainda não não se conciliaram com o nazismo e com a perseguição aos judeus; há ainda aqueles que protestam violentamente contra a geração dos seus pais. Imediatamente após a chegada de Susie, uma bailarina, Patricia (Moretz), desaparece misteriosamente desaparece. Madame Blanc começa por assumir uma figura maternal e Susie torna-se amiga de Sara (Mia Goth), com quem partilha suspeitas sobre a directora e a própria companhia.

Suspiria
Uma bailarina, Patricia (Chloë Grace Moretz), desaparece misteriosamente.

Mas todo o filme de Guadagnino, é um mistério por vezes indecifrável, com personagens como o Dr. Jozef Klemperer, (Lutz Ebersdorf ou um ‘heterónimo interpretativo’ da própria Tilda Swinton, que interpreta este e ainda mais um papel no filme, carregada de próteses de caracterização), um psiquiatra que na década de 1960, ajudou a fundar uma companhia de teatro experimental. Entre citações, traições, visões de terror e cenas horripilantes sem nexo, símbolos e rituais, e uma coreografia pobrezinha que está a muitos anos de luz da de Pina Bausch, há pelo menos a belíssima música de Thom Yorke — o líder do Radiohead, que compôs aqui a sua primeira banda sonora — e que dá ao filme pelo menos uma dimensão de ópera rock abstracta. Guadagnino esforça-se em alargar os espaços do seu pesadelo cinematográfico, saindo dos lugares fechados e deixando alguma luz penetrar no interior, como é aliás uma marca do seu cinema desde ‘Eu Sou o Amor’ (2009). Mas esta luminosidade com tanto sangue não é suficiente para dizer que ‘Suspiria’ seja um bom filme. É simplesmente uma obra aberrante e para mau gosto já bastava o original.

José Vieira Mendes (em Veneza)

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