Berlinale 67: T2 Trainspotting, um hino ao passado e ao cinismo do presente
Apresentado fora da competição oficial, ‘T2 Trainspotting’, de Danny Boyle mais do que uma sequela é um grande hino ao passado e uma cínica reflexão sobre o presente. O que não deixa por isso de ser um filme positivo e de puro entretenimento. Estreia a 23 de Fevereiro.
Para fazer T2 Trainspotting, Danny Boyle e o argumentista John Hodge foram buscar inspiração ao romance Porno, de Irvine Welsh, a sequela, cerca de dez anos depois de Trainspotting. Conseguiram juntar os mesmos actores, vinte anos mais velhos (Ewan McGregor, Ewen Bremner, Jonny Lee Miller, Robert Carlyle) e construíram uma obra cinematográfica surpreendente de inteligência e vigor, que vai fazer decerto uma boa temporada.
Que aconteceu aos quatro delinquentes de Trainspotting, o filme de culto de Danny Boyle (1997), cerca de 20 anos depois? Renton (Ewan McGregor), afinal sempre constituíu família, comprou um carro, e a máquina de lavar, como dizia no final do filme original? Ou gastou o dinheiro da venda dos muitos quilos de heroína, que roubou aos seus amigos? T2 Trainspotting vai responder de uma forma positiva para os quatro personagens, a estas questões. E explicar a razão do nostálgico regresso de Renton, ao lugar onde parece ter sido feliz.
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Vindo de Amesterdão e depois de um susto com a saúde, Renton (Mcgregor), regressa ao seu bairro de Leith e muitas coisas acontecem, sem que ele consiga controlar. À primeira vista Edimburgo mudou bastante, mas para os seus amigos de juventude, as coisas continuam mais ou menos na mesma. Parece mesmo que o esperam, para acertarem contas: o cínico Sick Boy (Miller), recebe-o com um soco, Begbie (Carlyle), foge da prisão e persegue-o para se vingar. Renton chega mesmo a tempo de salvar Spud (Bremmer), um eterno sonhador.
T2 Trainspotting começa logo de uma forma alucinante e vai crescendo com o seu tom de comédia, vagamente entre o policial-thriller, para se transformar em mais do que uma mera sequela do filme original. Diria mesmo, que é um bonito ensaio sobre a vida, um filme cínico e existencialista sobre o mundo moderno e o sentido de viver. Sobretudo é um filme sobre o tempo, o passado e o presente: os comboios já não passam, porque a estação já não existe, o bar da familia de Sick Boy (Miller) está às moscas e há quem já precise do Viagra.
Juntamente com uma extraordinária banda sonora que desempenha mais uma vez um papel fundamental em T2 Trainspotting, está um elenco extraordinário e — tal como no primeiro Robert Carlyle brilha mais que os outros — em grande forma, com Anjela Nedyalkova (Verónika), a jovem prostituta búlgara, que Sick Boy protege, a brilhar e a dar réplica aos veteranos.
Danny Boyle e a fotografia Anthony Dod Mantle regressam às imagens, aos efeitos do passado e às cores fortes e vivas dos videoclips da britpop e da cool Britannia, que tanto encheram o nosso imaginário visual de há vinte anos, mas que funcionam muito bem no filme.
Guia das Estreias Cinema de fevereiro 2017
T2 Trainspotting tem ainda um ritmo forte e uns diálogos imprevisíveis — sempre com aquele sotaque escocês que às vezes precisava de legendas — numa alucinante viagem pelo escuro submundo de proxenetas e prostitutas, e também do empreendedorismo, — ironicamente apoiado pelos fundos da UE — que mesmo com o Brexit à porta ainda pode ajudar a salvar os personagens. É no meio deste caos que os quatro amigos, buscam um sentido para a sua vida (Chose a Life!). Estreia a 23 de Fevereiro.
JVM em Berlim