Óscares 2018: Todos os Filmes, em análise

[tps_header]

Os Óscares de 2018 são já este fim-de-semana, dia 4 de Março, como tal, para que não percas nenhum dos nomeados na corrida, preparamos-te um pequeno guia.

[/tps_header]

A 90ª edição da Cerimónia de entrega dos prémios mais cobiçados e ambíguos de Hollywood, os Óscares, é já na madrugada deste domingo, 4 de Março. A lista dos nomeados é vasta, ao longo das várias categorias. Desta forma, para preparámos-te um resumo das nossas análises dos filmes na corrida, para que estejas a par de tudo no domingo! A ordem pela qual colocamos os nomeados foi meramente aleatória. Atenção este artigo pode conter spoilers.

EU, TONYA  (<- clica nos títulos, para as críticas completas)

 

eu tonya

NOTA MHD: 79%

Apesar de estar nomeado a três Óscares (Melhor Atriz, Melhor Atriz Secundária e Melhor Montagem), “Eu, Tonya” está longe de ser o tipo de docudrama de prestígio que normalmente se associa à Awards Season. Respeitabilidade seca é algo que este filme não tem, o que é fantástico, mesmo quando a sua ambição narrativa e tonal o leva a píncaros de podridão ideológica e ética. Um design sublimemente feio e as prestações insuperáveis de Margot Robbie e Sebastian Stan elevam o filme acima de um guião pejado de fragilidades. A prestação de Margot Robbie foi, sem dúvida para nós, o melhor elemento do filme. Consideramos o pior a linha narrativa, cujos rasgos de desumanidade no humor e estrutura do filme são detestáveis. Num contexto mais técnico,  apesar das cenas de patinagem serem triunfos exuberantes de trabalho de câmara, os efeitos especiais que substituem a cara de uma patinadora profissional pela de Margot Robbie nem sempre são muito convincentes.




THE FLORIDA PROJECT

 

The Florida Project

NOTA MHD: 84%

Depois de “Tangerine”, Sean Baker regressa com mais um conto sobre comunidades subrepresentadas no Cinema, e transcende-se. “The Florida Project” é um autêntico, divertido e devastador retrato de um quotidiano dominado pela ironia e pela pobreza. Baker consegue, de facto, transmitir autenticidade através da sua câmara. Um dos pontos fortes do filme, é a atriz Brooklynn Prince que, com apenas 7 anos, nos destrói de maneira inimaginável. O final poético é, de igual forma, um dos melhores dos últimos anos. Apesar de termos atribuído uma pontuação bastante positiva, reconhecemos que “The Florida Project” tem um ritmo lento, e que a ausência de um fio narrativo pode não funcionar para todos os espectadores. Ainda assim, somos da opinião, que o filme merecia muito (muito) mais, do que a mera nomeação de Willem Dafoe.




OLHARES LUGARES

 

olhares, lugares

Nota MHD: 82%

Nomeado para os Óscares de Melhor Documentário, “Olhares Lugares”, da quase mítica Agnès Varda e de um jovem artista urbano chamado JR, é uma deliciosa viagem pela França profunda e um filme singelo que questiona a natureza e a essência das imagens. O documentário lida, curiosamente, com uma série de temas sensíveis que vão desde a agricultura ao desemprego, da vida comunitária à esperança, da camaradagem à amizade, da beleza à identidade de géneros…sempre com uma infinita poesia e pura magia. O melhor foi a reflexão de Varda, mas sobretudo a revelação internacional das fotografias e do talento de um artista extraordinário como JR. Por outro lado, os diálogos entre Varda e JR, notam-se que são por vezes ensaiados, mas mesmo isso não tira o brilho deste filme feito a quatro mãos.




