Cinema vs Televisão | O Veredito

 

Após considerar os argumentos expostos ao longo das últimas semanas, creio que estamos finalmente em condições de chegar a uma conclusão definitiva sobre esta questão. Qual é, portanto, a melhor forma de entretenimento, o cinema ou a televisão?

Seja qual for o desfecho do combate, uma coisa parece ser certa. A televisão evoluiu de forma tremenda nas últimas duas décadas, ganhando consequentemente um nível de reconhecimento, tanto por parte dos profissionais de cinema como do público, capaz de rivalizar com o cinema. Se antes a TV era como uma segunda divisão e o cinema como a primeira, ao estilo de uma liga de futebol europeia, o modelo agora vigente aproxima-se bastante mais a uma liga como a NFL, dividida em duas conferências de igual valor.

Devemos portanto caracterizar a afirmação “a televisão hoje em dia é melhor do que o cinema” como produto de um exagero motivado pelo crescimento vertiginoso do meio nos últimos anos, especialmente quando o comparamos ao cinema cujo crescimento tem sido claramente mais lento. A questão, no entanto, é que a sétima arte não pode acompanhar o crescimento galopante da sua irmã mais nova simplesmente porque não tem tanto espaço para crescer. Afinal, não seria justo concluir que uma menina de 14 anos será mais alta do que a sua irmã de 18, somente porque a mais jovem tem crescido mais depressa nos últimos dois anos. Agora que a televisão atingiu um patamar artístico francamente elevado, a sua evolução será certamente forçada a abrandar.

TV

Ainda assim,  devemos admitir que as diferenças entre as duas artes atualmente já não estão associadas à qualidade, mas sim aos formatos e ás suas qualidades e defeitos intrínsecos. Tanto uma como a outra têm vantagens e desvantagens que se refletem nos seus produtos e na forma como nós, o público, desfrutamos deles.

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No fundo, a diferença fundamental entre os dois meios é o tempo que levam para contar uma história. A narrativa longa do pequeno ecrã permite aos seus artífices construir mundos, tramas e personagens bastante mais detalhados e completos do que seria possível fazer no formato de filme. O tempo também leva os espectadores a identificarem-se mais com os personagens televisivos do que com os protagonistas de filmes. Tal como na vida real, não é a mesma coisa passar duas horas a conhecer alguém do que cem horas. De certa forma, o tempo é o fator mais determinante em qualquer relação interpessoal, mesmo tratando-se de interações entre pessoas reais e virtuais. O ritmo pausado da série televisiva é igualmente responsável pelo forjamento do seu caráter social, na medida em que milhões de pessoas discutem semanalmente os eventos fictícios das suas séries preferidas.

Sem embargo, tanto na vida real como na ficção, o tempo é uma faca de dois gumes. O tempo, tal como o ouro ou o petróleo, é um tesouro tão escasso como precioso. Embora seja certo que as séries, ao investir mais tempo nas suas narrativas, são capazes de fazer coisas que não estão ao alcance dos filmes, talvez a maior vantagem do cinema provenha justamente deste fator. Enquanto ver uma obra prima da televisão como Os Sopranos requer o sacrifício integral de inúmeros fins de semana, Tudo Bons Rapazes (1990) pode ser visto com os amigos ou com a família num sábado à noite enquanto se come uma pizza e um gelado. Ser um fã de cinema é fácil e agradável, enquanto ser um fã de séries requer um investimento considerável de tempo, algo ao alcance somente dos mais dedicados e/ou desimpedidos.

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Os Sopranos Cinema vs Televisão

 

No final das contas, parece-me justo declarar um empate neste duelo entre titãs. No que diz respeito à qualidade, se existe verdadeiramente uma diferença entre os meios, então esta é mínima e, de qualquer maneira, diminui a cada ano que passa. A era de domínio absoluto do cinema pertence ao passado, e deve lá permanecer.

Isto não quer dizer que o cinema esteja acabado. Pelo contrário. Fizeram-se muitos filmes bons em 2014. Basta ver a seleção de 2015 para perceber  que o cinema ainda tem muito a dar-nos. Uma conclusão mais sensata seria que tanto cinema como televisão são capazes de produzir grandes obras de entretenimento, sendo meios com qualidades e defeitos diferentes.

No fundo, o grande vencedor do combate é o público, como sucede habitualmente em casos semelhantes de prestação de serviços. Habitualmente, a competição leva à excelência, e nenhum setor é mais competitivo que a indústria do entretenimento. Melhor para nós, já que desta forma podemos disfrutar a cada ano que passa de novos filmes e séries fabulosas.

Bruno Vargas

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