Carol | O sedutor glamour de Carol Aird

 

Na figura titular de Carol, as palavras proferidas são tão importantes como o estilo das suas roupas, a sua linguagem é a esplendorosa elegância das modas dos anos 50.

 

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O início do filme, tal como o livro de Patricia Highsmith, fixa-se fortemente na perspetiva subjetiva de Therese Belivet, sendo que o primeiro encontro entre as duas futuras amantes é observado como uma memória da aspirante a fotógrafa. É em conjunto com Therese que experienciamos o seu primeiro vislumbre da mulher que lhe iria alterar para sempre a vida, e, tal como para ela, é difícil para uma audiência afastar o seu olhar do esplendor de Carol Aird. Sandy Powell sabia que para esta primeira impressão, o casaco de pele de marta loira usado por Cate Blanchett tinha de ser perfeito, opulente e luxuriante sem ser demasiado vistoso ou cair no mau gosto. Uma cor clara foi imediatamente evidente, mas nunca um branco descarado, algo elegante e suave numa silhueta corpulenta e que convida ao toque. No final, o casaco teve de ser precariamente criado a partir de inúmeras peças da época, e que, todos os dias de filmagens, começava a se desfazer devido à fragilidade dos materiais vintage, é possivelmente a mais memorável peça de vestuário do filme.

Depois desse encontro, é precisamente uma peça de vestuário que permite às duas amantes voltarem a colidir no seu percurso de vida, um par de luvas deixado por Carol no balcão atendido por Therese. Estas luvas, pelo seu luxo e qualidade são um símbolo pulsante de um mundo de privilégios, assim como representam uma faceta extremamente conservadora na moda feminina da época, imediatamente criando uma imagem de Carol como uma figura que vive na prosperidade da alta sociedade, ao mesmo tempo que é aprisionada pelas suas constritas morais e valores.

As roupas de Carol são uma marca inegável do seu estatuto económico, imediatamente delineando a sua figura como uma criatura de um mundo de privilégio muito distante da realidade de uma jovem empregada de balcão. Há uma exatidão no seu glamour, uma cuidadosa construção na sua aparência que é a reflexão do seu estatuto e do seu ambiente como socialite suburbana. No entanto, quando se encontra a sós na sua road trip com Therese, esta construção torna-se mais relaxada. É neste ambiente mais descontraído e removido dos códigos sociais do seu quotidiano, que, por exemplo, vemos Carol envergar calças e padrões axadrezados mais coloridos e vivos, como se o seu guarda-roupa funcionasse como um barómetro da sua condição emocional.

Mais do que seguir as gloriosas e exageradas silhuetas popularizadas pela Casa Dior e sua característica ideia de opulência e feminilidade, os figurinos de Cate Blanchett devem muito mais à estética da Chanel aquando do período em que a narrativa decorre. Linhas mais simples, direitas, sem a rigidez militarista dos anos 40, mas sem as proporções fantasiosas da Dior. Outra forte referência na criação das roupas de Carol foi Hattie Carnegie, uma estilista que teve entre os seus sucessos o desenho de uniformes militares femininos em 1950, de novo realçando a ligação do mundo de Carol ao pós-guerra.

L.P. Harvey em tempos escreveu que o passado é outro país, e Powell na sua exatidão e estudo parece ter seguido este pensamento na criação deste guarda-roupa. A sua precisão foi tão grande que, para pesquisar os estilos sempre atualizados de Carol Aird, a figurinista usou como referência as revistas da Vogue e da Harper’s Bazaar dos exatos meses em que a narrativa decorre. Esta fusão de procura pela elegância específica da época com uma fuga aos clichés desse mesmo período temporal é uma componente essencial do charme dos visuais de Carol.

Essa fuga aos clichés não se manifesta somente nas silhuetas dos conjuntos mais glamourosos de Cate Blanchett, mas também em peças como o robe usado por Carol na sua viagem natalícia com Therese. Numa cena do início desta sua road trip, vemos as duas mulheres a maquilharem-se e a experimentar perfume, um momento carregado de sensualidade, mas ao mesmo tempo inocente. As duas mulheres apresentam-se em roupas para dormir, e nesse momento as suas diferenças sociais não são tão notórias. A figurinista evitou vestir Carol num robe de sedas ou veludos, preferindo algo mais simples em tons terrenos, pouco ostentoso e fortemente prático com um leve tom da masculinização feminina dos anos 40. No entanto, a peça ganha uma carga imensamente erótica numa cena posterior, onde o desapertar deste mesmo robe e o subtil revelar da nudez de Carol, são uma explosão de carga sexual nesta comedida e fria narrativa romântica.

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Uma parte essencial do apelo deste filme, assim como da figura de Blanchett é o modo como através da sua delicada elegância emerge uma curiosa sensualidade e até um suave erotismo. Em conjunto com a atriz, Sandy Powell tentou conceber uma visão de desejo específico da personagem e da época, dando relevância ao pescoço e aos pulsos como zonas erógenas, adornando-os com pulseiras, ou concebendo conjuntos em que suaves lenços de seda conduzem o olho da audiência ao pescoço da atriz.

Seguindo esta linha de pensamento, há que salientar um dos figurinos individuais da personagem, um vestido de cocktail cinzento com um casaco a condizer que é envergado por Carol Aird aquando do seu primeiro “encontro” com Therese e, subsequentemente para uma festa em casa do patrão do seu marido. Com o tecido luxuoso do vestido, contrastado com a suavidade escarlate de um lenço com um leve padrão, um vistoso e elegante alfinete de peito, uma manicura impecável e uma geral aparência de esplendorosa beleza, é fácil perceber como a sua figura desperta paixão no coração de Therese. Acrescentando-se a isto, quando aparece vestida neste mesmo vestido de cocktail para a festa ao lado do seu marido, Carol destaca-se como uma ovelha negra ao não envergar roupas mais formais, conseguindo, mesmo assim, ser a mulher mais glamourosa à vista e brilhando com a intensidade das maiores estrelas de cinema da época.

Para descobrires o visual da outra protagonista deste filme, segue para a próxima página.

 

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