LOVELESS: SEM AMOR

 

Loveless: Sem Amor

NOTA MHD: 88%

Inspirado de certa forma em “As Cenas de um Casamento”, de Ingmar Bergman, o filme russo “Loveless: Sem Amor”, de Andrey Zviagintsev — o realizador de “Leviathan”, filme nomeado para os Óscares 2014 como Melhor Filme em Língua Estrangeira, aliás como este agora em 2018 —  é um excelente drama familiar à volta do desaparecimento de um rapazinho de 12 anos, que reage ao violento divórcio dos pais. É sobretudo um filme sobre o amor e desamor, crises de adolescência, responsabilidades dos pais, o papel da paternidade na actualidade (e da constante procura do individual dentro de uma familia), os objetivos e frustrações pessoais, a tomada de certas decisões inconsequentes, que por vezes têm efeitos colaterais. Desta forma, consideramos o melhor o realismo na medida certa que não cai em clichês, e que vai jogando com a imprevisibilidade. O pior é mesmo o facto de não se pode viver sem amor, mesmo naquela Rússia gelada e sem sentimentos.




TODO O DINHEIRO DO MUNDO

 

Todo o Dinheiro do Mundo

NOTA MHD: 61%

Cinco anos depois de “O Conselheiro”, Ridley Scott presenteia-nos com uma nova narrativa “contemporânea” e, volta a não sair-se bem. Este “Todo o Dinheiro do Mundo”, ainda que dotado de alguns momentos de notável entretenimento, falha em quase toda a linha por não saber aquilo que quer ser, nem onde quer chegar. Um filme quase nulo que não merecia as fabulosas prestações de Michelle Williams e Christopher Plummer, que são o melhor do filme. Plummer representa a única presença de “Todo o Dinheiro do Mundo” na 90ª edição dos Óscares.




A FORMA DA ÁGUA

 

A Forma da Água

NOTA MHD: 85%

“A Forma da Água” é o filme com mais nomeações para os Óscares do ano, e é também o mais recente triunfo de Guillermo del Toro, um realizador cuja paixão pela sua arte é inebriante. Através de referências a clássicos do cinema de outros tempos e um gosto pessoal que tende a celebrar o bizarro e o grotesco, del Toro conta-nos uma das mais belas e peculiares histórias de amor que agraciaram o grande ecrã nos últimos anos. Atores e criativos em topo de forma conferem ao projeto uma boa dose de puro virtuosismo cinematográfico capaz de elevar até o mais estrambólico projeto aos píncaros de excelência artística. Somos da opinião que o melhor é constituído pelos momentos em que todo o filme parece explodir em amor cinéfilo, quer seja o já referido número musical ou todos os momentos em que a câmara se aventura pelo ornamentado cinema, por cima do qual se situa o apartamento de Elisa. Enfim, fãs de del Toro deverão adorar. Quem já teima com o seu estilo pessoal devia ficar bem longe.




LINHA FANTASMA

 

linha fantasma

NOTA MHD: 96%

Debruçando-se sobre o tema do amor através de um melodrama Hitchcokiano passado no mundo da alta-costura inglesa dos anos 50, Paul Thomas Anderson assina aqui uma das suas mais extraordinárias obras-primas.“Linha Fantasma” protagonizado por Daniel Day-Lewis, Vicky Krieps e Lesley Manville, é uma obra-prima do mais alto calibre, tendo já sido indicado a 6 Óscares. As categorias em questão são as de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Ator, Melhor Atriz Secundária, Melhores Figurinos e Melhor Banda-Sonora Original. Se houvesse justiça em prémios de cinema, o filme certamente ganharia quase todos esses galardões.




THE POST

 

the post

NOTA MHD: 87%

The Post” é o mais recente filme a valer a Steven Spielberg uma nomeação para o Óscar Melhor Filme e a Meryl Streep uma indicação para Melhor Atriz. O cineasta que, sem sacrificar o seu usual estilo de sentimentalismo populista associado a virtuosismo em linhas clássicas, assina aqui um dos seus mais inteligentes trabalhos. As intenções políticas do projeto são óbvias e apresentadas sem grande nuance, mas não são por isso menos valiosas. Uma equipa técnica de veteranos do cinema de Spielberg e um elenco de luxo elevam o filme aos píncaros da excelência. O melhor foi de facto a cena do telefonema, que une cinco personagens em acesa discussão e termina com um dos momentos mais soberbos na carreira luminosa de Meryl Streep. A cereja no topo do bolo é o cafetam doirado com que a figurinista Ann Roth vestiu a atriz e que, de momento para momento, a faz parecer uma majestosa rainha ou uma figura enfezada no meio de uma montanha de tecido. Classicismo virtuoso de Hollywood no seu melhor!




