Classic Fever | Beleza Americana (1999)

 

Pode ser uma escolha surpreendente, sobretudo numa rubrica jovem e com tanto por desbravar, mas o que torna Beleza Americana num clássico moderno incontornável é aquele charme absoluto que transpiram as raras obras que são alheias à passagem do tempo. Só lá vão 16 anos, mas o ácido entornado por Sam Mendes continua a borbulhar à flor da pele.

 

O QUE É QUE VOU RELEMBRAR HOJE?

“Beleza Americana” (1999), de Sam Mendes e protagonizado por Kevin Spacey, Annette Bening, Thora Birch, Mena Suvari.

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MAS AFINAL DO QUE É QUE TRATA?

Lester Burnham, um pai de família em plena crise, vê-se confrontado com um casamento que sobrevive apenas para criar a filha Jane, que parece odiá-lo, e a mulher Carolyn que só pensa no seu próprio trabalho. Ao conhecer Angela, uma colega da filha, Lester fica imediatamente atraído pela rapariga e inspirado por esta nova “musa” decide romper com a vida que levava até então: despede-se do trabalho, afirma-se em casa como nunca o tinha feito, começa a fumar erva, a fazer musculação e compra o carro dos seus sonhos…

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PORQUE É QUE NÃO POSSO PERDER?

É o mundo contemporâneo sob ataque: uma sátira cortante e uma alegoria titânica que abraça diversas metáforas. Segundo o realizador Sam Mendes, o que o atraiu foi a abrangência do argumento, aberto a tantas interpretações: “é uma história de mistério, uma jornada caleidoscópica pelos subúrbios americanos, uma séries de histórias de amor (…) é sobre a prisão, a solidão e a beleiza, e era divertido, zangado e triste ao mesmo tempo“.

Apesar das questionáveis caricaturas e exageros, “Beleza Americana” vê a sua importância exaltada no panorama cinematográfico, sobretudo pela sua valorização social, cultural, cívica e (não) emocional. É uma facada à sociedade americana moderna e a implosão do sonho americano. A exploração profunda da perda de identidade e da noção de liberdade pessoal resulta de uma exposição da cultura alimentada pelo materialismo, a pressão dos pares, o consumismo e a violência. Profundamente irónico, apresenta o amor e a felicidade como mitos e disfarces. Tudo isto em meros 122 minutos.

Considerá-lo um clássico contemporâneo parece lógico e ilógico ao mesmo tempo – foi (e é) controverso, não gerou (nem gera) aceitação democrática, e no entanto é um degrau inequivocamente essencial tanto na perspetiva do estado de arte do cinema em geral no final do séc. XX, como no enquadramento particular na indústria norte-americana enquanto grande produção de rutura.

No fundo, é daquelas obras que nos forçam a reparar nelas porque tem tanto de excêntrica como de definitiva e revolucionária. O que tem a dizer não é bonito, mas é tão obrigatório e cruelmente verdadeiro que não conseguimos deixar de olhar.

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UMA FRASE PARA A POSTERIDADE

You have no idea what I’m talking about, I’m sure. But don’t worry… you will someday

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PARA FICAR NO OLHO E NO OUVIDO (DA MENTE)

 

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