Hey, That’s Time to Say Goodbye

Leonard Cohen, o eterno cantor, compositor, trovador, poeta e escritor, símbolo inspirador de várias gerações, morreu dia 7 de Novembro. A sua despedida foi encenada no passado mês quando, no seu 14º dizia que estava pronto para partir: “I’m ready my Lord”.

Aos poucos, 2016 foi-se tornando num ano infernal. Primeiro com o desaparecimento Bowie, a que se seguiu o de Prince, também na música, de Umberto Eco e Harper Lee na literatura; Dario Fo e Edward Albee no teatro; Alan Rickman no cinema e de Nicolau Breyner, entre tantos outros … Há uns dias chegou-nos a triste notícia de que o eterno Leonard Cohen não resistiu a esta epidemia de 2016 e acabou, também ele, por morrer. Cohen morreu e a primeira coisa de que me lembrei quando soube foi: “Hey that’s no way to say goodbye”… Como poderá haver?

Leonard Cohen tinha 82 anos e morreu na passada segunda-feira, embora a notícia só tenha sido divulgada três dias mais tarde. Em nota oficial colocada na sua página oficial de Facebook podia ler-se: “Perdemos um dos visionários mais prolíficos e reverenciados da música.”, e de facto, o mundo perdeu mais um génio.

Há cerca de um mês, Cohen parecia querer presentear o mundo com mais um dos seus brilhantes álbuns, e que álbum…Mais canções de Cohen para ouvir, como é que isso não poderia significar algo bom? Infelizmente o “truque” de Bowie estava-se a repetir, e este era o disco de despedida do génio que construiu uma obra que cedo se tornou imortal.

Em You Want it Darker, no seu maravilhoso, genial e último álbum, Cohen cantava “I’m ready, my Lord”, enquanto se despedia numa música  híbrida em que a sua voz grave e pausada se destaca no meio do ritmo harmonioso. Apesar de, em entrevistas anteriores, ter garantido que tinha como planos terminar livros, músicas e canções, o “poeta do rock n’ rol”, como a Newsweek lhe chamou, não teve tempo para isso, e sabia-o melhor do que ninguém.

Em Agosto, aquando da morte da sua musa e amante dos anos 60, Marianne Ihlen ( a eterna música So long Marianne é-lhe totalmente dedicada), Leonard Cohen escreveu-lhe uma carta onde era nítida a proximidade com que sentia a morte: “Sabes, chegou este tempo em que estamos realmente tão velhos e os nossos corpos caindo aos poucos que acho que vou seguir-te em breve. Sei que estou tão perto de ti que, se esticares a tua mão, acho que consegues tocar na minha”.

O POETA DONO DE UMA VOZ AUSTERA E PAUSADA

Foi com alguma surpresa que, em Outubro, Cohen viu o Nobel da Literatura ter sido atribuído a Bob Dylan, tendo afirmado que “atribuir o Nobel a Dylan era o mesmo que dar ao Evereste o prémio de montanha mais alta do mundo”.

Cohen queria ser poeta. Desde cedo que conseguiu e mesmo depois de ter entrado no mundo da música, continuou a sê-lo até morrer. Em músicas como Bird on the wireSuzanne, Famous blue raincoat ou Dance me to the end of love, Cohen mostra-nos o seu dom para a poesia, e que dom, pois, muitas vezes, ao ouvirmos Cohen ficamos com dúvidas se estamos a ouvir uma canção ou um poeta a recitar os seus poemas…

Leonard Norman Cohen nasceu em 1934 numa família judia de classe média, em Westmount, subúrbio de Montreal. Desde cedo que se tornou mestre das palavras e só depois se afirmou no mundo da música. Aliás, apesar de ter pegado numa guitarra aos 13 anos, até aos anos 60 a sua carreira musical não foi mais longe do que algumas actuações em bares.

O pai morreu tinha ele nove anos. A mãe encorajou-o a escrever, sobretudo poesia, na sua infância. Tinha Federico García Lorca entre os seus maiores interesses literários. Na universidade, forma-se em Inglês, mas não era aluno de grandes notas. O primeiro livro de poesia, “Let Us Compare Mythologies”, foi editado no ano seguinte, mas foi em 1961, com “The Spice-Box of Earth”, que Cohen se tornou uma figura literária reconhecida.

Apesar de ter sempre escrito muito e bem, os seus livros não vendiam o que esperava. Nos anos 60 conheceu a cantora Judy Collins, a Suzanne, que nasceu como poema mas que se tornou num verdadeiro sucesso musical.

Em 1967 Cohen laçou a música “Suzanne” juntamente com outras nove canções. Nascia assim o seu albúm “Songs of Leonard Cohen”, que viria a ser um disco de culto, tendo vendido 100 mil cópias em dois anos. Seguiram-se duas outras obras fundamentais, Songs From a Room (1969) e Songs Of Love and Hate (1971), tendo pelo meio editado o álbum ao vivo Live at the Isle of Wight (1970), o primeiro de muitos, numa marca que se prolongaria até ao final. Depois de ter lançado New Skin for the Old Ceremony (1974), o lançamento de novos álbuns é feito de forma mais espaçada. The Future (1992) marca o afastamento de Cohen da música, tendo voltado em 2001 com Ten New Songs e, três anos depois, com Dear Heather. Seguia-se mais uma longa pausa, tendo regressado em 2012 com Old Ideias e dois anos mais tarde com Popular Problems. You Want It Darker, lançado no mês passado foi o derradeiro.

 

ALGUNS (nossos) AMORES ETERNOS by LEONARD COHEN

Hey, That’s No Way To Say Goodbye

Suzanne

So Long, Marianne

Dance Me To The End of Love

Nevermind

“I’m ready, my lord”, mas o mundo não estava pronto para se despedir deste génio que se tornou eterno em vida.

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