MUDBOUND – AS LAMAS DO MISSISSIPI

 

mudbound

NOTA MHD: 78%

“Mudbound – As Lamas do Mississipi” é um ambicioso épico sobre duas famílias a sofrerem as pressões de uma sociedade preconceituosa na América dos anos 40. Nomeado em três categorias, o filme é um testamento ao talento e ambição da realizadora Dee Rees e, com sorte, levá-la-á a projetos maiores e onde os recursos sejam mais à medida do seu talento e vontade de lidar com temas difíceis. Um elenco excelente, uso inteligente de narração, belíssima cenografia e enorme sensibilidade humanista fazem deste um filme a não perder. A prestação vivida e cheia de silêncios carregados de significado com que Rob Morgan abençoa o filme, é, para nós, o melhor elemento do filme. “Mudbound – As Lamas do Mississipi” apenas peca pela duração, que é demasiado pequena para a densidade narrativa e ideológica da obra.




O GRANDE SHOWMAN

 

O Grande Showman

NOTA MHD: 68%

“O Grande Showman” é uma reinterpretação cinicamente idealizada da vida de P.T. Barnum que, apesar de tudo, é um musical pop energético e divertido. Hugh Jackman lidera um elenco muitas vezes desperdiçado num argumento pueril, mas o filme seria bastante melhor se Zac Efron estivesse no centro deste circo, e não o ator australiano famoso por interpretar Wolverine. Consideramos a espetacular cena em que Jenny Lind canta “Never Enough” o melhor do filme, mas, pelos vistos, discordamos da Academia, que nomeou o tema “This is Me” para a categoria de Melhor Música Original. O pior é mesmo o modo como “O Grande Showman” se tenta inocular de críticas negativas ao vilificar a figura de um crítico de teatro, acabando por redimir a personagem numa cena em que ele caracteriza hipoteticamente os feitos de Barnum como “uma celebração de humanidade” e quase admite que é incapaz de ter prazer no espetáculo.




JOGO DA ALTA RODA

 

Jogo da Alta Roda

NOTA MHD: 77%

Jessica Chastain e Idris Elba eletrizam o ecrã em “Jogo da Alta Roda”, o primeiro filme realizado por Aaron Sorkin. É uma obra que, apesar de bastante longa, se move com a energia e velocidade dos seus mais bombásticos diálogos. Enquanto longa-metragem, “Jogo da Alta Roda” é uma obra que tem tantos bons elementos como terríveis falhas, quer seja a nível textual ou formalístico. Como entretenimento cinematográfico, contudo, esta é uma jóia preciosíssima, nomeada para o Óscar de Melhor Argumento Adaptado. Apesar de este filme não ser tão ideologicamente complexo ou revelador como “Miss Sloane” do ano passado, Jessica Chastain consegue superar o seu trabalho nesse drama político, num papel muito parecido, com uma facilidade estrondosa. Já muitos a consideram uma grande atriz, mas já está na hora de reconhecermos que temos aqui uma verdadeira estrela de cinema. No entanto, o modo como o filme constrói e apresenta as suas personagens femininas, incluindo o desenvolvimento do perfil psicológico da protagonista, não nos encantou.




UMA MULHER FANTÁSTICA

 

Uma Mulher Fantástica

NOTA MHD: 83%

“Uma Mulher Fantástica” é uma história de resiliência feminina que, após ter ganho um Urso de Prata na Berlinale, é o filme que vai representar o Chile na corrida ao Óscar de Melhor Filme Numa Língua Estrangeira. Daniela Vega é formidável e eletrizante, e Lelio é um brilhante realizador criador e observador de personagens complexas e perfeitamente inesquecíveis. O que menos gostámos foi o modo como o filme praticamente só mostra Marina em tempo de crise é compreensível, mas frustrante num panorama em que é difícil encontrar histórias sobre indivíduos trans que não sejam odisseias de contínua vitimização. Como espetadores, sentimos que a queremos conhecer melhor e que a perspetiva do filme é limitada, estando a sua vida artística e profissional quase sempre relegada à periferia da narrativa. Enfim, um filme não pode ser tudo e querer contar todos os aspetos da existência das personagens em si contidas.




