Cinema Europeu? Sim, Por Favor | A Pele Onde Eu Vivo

 

Nosso vizinho e (muito) bom rapaz, desde cedo que o Cinema Espanhol nos habituou a uma qualidade crua. Quase monopolizado por Luis Buñuel desde a era de ouro, a produção espanhola começou a abrir o leque a novos realizadores especialmente a partir da década de 75, com o surgimento do cinema de Pedro Almodóvar, que veio reinventar a arte hispânica, abrindo o caminho para cineastas como Bigas Luna, Fernando Trueba, Alejandro Amenábar ou Juan Antonio Bayona.

Conhecido especialmente devido aos títulos Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), Fala com Ela (2002) e Voltar (2006), Almodóvar é original de Calzada de Calatrava, tendo partido para Madrid em 1968, onde começou por vender artigos usados no famoso mercado El Rastro. Não estudou cinema, começou do zero e é um dos melhores autodidatas europeus.

a pele onde eu vivo

A Pele Onde Eu Vivo (La piel que habito, no título original) estreou nos cinemas em 2011 e é o penúltimo filme do realizador, até à data. Conhecendo ou não o cinema de Almodóvar – cujos temas principais têm sempre um centímetro de difícil digestão: seja pela divagação entre presente e passado, plot twists, o uso visual do sangue ou a perversão sexual – a película protagonizada por Antonio Banderas e Elena Anaya consegue surpreender qualquer espectador.

Antes de espreitar este corpo transfigurado, há que aceitar de imediato: o argumento é deliciosamente desumano. Não há como combater a sensação de repulsa, mas no entanto é difícil não ficar encantado pela beleza – tanto da fotografia, como da personagem Vera.

a pele onde eu vivo

Espreita também a nossa apreciação do vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011

No primeiro ato do filme conhecemos um cirurgião-plástico e investigador (Robert) empenhado numa pesquisa sobre a pele humana, cujas experiências são aplicadas numa rapariga à qual é difícil apontar algum defeito estético. Todo o processo tem algo que suspeito – começando pelo facto de Vera estar trancada e ser vigiada constantemente, passando pela obsessão de Robert e acabando nas histórias do passado que a sua mãe e empregada acaba por revelar.

Se até agora tudo nos soa a falsidade e a um esturro muito bem esturrado, não é por acaso. No segundo ato do filme, marcado por flashbacks ao passado, tudo toma um rumo pseudo-lógico, aceitando que, no entanto, a lógica nada tem a reclamar ao longo da narrativa. Conhecemos as intenções verdadeiras de Robert – as suas mágoas, angústias e perversões – e a verdadeira alma de Vera, a sua luta e força interiores, que, no fim, irão ser extremamente úteis.

a pele onde eu vivo

Com argumento do próprio realizador e do seu irmão Agustín Almodóvar, A Pele Onde Eu Vivo foi baseado numa obra do escritor francês Thierry Jonquet, intitulada Tarantula. Além do romance de Jonquet, Almodóvar admite ter procurado inspirações cinematográficas no filme Les yeux sans visage (1960) de Georges Franju, cofundador da cinemateca francesa em 1937.

 

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