Berlinale 67 (Dia 6): Kaurismaki, enquanto há vida, há esperança!

‘The Other Side of Hope’, do finlandês Aki Kaurismäki é o filme do dia. Não se fala de outra coisa senão do favoritismo desta comédia agridoce sobre os refugiados e da divertida conferência de imprensa.

The Other Side of Hope
Os dois heróis desta comédia agridoce.

The Other Side of Hope era uma filme muito aguardado e o ambiente dificilmente poderia estar de outra maneira, já que Aki Kaurismäki é um daqueles realizadores especializado em entusiasmar jurados, critica e público, principalmente nos festivais. Num estilo que oscila entre a tragédia e a comédia, o realizador finlandês há mais de 30 anos que nos vai ‘entretendo’ com as suas paródias sérias, com um humor fino e subtil, sobre as grandes questões da sociedade europeia ocidental, e em particular sobre a sua Finlândia natal.

Vê trailer de: The Other Side of Hope 

Este seu novo filme também não podia ser mais oportuno, relativamente à causa dos refugiados na Europa. E se Kaurismäki começou como uma trilogia portuária com Le Havre, dá-lhe agora uma espécie de continuidade com este The Other Side of Hope, um filme mais centrado igualmente sobre a questão da imigração clandestina e agora sobre os pedidos de asilo político dos refugiados.

The Other Side of Hope
O drama dos refugiados que pedem asilo político.

The Other Side of Hope, é uma pequena fábula sobre a tolerância, que conta o encontro casual, entre um comercial de meia idade apaixonado pelo poker, que entretanto mudou de vida e agora é dono de um restaurante; e de um jovem vindo da Síria, que pede asilo político às autoridades finlandesas. Embora no início a relação não seja a mais cordata, os dois homens tornam-se amigos e ajudam-se, na situação em que o jovem sírio está angustiado por causa do desaparecimento da sua irmã, que permaneceu no Médio Oriente.

Há boa música mas também dança de salão.
Há boa música mas também dança de salão.

Em The Other Side of Hope, o realizador finlandês construiu com aquele seu jeito descontraído e inteligente, um filme notável, divertido e político sobre a sociedade contemporânea, que é acima de tudo um exercício de humanismo, comovedor e afirmativo de uma causa que preocupa a todos. A história de vidas cruzadas serve no entanto, para Kaurismäki nos alertar e a todas as pessoas de bem e com um certa ética e humanismo, que se podem desenvolver acções individuais mais fortes e eficazes que as que praticam o sistema ou as instituições. 

The Other Side of Hope
O actor Sakari Kuosmanen cantou na conferência de imprensa.

Se Fogo no Mar, de Gianfranco Rossi, o Urso de Ouro do ano passado ia pelo caminho da denúncia e os protagonistas eram um colectivo dos refugiados que chegam a Lampedusa e os habitantes da ilha, The Other Side of Hope, é uma história de dois heróis comuns: um jovem sírio, cujo rosto, coberto de negro, emerge do carvão, — numa das imagens mais bonitas do filme — e um homem normal e simples, que só quer estar bem com ele próprio. 

Além de uns notáveis diálogos, de uns actores fabulosos The Other Side of Hope possui uma excelente banda sonora de country finlandês tocada por bandas ao vivo, que acompanha o ritmo narrativo do filme e cuida das emoções. A propósito da música, um dos grandes momentos deste dia foi quando o actor Sakari Kuosmanen, cansado de não lhe fazerem perguntas, decidiu cantar (e bem) um belíssimo tango finlandês, em plena conferência de imprensa de The Other Side of Hope. Choveram as palmas!

JVM em Berlim

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *