Do Livro à Tela – O Grande Gatsby

 

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Do Livro à Tela

O Grande Gatsby

Quando se diz que O Grande Gatsby é um dos melhores livros de sempre, não é por acaso, nem por ser bom num ou noutro detalhe. Este livro é uma obra de arte porque é excelente em tudo o que constitui um livro. Segundo muitos, impossível de passar para o grande ecrã, a verdade é que muitos tentaram, e devemos dizer o seguinte: a adaptação de Baz Luhrmann é, provavelmente, a melhor feita até hoje a partir da grande obra de F. Scott Fitzgerald. Mas será que chega?

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No entanto, este filme é ao mesmo tempo deslumbrante e a prova clara que O Grande Gastby nunca será adaptado para o cinema em todo o seu esplendor. A realização é boa, a adaptação do enredo também, e DiCaprio está muito bem, como sempre. Mas falta o toque de genialidade, falta a narrativa perfeita de Fitzgerald, e isso nenhum filme conseguirá adaptar.

Comecemos por Gatsby, personagem que dá nome ao livro e que é aclamada como uma das melhores personagens masculinas da literatura, ao lado de outros imortais como Hamlet, Dante e Aquiles. Gatsby é uma das mais complexas e fascinantes personagens que algum dia poderemos ler e o filme, por mais que se esforce, não poderá alcançar essa complexidade por falta de tempo e capacidade de entrar na mente da própria personagem. DiCaprio consegue uma performance fantástica, e não é por si que a essência se perde, pois o que torna Fitzgerald único é a sua narrativa, e é isso que falta ao filme.

O Grande Gatsby (1)

Como em todos os casos, este filme é a interpretação de alguém que lê o livro e não é a sua visão que está aqui em causa. O que iremos ver, é até que ponto o filme “foge” do livro.

Como escrevi antes, a narrativa é a grande diferença. O narrador Nick tem um papel fundamental no livro ao mostrar-nos todo este mundo de luxo e intrigas, mas também a dar-nos a conhecer algumas personagens. Sem a força desta prosa, o espectador não consegue criar os laços com algumas personagens, nem conhecê-las o suficiente para sentir o que o autor deseja transmitir, quer seja medo, dúvida ou admiração. Com isso, o filme leva-nos a uma viagem visual, onde por vezes nos perdemos, e não temos a narrativa que nos demonstra o porquê de muito do que acontece.

Existem diferenças mais pequenas e menos importantes, mas que ajudam o filme a separar-se do livro: no filme, sabemos muito mais cedo quais os planos de Gatsby desde que estejamos atentos. No livro o suspense prolonga-se.

O Grande Gatsby (4)

Muitas personagens perdem alguma qualidade. Gatsby, já referido, é a maior vítima, mas existem outras, como Jordan, que devido à falta de tempo do filme, se torna mais enigmática pois não a conhecemos devidamente.  Por um lado ajuda ao suspense, por outro perde-se profundidade. Tom apresenta-se no filme como o grande vilão, dando ao público um alvo e um equilíbrio entre a eterna luta entre o bem e o mal. No livro o vilão é a “sociedade” e Tom perde alguma da sua força. O livro foca-se na crítica e facilmente vemos a sociedade como o vilão. É o conjunto de intrigas, mentalidade e preconceitos que o autor critica e leva à queda de algumas personagens, tornando esta obra mais complexa e também menos óbvia.

Ainda nas personagens, Daisy também apresenta várias alterações, algumas importantes para a relação com Gatsby. Apresenta menos força no filme, mas as diferenças estão na própria construção da personagem, e neste aspeto Fitzgerald é ímpar. No entanto, falar sobre as diferenças de Daisy poderia levar a algumas revelações de enredo, por isso nada diremos.

O Grande Gatsby (5)

Para finalizar, é preciso afirmar que falta a poderosa crítica ao capitalismo. É verdade que está presente no filme mas não consegue o impacto que atinge nas páginas, presente nos momentos de maior solidão, mas também nos mais românticos. Todavia, tal falha é normal num filme, pois voltamos à limitação de tempo.

Resumindo, O Grande Gatsby (filme) tem algumas diferenças em relação à obra original mas nenhuma compromete o enredo. É verdade que Baz dá uma visão muito particular daquela era e de algumas personagens, mas não é aí que a adaptação perde. Sendo assim, é justo dizer que quem queira saber a história de Gatsby, saberá tudo o que é essencial com este filme. Mas, ao falarmos deste livro, estamos perante algo que dificilmente se poderá colocar num filme de duas horas. O livro de Fitzgerald tem uma narrativa sem igual e um personagem com uma complexidade e um passado que precisam de ser lidos, pois é aqui que perceberemos os traumas, objetivos e falhas psicológicas de Gatsby.

Por isso dizemos que o que falta ao filme não é, em grande parte, culpa de Baz e muito menos de DiCaprio. É antes a incapacidade de um filme colocar na sua duração toda a informação de um livro. Excelente filme que será falado durante muito tempo, mas o livro… esse é imortal.

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LP

 

 

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