Fantasporto 2014 | Cheatin’, em análise

 

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  • Título Original: Cheatin’
  • Realizador: Bill Plympton
  • Género: Animação
  • 2013 | 76 min

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De olhos verdes, vibrantes e tremendamente magnéticos, passeia-se uma mulher alheia ao que a rodeia. Carrega um livro na mão e caminha de olhos fixos nele. Aquele não era um caminhar comum. Era um caminhar sedutor, que perpetua a nossa atenção e que mais tarde acaba por ‘comprar’ o amor de um homem comprometido mas suficientemente entroncado para captar o reparo das mulheres que ali se juntavam.

Falamos do novo filme animado de Bill Plympton (Nomeado a dois Óscares na categoria de Curta-Metragem de Animação) que venceu o Fantasporto em 2009 com “Idiots and Angels”, e que já é uma presença assídua no certame. “Cheatin’” inicia a sua acção numa pista de carrinhos de choque. Um local onde as crianças procuram o caos, os casais (re)encontram o amor ao vento, e as solteiras brincam a jogos sedutores. A história que o filme narra tem como protagonistas um casal que se conhece numa fatídica colisão de carros de choque e que se torna no par mais amoroso de sempre.

Nesta fase do enredo, é o virtuoso desenho tradicional de Bill Plympton (nos trilhos de Tim Burton) que nos guia, mais até do que a sua história. Caras com narizes estranhos, olhos esbugalhados e lábios salientes, corpos disformes que carregam sonhos visualmente audazes que muitas vezes simulam a terceira dimensão…poder-se-á falar em perfeição visual. “Cheatin’” vale sobretudo pela sua beleza visual e auditiva que nos embebe num mundo à medida do Fantasporto: fantástico.

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Mas quando uma mulher intrigante impulsiona o ciúme no namoro perfeito, a insegurança e ódio tomam conta do casal. E até aqui a narrativa, que funciona como mero apêndice para aquilo que a nossa visão capta, flui livremente, sem grandes atropelos (ou seja, sem darmos muito pela sua presença).

É uma pena que esta se perca no último terço e não acompanhe essa qualidade técnica. Quando na história se introduzem máquinas revolucionárias e mágicos aposentados, aquela visão louca da realidade torna-se apenas numa visão louca do irreal. E por muito que isso nos custe, o argumento não soube lidar tão bem com a fantasia da mesma forma como soube lidar com o mundo autêntico, enrolando os acontecimentos numa teia por vezes imperceptível.

Mesmo assim, o sumo que retirámos quando os créditos começam a rolar é deveras rico, numa das obras mais originais e competentes deste Fantasporto 2014.

DR

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