STAR WARS: OS ÚLTIMOS JEDI

 

Star Wars Os Últimos Jedi kit

NOTA MHD: 76%

“Star Wars: Os Últimos Jedi” subverte vários dogmas e procura romper em absoluto com o passado. O episódio VIII não rentabiliza o tempo e as suas personagens, e dá-nos ação com vários momentos épicos, mas menor substância do que seria desejável (continuamos sem respostas). Desta forma, assume riscos e subverte dogmas, podendo a sua ousadia ser confundida por muitos fãs com desrespeito pelo passado. Kylo Ren sai reforçado como a personagem mais interessante da nova geração. “Os Últimos Jedi” vive os seus melhores momentos quando tem no ecrã Luke, Rey e Kylo. Vários planos (Luke diante da armada da Primeira Ordem em Crait) e cenas (a colaboração entre Kylo e Rey, uma nave destruída à velocidade da luz e acompanhada por um silêncio letal) seguem direitinhos para o hall of fame de SW. Infelizmente, está mais próximo das prequelas do que da trilogia original. O humor sai por vezes ao lado, o período passado por Finn e Rose em Canto Bight acrescenta pouco.




A HORA MAIS NEGRA

 

A Hora Mais Negra

NOTA MHD: 61%

Em “A Hora Mais Negra”, Gary Oldman transforma-se em Winston Churchill e o realizador Joe Wright traz eletrizantes doses de criatividade formal a um filme de prestígio meio corriqueiro. Como acontece com muitos filmes biográficos que estreiam durante a temporada dos prémios de cinema, “A Hora Mais Negra” é vítima de um argumento demasiado simplista. Com isso dito, a atitude formalmente inventiva do seu realizador, e o virtuosismo latente a toda a equipa do filme quase que compensam todas as fragilidades textuais em evidência. O ponto mais fraco do filme prende-se com o revisionismo histórico latente a muita da narrativa, que se torna particularmente óbvio na cena no metro.




UM DESASTRE DE ARTISTA

 

Um Desastre de Artista

NOTA MHD: 69%

Em “Um Desastre de Artista”, James Franco reconta o processo pelo qual um dos piores filmes de sempre passou de um sonho a hilariante realidade. James Franco continua a ser melhor ator do que é realizador e “Um Desastre de Artista” está longe de ser o próximo “Ed Wood”. Disto isto, para os fãs de “The Room”, este filme provará ser um deleite sem igual. Por isso consideramos o ponto forte, a comparação, lado a lado, de “The Room” e as cuidadas recriações feitas por Franco e companhia. Há algo quase musical na alternância entre perfeita sincronia e ocasional diferença rítmica entre as duas montras para a peculiar imaginação de Tommy Wiseau. Ficamos um tanto ao pouco desiludidos com a tonalidade inspiradora e sentimentalista com que o filme pinta o final da noite de estreia de “The Room”.




CORPO E ALMA

 

Corpo e Alma

NOTA MHD: 90%

“Corpo e Alma” é o mais recente triunfo da cineasta húngara Ildikó Enyedi, que aqui criou uma das mais estranhas e comoventes histórias de amor do cinema atual. Sonhos transmutam-se em genuína ligação humana, reverias oníricas de duas almas misteriosamente entrelaçadas dão lugar à intimidade física e emocional, uma bizarra história de amor torna-se num dos mais belos e comoventes filmes do ano. A magistral fotografia de Máté Herbai que, para além de filmar belíssimos tableaux de dualidade espiritual visualizada, consegue construir um esquema visual a partir de imagens incongruentes que, no entanto, transmitem uma sedutora harmonia. Frias florestas de sonho e minimalismo urbano pintam, em conjunto, um poema visual de calidez humanista, mesmo nos mais grotescos cenários. Tais são os efeitos dos poderes transfiguradores de Ildikó Enyedi que, com “Corpo e Alma”, primeiro conquistou o júri da Berlinale e agora se propõe a conquistar os corações de cinéfilos por todo o mundo.




