Óscares 2017 | Kevin O’Connell

Kevin O’Connell, o homem por detrás da sonoplastia de O Herói de Hacksaw Ridge, detém o infeliz recorde de ter o maior número de nomeações para o Óscar sem uma única vitória.

 


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Nos últimos anos, as comunidades cinéfilas da Internet quase que criaram uma campanha de indignação coletiva contra a falta de Óscar de Leonardo DiCaprio. Memes Infindáveis, artigos às dezenas numa série de publicações sobre cinema e outras ações que tais, tornaram o ator numa espécie de mascote das redes sociais quando alguma conversa se direcionava para os prémios da Academia. Por fim, o ano passado, DiCaprio lá ganhou o galardão pelo seu trabalho em The Revenant e os seus fãs finalmente se calaram e, para quem sempre achou que a choradeira sobre a sua falta de Óscar era ridícula – afinal, pessoas como Lillian Gish, Barbara Stanwick, Richard Burton e Peter O’Toole morreram sem um Óscar competitivo, por exemplo – houve finalmente silêncio e paz.

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Toda essa confusão foi gerada em volta de um ator com pouco mais de quarenta anos, seis nomeações para os Óscares (uma delas como produtor) e uma filmografia com trinta e poucos créditos. No que diz respeito à pessoa que detém o infeliz recorde de maior número de nomeações para o Óscar sem nunca ter ganho, ninguém se parece preocupar muito. Ele é Kevin O’Connel, um sonoplasta de cinquenta e nove anos, com uma enorme filmografia com mais de duzentos créditos e vinte e uma indicações infrutíferas ao Óscar. Ou melhor vinte nomeações falhadas e uma, por O Herói de Hacksaw Ridge, que só saberemos se resulta numa vitória na madrugada de amanhã, segunda-feira dia vinte e sete.

Natural de Los Angeles, Kevin O’Connell começou a vida profissional como um bombeiro mas, a pedido de sua mãe, deixou essa profissão de risco e foi trabalhar com a sua progenitora no departamento de som dos estúdios 20th Century Fox. Apesar de um humilde início como aprendiz, O’Connell rapidamente se mostrou um prodígio deste aspeto técnico da produção cinematográfica e, em 1980 quando tinha vinte e três anos, conseguiu o seu primeiro crédito como técnico de gravação para o quinto episódio da saga Star Wars, O Império Contra-Ataca. Com uma entrada assim nas grandes produções de Hollywood, não demorou muito até que Kevin O’Connell conseguisse um crédito não como um mero operador técnico mas como sonoplasta. O filme que marcou essa estreia foi Cliente Morto Não Paga a Conta de 1982 com Steve Martin no papel principal.

Um ano depois, veio Laços de Ternura e consigo a primeira nomeação de Kevin O’Connell para o Óscar. Como seria de esperar de um drama familiar, o filme perdeu na categoria de Melhor Som para Os Eleitos, apesar de ter recebido muitos outros troféus. O ano a seguir, O’Connell viu-se nomeado outra vez por Dune e voltou a perder, desta vez para Amadeus. Depois veio Silverado que perdeu para África Minha, Top Gun que perdeu para Platoon, Chuva Negra que perdeu para Glória, Dias de Tempestade que perdeu para Danças com Lobos, Uma Questão de Honra que perdeu para O Último dos Moicanos e Maré Vermelha que perdeu para Apollo 13. Em 1996, O’Connell conseguiu uma rara dupla nomeação com O Rochedo e Tornado, mas ambos os filmes perderam para O Paciente Inglês. Dois anos mais tarde, depois de Con Air ter perdido o Óscar para Titanic, O’Connell estava de volta com uma dupla nomeação, desta vez por A Máscara de Zorro e Armagaeddon, mas ambos os filmes perderam face à magnificência sónica de O Resgate do Soldado Ryan. De seguida, O’Connell foi nomeado por O Patriota e perdeu para Gladiador, por Pearl Harbor que perdeu para Black Hawk Down, por Spider-Man que perdeu para Chicago, Spider-Man 2 que foi derrotado por Ray, Memórias de Uma Gueixa que perdeu para King Kong, Apocalypto que perdeu para Dreamgirls e, por fim, em 2007, Transformers perdeu o Óscar que foi ganho pela equipa de Bourne Ultimatum.

Segundo o próprio O’Connell, ele escreveu diferentes discursos de agradecimento para cada uma das nomeações e agora guarda os seus rascunhos numa gaveta para onde, se tudo correr bem, não se irá juntar mais um discurso nunca proferido. Dizem-nos isto pois, este ano, Kevin O’Connell está mais uma vez indicado ao prémio pelo seu trabalho em O Herói de Hacksaw Ridge. É verdade que o filme padece de uma série de catastróficas fragilidades, espacialmente ao nível moral, ideologicamente coerente e representativo, mas a sonoplastia é uma dose seus inquestionáveis pontos fortes.

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Longe de fetichizarem a carnificina do mesmo modo que as imagens do filme fazem, as paisagens sónicas orquestradas por O’Connell e a sua equipa mergulham o espetador no caos sem limites do campo de batalha. É um triunfo no que diz respeito à imersão sensorial do espetador numa realidade alheia e, com sorte pode ser desta que O’Connell sai vitorioso. Esperemos é que não aconteça que o seu filme ganhe Sound Editing (a criação de efeitos sonoros individuais independentemente da sua inclusão e integração no filme) e não Sound Mixing (a sonoplastia geral, incluindo a mistura da música, dos diálogos e dos efeitos na obra final) que é a categoria de Kevin O’Connell.

 


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Assim termina a nossa lista de nomeados para os Óscares que (possivelmente) não conhecias. Depressa saberemos se algum destes indivíduos sai vitorioso da cerimónia deste ano. Não percas os Óscares 2017!

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