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Cinema Europeu? Sim, por favor | Portugal Contemporâneo

Felizmente pertencemos ao autêntico cantinho a que chamamos Europa e, como tal, o nosso cinema europeu insere-se na presente rubrica – e ainda bem.

O caso do cinema português funciona como uma espécie de amor-ódio, que nos faz tanto renegar o que é exibido como, ao dar uma hipótese ao filme certo, nos apaixonarmos profundamente.

A velha história de argumentação com débeis exemplos que demonstram que o cinema europeu, e português, é mais fraco, está fora de moda. Não vale a pena tentar. A nossa arte é tão boa como qualquer outra. Infelizmente, muitas das vezes, o que falha é a distribuição, e nem todos os filmes chegam ao público da mesma forma – o que provoca uma seleção muito restrita e um difícil acesso ao que se faz por cá.

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Temos um património colossal como a vida de Manoel de Oliveira, a ambição de Paulo Rocha, o carisma indiscutível de Fernando Lopes e a mente crítica (e divertida) de João César Monteiro. Mas, além do talento clássico que abriu as portas para o mundo, a verdade é que esse dom não estagnou, e está bem vivo. Estes são os 6 filmes portugueses do novo milénio que tens mesmo de ver.

TABU, (Miguel Gomes, 2012)

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© 2012 – Adopt Films

Além da natureza incansável e do dom de mente absolutamente refrescante e interessante, Miguel Gomes é um dos realizadores mais inteligentes de Portugal. Estreou este ano, na Quinzena dos Realizadores, em Cannes, o seu último projeto, “As Mil e Uma Noites” e é o autor do aclamado “Aquele Querido Mês de Agosto“, de 2008.

Salientamos, no entanto, o seu título “TABU”, uma história de amor e crime tão subtil e deliciosa como um toque físico do nosso amor proibido. Filmado a preto e branco e no formato 4/3, a película é uma coprodução de Portugal, Alemanha, Brasil e França, e conta com pouco diálogo.

Sobre a vida de uma idosa temperamental e fracionado em quatro capítulos (‘Prólogo’, ‘Paraíso Perdido’, ’Paraíso’ e ‘Epílogo’), a maior parte do filme é narrado por uma voz-off de uma forma muito pouco usual, que nos remonta para as obras de Truffaut e nos hipnotiza a mente.

Com um estilo inquestionavelmente irreverente e uma capacidade feroz de apostar naquilo em que acredita, Miguel Gomes, de 43 anos, é uma referência obrigatória.




ALICE (Marco Martins, 2005)

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Selecionada para representar o nosso país nos Óscares de 2005, “Alice”, primeira longa-metragem de Marcos Martins, com banda sonora composta por Bernardo Sassetti, venceu o prémio Prix Regards Jeunes do Festival de Cannes em 2005 e foi apreciada pelos críticos de todo o mundo.

O realizador, que até à data havia estagiado na produção de filmes de Wim Wenders, Manoel de Oliveira e Bertrand Tavernier, colaborado com João Canijo como assistente e realizado spots publicitários, revelou-se uma surpresa e referência para o público.

Em “Alice”, drama cuja ação se passa em torno de um pai que procura a filha desaparecida misteriosamente no infantário, é criado um efeito de representação magistral que dispensa a ação e se move a um ritmo lento que se revela indispensável para a intenção da narrativa – representar o desespero da solidão e o vazio da melancolia. Escrito e realizado por Marcos Martins, “Alice” é uma película sem igual no panorama nacional.

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E AGORA LEMBRA-ME (Joaquim Pinto, 2013)

e agora lembra me
© C.R.I.M. Produções

O filme de Joaquim Pinto segue o próprio realizador na luta contra o HIV e o vírus da hepatite C, num ano de ensaios com medicamentos experimentais iniciados em 2011. Funcionando como um “caderno de apontamentos”, Pinto constrói uma retrospetiva à vida e ao significado da existência com base na sua condição física e em tudo o que experienciou desde que se lembra.

Se ter sido o filme escolhido pela Academia Portuguesa de Cinema para representar Portugal na candidatura aos Óscares de 2015 não desperta curiosidade suficiente de espreitar o documentário,E Agora Lembra-me” vai definitivamente surpreende-lo apenas pela sua história.

Sobre “o tempo e a memória, as epidemias e a globalização, a sobrevivência para além do expectável, a dissensão e o amor absoluto”, “E Agora Lembra-me” foi destacado em vários festivais de cinema europeu, arrecadando prémios como Grande Prémio Cidade de Lisboa no DocLisboa, o Prémio de Melhor Filme no Festival de Valdivia (Chile) e o Grande Prémio nos Encontros Internacionais do Documentário de Montréal (Canadá).




NO QUARTO DA VANDA (Pedro Costa, 2000)

o quarto da vanda
© Contracosta Produções

Empregando o muito querido português ‘docuficção’ – que mistura ambos os géneros numa génese para além do singular – o filme “No Quarto da Vanda” é o segundo filme da “Trilogia das Fontainhas” (“Ossos”, “No Quarto da Vanda” e “Juventudeem Marcha”), conjunto de trabalhos que pretendem, inspirados na antropologia visual, explorar a injustiça social portuguesa.

Com um registo despojado de floreados estéticos, a ação centra-se na história de uma jovem toxicodependente que se sente marginalizada e isolada do mundo, retratando a modernidade nacional no quadro mundial – e homenageando a pureza do cinema.

Pedro Costa, conhecido como o tipo inovador que filma com pequenas câmaras digitais, arrecadou em 2002 o Prémio France Culture para o Cineasta Estrangeiro do Ano, no Festival de Cannes e o prémio de melhor longa-metragem do sexto Festival Internacional de Cinema de Múrcia, com o seu último título “Cavalo Dinheiro”.




JOSÉ E PILAR (Miguel Gonçalves Mendes, 2010)

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© Jumpcut

Seguindo o dia-a-dia do casal em Lanzarote e Lisboa, na sua casa e em viagens de trabalho pelo mundo, “José e Pilar” é um retrato encantador de um autor durante o processo de criação e da relação do casal empenhado em mudar o mundo – ou, pelo menos, em torná-lo melhor.

Demonstrando que “tudo pode ser contado de outra maneira”, o génio literário prova que a simplicidade pode fazer parte do mundo artístico e não só é compatível como desejável. Filmado entre 2006 e 2009, a par da conceção do romance “A Viagem do Elefante”, o documentário é uma ode ao amor e à eternidade a dois.

José Saramago foi uma das mais brilhantes mentes nacionais, e o filme de Miguel Gonçalves Mendes não desilude o espectador que o deseja conhecer e compreender.




SANGUE DO MEU SANGUE (João Canijo, 2011)

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Escrito e realizado por João Canijo, “Sangue do Meu Sangue” relata a vida de uma família no momento em que a tragédia bate à porta, firme e hirta, pronta a imiscuir-se em todos os seus rumos. É um murro no estomago em forma de argumento e uma chapada seca a todos os que recusam a abraçar o cinema nacional, e até europeu.

“Sangue do Meu Sangue” participou, até à data, em 46 festivais internacionais – 7 dos quais a obra de João Canijo foi objeto de Retrospetiva ou Homenagem –, tendo recebido uma série de prémios, como o da Crítica Internacional em San Sebastian, o do Público no Cinema d’Autor em Barcelona, o Melhor Filme em Linz e Curitiba e o Grande Prémio em Miami (para além de muitos outros prémios em Portugal e de ter sido o escolhido para nos representar dos Óscares).

És fã de algum destes filmes? Qual o teu filme de cinema europeu ou cinema português favorito?

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