Au Revoir Jeanne Moreau (1928-2017)

Jeanne Moreau, que nos deixou esta segunda-feira com 89 anos, é uma das maiores lendas do cinema francês, tendo uma filmografia recheada de clássicos inesquecíveis.

Desde o final da década de 50, que Jeanne Moreau é uma das maiores e mais importantes estrelas na história do cinema mundial. Se pensarmos nela em termos mais exclusivos do cinema francês, então Moreau foi uma das maiores lendas do grande ecrã que essa nação já viu. Essa estrela lendária morreu esta segunda-feira com 89 anos, no seu apartamento em Paris. Para trás, Moreau deixa uma das mais ricas carreiras da História do Cinema.

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Apesar de a sétima arte a ter elevado ao panteão das lendas, foi no Teatro que esta atriz deu início á sua carreira, que por sua vez foi inspirada por uma performance da Antígona de Sófocles que Moreau viu na adolescência. Em 1947, a atriz pisou os palcos pela primeira vez num espetáculo do festival de Avignon e, passados apenas alguns anos, ela já era um dos nomes mais falados e celebrados de La Comédie Française. Ao mesmo tempo que o sucesso teatral explodia na sua vida, a atriz também começou a dar os seus primeiros passos no cinema, tendo feito a sua estreia em 1949 com um papel pequeno em Dernier amour de  Jean Stelli.

 

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FIM-DE-SEMANA NO ASCENSOR (1958) de Louis Malle

 

Chegados os meios da década de 50, o nome de Jeanne Moreau já era famoso e ela era uma das mais promissoras estrelas dos palcos e do grande ecrã. Apesar disso, a lenda que hoje em dia conhecemos como Jeanne Moreau viria a ser cristalizada por um par de filmes feitos em 1958. As obras em questão são Fim-de-Semana no Ascensor e Os Amantes, duas das primeiras grandes obras de Louis Malle e dois dos filmes que, vistos de uma perspetiva contemporânea, se prefiguraram como antecessores diretos da Nouvelle Vague. Uma coisa é certa, vendo Jeanne Moreau, qual Eponine tornada femme fatalle moderna, andando pelas ruas escuras e chuvosas de Paris em Fim-de-Semana no Ascensor é difícil não nos apaixonarmos, não nos perdermos no mistério do seu olhar, na beleza da sua face ou na melancolia poderosa da sua expressão. Efetivamente, este foi um dos filmes que veio a tornar a atriz numa estrela fora das fronteiras francesas.

 

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JULES ET JIM (1962) de François Truffaut

 

Depois disso vieram cerca de duas décadas de colaborações com alguns dos maiores génios que alguma vez abençoaram a sétima arte com as suas visões. Alguns desses célebres autores foram Roger Vadim, Jean-Luc Godard, Martin Ritt, Peter Brook, Jacques Demy, Michelangelo Antonioni, Orson Welles, Joseph Losey, Tony Richardson, Luis Buñuel, Marguerite Duras, Arthur Penn, André Téchiné e Bertrand Blier. Mesmo assim, o mais importante de todos os realizadores com quem a atriz trabalhou foi provavelmente François Truffaut que a transformou no ícone máximo da Nouvelle Vague em filmes como Jules et Jim e A Noiva Estava de Luto.

 

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A GRANDE PECADORA (1963) de Jacques Demy

 

Na década de 70, Moreau também experimentou a cadeira de realizador, assinando Lumière em 1976 e L’adolescente em 1979, dois projetos que têm o seu valor e os seus defensores, mas que são justamente ofuscados pelos feitos de Moreau enquanto atriz sob direção de outros realizadores. Aliás, foi uma colaboração com um dos maiores realizadores de sempre que marcou o final desta luminosa fase na carreira cinematográfica da atriz.

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Referimo-nos, pois claro a Querelle, o último filme de Rainer Werner Fassbinder, e uma das mais singulares experiências de homoerotismo e desinibida sexualidade que se possa imaginar com cenários estilizados, leis espaciotemporais em constante violação e uma iluminação que mergulha todo o mundo num sensual pôr-do-sol que nunca tem fim. Numa das cenas mais memoráveis do filme, Jeanne Moreau embala a audiência com uma melodia ominosa e seca, cantando “…each man kills the thing he loves…”.

 

 

Nas décadas seguintes Jeanne Moreau continuou a trabalhar, mas mais nenhum dos seus filmes alcançou os píncaros das suas colaborações com Truffaut, Malle ou Fassbinder. Um grande destaque que tem de ser feito na sua filmografia mais tardia é O Gebo e a Sombra, um dos últimos filmes de Manoel de Oliveira que estreou em 2012, O último filme de Jeanne Moreau foi uma modesta comédia francesa chamada Le talent de mes amis, estreada há dois anos e recebida com críticas tépidas.

 

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O GEBO E A SOMBRA (2012) de Manoel de Oliveira

 

Ao longo da sua vida, as contribuições de Jeanne Moreau para o teatro e cinema foram amplamente reconhecidas com uma série de importantes honras. Os Festivais de Cinema mais importantes do continente europeu já por várias vezes a tiveram no júri ou a homenagearam com prémios especiais e retrospetivas extensivas. Até a própria Academia de Hollywood, que é cronicamente alérgica ao reconhecimento de talento cinematográfico fora de um modelo anglófono, saudou a atriz com um tributo especial feito em 1998.

 

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Jeanne Moreau (1928-2017)

 

A melhor forma de honrar Jeanne Moreau é revisitar alguns dos seus melhores filmes. Para além dos títulos mencionados neste artigo, algumas das suas obras mais maravilhosas incluem, por exemplo, A Noite de 1961, O Processo de 1962, Chimes at Midnight de 1965 e História Imortal, um filme televisivo de 1968 realizado por Orson Welles.

 

 

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