“Crazy Room” pelos Beach House e para os Beach House

De regresso ao que podia ser uma das suas casas, Beach House atuam no Coliseu dos Recreios com tanto para oferecer, incluindo o seu mais recente álbum 7.

De volta a Portugal e cheios de boa vontade, os Beach House atuaram no Coliseu dos Recreios numa quente noite de Setembro. Trazendo na algibeira o recente 7, lançado ainda em maio deste ano, incluíram no alinhamento sete músicas deste, assim como muitas das suas mais conhecidas. Com uma breve introdução, Victoria Legrand e Alex Scally, acompanhados pelo seu atual baterista de digressão, James Barone, iniciaram o que viria a ser uma atuação de se lhe tirar o chapéu. Após uns segundos onde se puderam ver de relance as suas caras, como quem dá umas rápidas boas vindas, o concerto submergiu na penumbra, clareado só por uma tela branca onde esmoreciam as cores. Ao alumiar tanto a harmonia das suas músicas como a sala de espetáculo, a tela deixava aos artistas, em contraluz, apenas o seu contorno definido.

Beach House no Coliseu
Beach House no Coliseu dos Recreios (© Inês Silva, Altamont)

Não por uma questão de tempo, mas por talvez pretenderem dar lugar ao que realmente ali interessava, ainda uma música não terminara e já a seguinte estava a ser preparada. Victoria Legrand, sempre entregue ao teclado, o corpo praticamente imóvel durante todo o tempo em que cantava (mas compondo de vez em quando o cabelo), deixava que transparecesse da voz uma energia tão sentida e integrada que funcionava como um outro instrumento. Já Alex Scally, raro foi o momento em que não sacudiu a cabeça ao som da música.

Esta inconfundível voz, acompanhada das precisas, ou por vezes difusas, notas da guitarra de Alex Scally, ao som da proeminente batida da bateria, transmitia uma sonoridade rica e elaborada. Aproveitando-se talvez de um público de olhos fechados, para melhor abrir os ouvidos e a mente, os Beach House, em jeito de truque de magia que nos deixa perplexos, desejosos de descobrir a mecânica da ilusão, deixavam que o som fosse penetrando devagarinho em nós, sem que disso estivéssemos plenamente cientes.

Beach House no Coliseu
Beach House no Coliseu dos Recreios (© Inês Silva, Altamont)

A partir de “Dark Spring” a tela começou a deixar de ter apenas uma cor, passando a estar preenchida de inúmeros brilhantes que pareciam estrelas no céu. Mais tarde, como em “L’Inconnue”, apareceram sombras de Victoria ou, na tanto esperada “Space Song”, projeções da guitarra e bateria. Noutras, eram formas ou símbolos. Tudo estava deliberadamente montado para nos proporcionar a experiência e transmitir a mensagem que é a música dos Beach House.

“Drunk in L.A.”, onde as palavras foram mais arrastadas e, portanto, mais declamadas do que cantadas, foi uma das músicas que relembrou ser o concerto, de facto, real. Começou a existir, entre as músicas, mais interação de Victoria Legrand com o público. Soaram então fragmentos de conversa como “Are you okay?” ou até mesmo uma ou outra graça ou confidência: “This is a crazy room but that is perfect, we wouldn’t want it any less stranger”.

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Dignos de nota os gestos que Victoria Legrand fazia com a mão em “10 Mile Stereo”, como que a explicar a música, orientando a plateia. Também as diversas luzes que oscilavam em direção ao público em “Lemon Glow”, intensificando o contraste entre serenidade e agitação e agravando a dúvida sobre se devíamos acompanhar a letra, trautear a guitarra ou assinalar a bateria. Independentemente da escolha, o eco e vibração do teclado estavam constantemente presentes.

Finda a imensamente aplaudida “Myth”, terminados os muitos agradecimentos, Victoria Legrand afirmou que “love will grow over the years, and we love love”. E os Beach House remataram um dos melhores concertos do ano com “Dive”, escolhida a dedo para nos lembrar o quanto somos feitos para submergir no infinitamente grande.

Agradecemos a Inês Silva e à Altamont a sua reportagem fotográfica do evento, da qual incluímos aqui uma pequena amostra.

"Crazy Room" pelos Beach House e para os Beach House
  • Carolina Ferreira - 92
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