Figura de Estilo: Downton Abbey T4

 

Com o êxtase total no Episódio Especial de Natal, o guarda-roupa da temporada quatro de Downton Abbey pode muito bem ter sido o melhor até hoje.

E isto é dizer muito. Estamos a falar da série que retratou o período Eduardiano como nenhuma outra, que influenciou coleções de Ralph Lauren e House of Harlow, que esteve na origem de linhas de roupa produzidas em massa, produtos de beleza, marcas de mobiliário.

É por isso que observar a subtil evolução dos figurinos, à medida em que os flappers de meados dos anos 20 se aproximam a passos largos, é um deleite para qualquer amante de estética. Agora mais curtos, menos ornamentados e com tecidos mais leves, os vestidos de noite despedem-se dos corpetes para acenar a influências de art déco e piscar o olho a certas referências ao trabalho de Gabrielle Chanel. Estamos numa nova década, mas ainda não entrámos nos loucos anos que precederam a Grande Depressão – para além de que falamos da aristocracia britânica, e não dos boudoirs americanos. Tudo é mais contido. Tudo é mais medido. E tudo é mais lento. No entanto, o período de transição é tão (ou mais) bonito que a fase andrógina, arrapazada e descontraída que se avizinha.

As linhas direitas já substituem as cinturas imperiais, e embora já se vislumbrem tornozelos as bainhas continuam longas, as peças mantêm-se fantasticamente conservadoras. Caroline McCall, a figurinista, confessa ser mais fácil organizar personagens por paletas de cor: Mary em negro, cinzento ou roxo; Cora em azuis e rosas escuros; Edith em corais e verdes; Violet em roxos, verdes e cinzentos; Rose em lilases, rosas e azuis. Criam-se moodboards. Fazem-se meses de pesquisa. E o resultado final é uma tradução do estilo de época, e não uma interpretação literal digna de livros de história. É por isso que o seu peso contemporâneo é tão grande: cada peça é cosida com linhas que não traem o legado, mas alimentam um presente que vive sedento de passado.

Com as joias em todo o seu esplendor no clímax da temporada – o episódio que tem mais família real que “Marie Antoinette” -, Downton Abbey encerra mais um ciclo com toda a força dos contrastes. A sumptuosidade decadente de uma classe que não admite que tem os dias contados, vê-se contrabalançada com a austeridade negra do piso de baixo, que começa a subir as bainhas mas conserva os espartilhos. Enquanto se entra reticentemente numa era em que a informalidade deixa de ser uma ofensa, substitui-se a gravata branca pela negra, a integridade pela ousadia, a alfaiataria por Vionnet ou Lanvin. Abraçam-se (a medo) as novas tendências e bebe-se influência do Novo Continente. Multiplicam-se as festas. Mas isso, é conversa para a quinta temporada.