CHAMA-ME PELO TEU NOME

 

Chama-me Pelo Teu Nome

NOTA MHD: 91%

Meras palavras são incapazes de descrever a beleza transcendente de “Chama-me Pelo teu Nome”, um filme capaz de cristalizar a sensação efémera do primeiro amor de modo magistral. Esta é uma obra-prima de cinema enquanto espetáculo sensorial e emocional que não deve ser perdida, apresentada pela mão do genial Luca Guadagnino. Posto isto, o filme brilha pelo modo como Guadagnino e sua equipa ilustram os desejos das suas personagens através de mecanismos tão complexos como baléticas coreografias de câmara ou tão simples como o olhar no rosto de Elio enquanto observa Oliver dançar. No entanto, nem tudo pode ser bom, e, perto do final, Guadagnino perde ao tentar ilustrar algo entre o sonho e a memória já em trágica deterioração através do uso de rápidas imagens com as cores invertidas. Concetualmente, essa decisão estilística é justificável, mas a sua chocante aparição rompe com o ritmo docemente hipnótico do filme e proporciona um distanciamento indesejado entre o espetador e o objeto cinematográfico.




TRÊS CARTAZES À BEIRA DA ESTRADA

Três Cartazes à Beira da Estrada

NOTA MHD: 80%

“Três Cartazes à Beira da Estrada” é a terceira longa-metragem de Martin McDonagh, o realizador de “Em Bruges”, e é uma espetacular montra para a ferocidade inigualável de Frances McDormand. O filme é uma comédia negra que, aos poucos, revela ser uma tragédia tingida pela dor da inconsequência e arbitrariedade da injustiça num universo amoral e numa vida sem significado tangível. O melhor é mesmo a miraculosa prestação de Frances McDormand, nomeada ao Óscar de Melhor Atriz, que quase consegue fazer com que um interlúdio choroso com um veado digital muito pouco convincente tenha algum peso emocional. O pior são as venenosas hipocrisias do filme em relação ao tratamento de mulheres e questões de racismo sistemático.




O QUADRADO

o quadrado

NOTA MHD: 71%

“O Quadrado” do sueco Ruben Östlund é uma ambiciosa sátira ao mundo da arte contemporânea e elites liberais, que, após ganhar a Palme d’Or em Cannes chega a Hollywood com uma nomeação para Melhor Filme Estrangeiro. O filme parece mais intelectualmente estimulante do que acaba por ser, exibindo claros limites concetuais inerentes à própria fricção entre texto satírico e sua materialização. Mesmo assim, a sua crítica à hipocrisia liberal de muitas elites, especialmente no panorama do privilégio masculino, é gratificantemente aguçada. Destacamos o desempenho de Claes Bang.




AMOR DE IMPROVISO

Amor de Improviso

NOTA MHD: 68%

“Amor de Improviso” é uma comédia romântica que quebra tradições e convenções. Kumail Nanjiani e Emily V. Gordon decidiram contar a sua história. Nomeado para Melhor Argumento Original, a longa-metragem flutua entre géneros e energias, afirmando-se como bastante mais do que o rótulo de comédia romântica. É um dos bons filmes de 2017, pela camada de multiculturalidade que incorpora e pela reflexão que faz de tradições e dogmas. Neste sentido, consideramos o ponto forte a quebra de tradições e bons costumes que“Amor de Improviso” ilustra . O humor é brusco, direto e eficaz. Holly Hunter e Ray Romano elevam a fasquia a nível de interpretação. A ligação entre Kumail Nanjiani e Zoe Kazan é instantânea e nunca parece forçada. Contudo, apesar de o argumento ser sólido de uma ponta à outra, o último ato incorpora um certo impasse ou estranheza, consequências involuntárias do facto da relação de Kumail e Emily quebrar cedo e desenvolver-se sem ela estar (para nós) presente.




BLADE RUNNER 2049

NOTA MHD: 84%

“Blade Runner 2049” é um pedaço de neo-noir digital em estado de graça, uma composição poética visualmente estonteante, que se entranha na mente como um ecstasy sensorial de questões moralmente complexas. Villeneuve ultrapassa o primeiro Runner, esmaga a hype, e oferece-nos uma experiência cinematográfica sem paralelo. O filme é  um lollipop de cores vibrantes e dinâmicas, que nos explodem na cara num universo cyberpunk estupidamente convincente. Mas a obra de Villeneuve não se esgota no seu visual “over the edge”, já que o conteúdo não poderia ser mais rico em temáticas controversas. Blade Runner 2049 volta a redefinir o género sci-fi tal como o seu antecessor, só lhe restando meter mais um Óscar ao bolso (o que, lamentavelmente,  só poderá acontecer nas categorias técnicas). O pior é mesmo ter que esperar pelo terceiro filme.




BABY DRIVER – ALTA VELOCIDADE

baby driver

NOTA MHD: 78%

Óculos escuros, iPods e velocidade. Por outras palavras, um universo cool, boa música e brutais sequências de ação. Assim é “Baby Driver – Alta Velocidade”, que se apoia num conceito excitante e bem executado para nos oferecer uma peça de puro entretenimento, com um humor e estilo como só Edgar Wright sabe. O realizador britânico ousou no conceito, mas viu os riscos recompensados. As brutais sequências de ação, magnificamente editadas e sincronizadas com uma das melhores bandas sonoras do ano, são de facto o melhor de “Baby Driver – Alta Velocidade”. O Baby de Ansel Elgort pode ser um passo importante na carreira do ator, e deve-se destacar ainda a sequência inicial, enérgica e contagiante. O último quarto do filme é uma condução acidentada, sem certezas sobre o melhor destino possível. Seria bom, até pelo impacto que tem quando aparece, Jon Bernthal ter tido uma presença mais significativa e prolongada.




PLANETA DOS MACACOS: A GUERRA

Planeta dos Macacos: A Guerra poster

NOTA MHD: 77%

A jornada de Caesar chega ao fim num emocional e violento filme realizado por Matt Reeves. “Planeta dos Macacos: A Guerra” é sombrio e mostra os macacos como nunca antes foram vistos, graças à evolução da tecnologia de performance capture. É o final de uma grande história que nos leva a pensar na nossa própria existência e naquilo que nos espera no futuro. Destacamos, sem sombra de dúvida, a emoção e realismo que transparece dos macacos e a evolução de Caesar (Andy Serkis). “Planeta dos Macacos: A Guerra” peca apenas por o início da narrativa ser um pouco lento.




DUNKIRK

dunkirk poster

NOTA MHD: 85%

“Dunkirk” é uma epopeia impressionista de gritos mudos e corpos limpos, amarfanhados numa tela catastroficamente bela em constante sobressalto. Christopher Nolan reinventa o típico “war movie”, ejetando “Dunkirk” da violência gratuita do “war porn”. No final, eles apenas sobreviveram, mas isso bastou. A fita de Nolan é curta, mas absorvente; pouco dialogada, mas freneticamente ritmada; é cirurgicamente contida, mas emocionalmente rica. “Dunkirk” é um filme que não comunica pela sua mensagem, mas pelos seus feitos. Tecnicamente é irrepreensível, mas isso já seria de esperar vindo de quem vem. Hardy, Rylance, Fionn e Styles (infelizmente , nenhum foi digno de nomeação) reúnem a experiência sénior com a frescura da juventude, materializando competentemente o espirito heróico do primeiro épico de Chris Nolan.




GUARDIÕES DA GALÁXIA, VOL. 2

Guardiões da Galáxia Vol. 2

NOTA MHD: 74%

Guardiões da Galáxia Vol. 2 não consegue recuperar a frescura do original de 2014, mas é um embevecido regresso a casa para uma família disfuncional sem a qual já não vivemos. O melhor continua a ser a banda sonora, e a química entre o elenco principal. Encontra-se na corrida à estatueta dourada, não por este ponto, mas pelos seus efeitos visuais. Como elemento mais fraco, apontamos a  inconsequência que se sente nesta aventura, que parece existir apenas para nos dar mais uma dose de Guardiões da Galáxia do que propriamente para fazer avançar consideravelmente o seu arco.




FOGE

foge get out

NOTA MHD: 79%

“Foge” é a estrondosa fusão de sátira racial e arrepiante filme de terror que tomou de assalto o box-office americano, encontrando-se nomeado para 4 das principais categorias – ator, realização, argumento e filme. É uma estreia auspiciosa para Jordan Peele enquanto realizador, com tanto valor de entretenimento como genuína carga política a tornarem-no num dos filmes mais importantes e memoráveis de 2017. Na nossa opinião, a mera existência de um filme assim é um milagre, o seu estrondoso virtuosismo é um precioso bónus, e o seu sucesso comercial nos EUA tem sido espantoso. No entanto, o modo como o melhor amigo de Chris (LilRel Bowery) tende a verbalizar todos os seus pensamentos de um modo inorgânico e francamente preguiçoso, de um ponto de vista dramatúrgico, não nos convenceu. Ainda assim, queremos mais cinema com este tipo de ambição!




KONG: ILHA DA CAVEIRA

Kong: Ilha da Caveira

NOTA MHD: 7/10

Envolto em fatos científicos (imagens de satélite da ilha, a necessidade de explorar locais remotos e desconhecidos antes de outros países), “Kong: Ilha da Caveira” abandona o lado mais fantasioso do original. Somos levados para um cenário de “e se os monstros existissem mesmo?”, o que lhe valeu a nomeação para Melhores Efeitos Visuais. Abandona também a ideia de mulher indefesa predominante nas adaptações anteriores, trazendo uma personagem forte e independente, capaz de se defender e de participar ativamente nos conflitos. O romance existe sim mas de uma forma subtil. No fim, muito fica por dizer sobre “Kong: Ilha da Caveira”, mas a beleza da obra está exatamente na descoberta. Para os mais distraídos, lembramos a existência de uma cena pós-créditos que não vais querer perder!




A BELA E O MONSTRO

Bela e o Monstro

NOTA MHD: 6/10

“A Bela e o Monstro” surge, muito provavelmente, da necessidade pós-moderna do cinema  em revisitar o passado e as suas matrizes narrativas (neste caso, como herdeiro do conto de fadas). Seria realmente necessária esta nova adaptação? A resposta é um simples e muito lamentável não. O filme constitui uma prova de como técnica do “copiar/colar” também pode subsistir no cinema de forma negativa. Os efeitos visuais tornam as imagens demasiado ásperas. Os cenários nunca conseguem respirar, e tudo é filmado bem perto, com close-ups e planos próximos excessivos, que jamais dão tempo para o espetador parar, a fim de descobrir com calma a imagem, ou seja, de desvendar os seus pequenos segredos e detalhes. Como enormes fãs que somos do filme original, talvez dos mais belos filmes de animação alguma vez feitos na história do cinema, seria difícil deixar-nos levar por esta versão humana. Irónico é que de humano esta aventura tem muito pouco, quando realmente a comparamos ao filme de animação. Ainda assim, entra na corrida nas categorias técnicas de Melhor Guarda-Roupa e Design de Produção.




LOGAN

logan

NOTA MHD: 7/10

“Logan” é no seu todo uma experiência comprida, mas cumpridora de uma das mais fortes e complexas histórias do mundo dos super-heróis. A violência é séria e negra e, apesar de ter mais corpos do que o que conseguimos contar, consegue sempre deixar-nos tensos e cativados com a dureza deste mundo. O argumento nas mãos capazes de James Mangold, Scott Frank e Michael Green, nomeado pela Academia, é uma jornada pessoal, escondida em formato de western moderno, que torna os mutantes mais famosos do mundo, um espelho sombrio da realidade humana. No entanto, a longa-metragem, de quase duas horas e meia, consegue exceder-se um pouco em tudo o que faz dele um bom filme para, em momentos, se tornar mesmo cansativa e aborrecida. Não querendo dizer que “Logan” não merece ser revisto, porque merece tamanha é a complexidade e foque na caracterização – mas a verdade é que é preciso manter um espírito aberto e desfrutar da experiência pelo que é… uma despedida triste e nostálgica do carro de tantas viagens. Leia-se, Hugh Jackman como Wolverine.

 

Já viste todos os 30 nomeados? Quais as tuas apostas?

[tps_footer]

[/tps_footer]


Também do teu Interesse:


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *