Lego Batman – O Filme, em análise

Sem Christian Bale ou Ben Affleck, nem uma visão obscura do super-herói da DC Comics, Lego Batman é entretenimento garantido para toda a família. 

Em 2014, O Filme Lego provou que “everything is awesome!!!” (traduzido literalmente de “tudo é incrível!!!”) e que seria finalmente possível montar as tão conhecidas peças da marca LEGO numa extraordinária experiência cinematográfica, aliás, num dos maiores trunfos da animação digital que há memória, provavelmente desde os seus primórdios com Toy Story. Ligando peças em cima umas das outras, ao lado ou em baixo, a história (que era original), reunia referências da cultura popular num só projeto, desde os super-heróis (Mulher Maravilha, Lanterna Verde) a vilões, passando claramente  por nomes um quanto desconhecidos como o do protagonista. Ao lado do mestre construtor Emmet Brickowoski (voz de Chris Pratt) estava Batman (voz de Will Arnett na versão original), o super-herói dos super-heróis, uma visão miniatura, egocêntrica, egoísta, vulnerável e corajosa da personagem da DC Comics. Percebendo a eficácia da sua presença, por instituir uma visão alternativa, a Warner Bros. decidir-se-ia de imediato por um spin-off tresloucado recheado de pow’s e wow’s, a deixar-nos boquiabertos, e com muita ação para dar e vender. Falamos, claro, do fantástico Lego Batman – O Filme e de uma das personagens mais rentáveis para o respetivo estúdio de Hollywood.

Lego Batman

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Como bem sabemos, várias têm sido as versões do Cavaleiro das Trevas que têm estreado no cinema (a personagem já existe há quase de 80 anos!) sendo que a última delas Batman V Superman: O Despertar da Justiça (Zack Snyder, 2016) se revelou um modesto sucesso comercial embora um fracasso quase que generalizado das críticas. Nele, era Ben Affleck que tinha as honras de interpretar o tão popular Homem-Morcego e apesar do trabalho sólido, não chegou para fazer esquecer a mais memorável interpretação de Christian Bale, com Christopher Nolan por detrás das câmaras, numa trilogia que investia numa abordagem ainda mais densa e trágica. Ora, mesmo sem esquecer essas recentes adaptações, Lego Batman – O Filme, prefere virar a situação do avesso. Com o objetivo de evitar pegar pelas mesmas tribulações que afetavam o protagonista, esta aventura para toda a família realizada por Chris McKay, mergulha numa bolha de referências da cultura pop e da cultura cinematográfica comercial numa explosão agradável de efeitos, de piadas inteligentes (nem sempre percebíveis à priori),  decidindo literalmente brincar com tudo aquilo que a sétima arte ofereceu nos últimos tempos.

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Esse percurso de intertextualidade e metalinguagem latente faz-se pela presença não só de Batman, dos seus vilões como Joker, Bane, Harley Quinn ou Catwoman e até da presença Liga da Justiça, mas também pelas ligações com personagens míticas do universo de Harry Potter, O Senhor dos Anéis ou da Marvel. Contam-se as presenças de Voldemort, Sauron, Godzilla, King Kong e Wolverine, entre tantas outras, e a associação a Deadpool, com o semelhante começo em ecrã preto, e a afirmação de Batman de que todos os grandes filmes começam dessa maneira. Para contrabalançar, a voz-off de Batman demonstra claramente como este filme é dele, para ele e somente sobre a vida dele que está incrivelmente fora de controlo. O resto vem por acréscimo.

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A história mostra-nos um Batman que se sente demasiado vangloriado por ser o super-herói que Gotham City tanto precisa no momento em que Joker (e companhia) decide destrui-la. Batman recebe aplausos e distribui merchandising da sua imagem pelos fãs e pelas crianças órfãs. No entanto, a eficácia e necessidade da sua presença será colocada em causa com a chegada de Barbara Gordon (Rosario Dawson), a filha de Jim Gordon, que tem outra política: Batman é o causador indireto da violência em Gotham. Assim, quase que excomungado da sua cidade, Batman será esquecido e para regressar ao ativo, só mesmo percebendo que precisa de trabalhar em equipa, para enfrentar um mal maior.

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Batman é a figura mais isolada da cidade (mora numa mansão numa ilha à parte) e não sabe como lidar com o mundo em redor. Aí, somos confrontados com a morte dos seus pais e o sofrimento que atravessa (mesmo que prefira escondê-lo ao cantar desafinadamente algumas músicas de rock, ou até mesmo a assistir sozinho a filmes um quanto lamechas como Jerry Maguire ou Marley & Eu). De facto, o seu passado é construído em torno de muitas ironias e situações ridicularizadas (sem que o humor chegue a ser rude ou demasiado grosseiro) que torna este filme ideal para miúdos e graúdos, dos 8 aos 80, que sentem exatamente, aquela ponta de nostalgia que o filme eleva. Não esqueçamos, por isso, a presença de canções de outros tempos, de David Bowie – “Heroes (We Could Be)” – e de George Michael – “Wake Me Up Before you Go Go”.

O filme brilha pela capacidade de introspeção do próprio cinema, primeiro pelo respeito pelos legados da personagem, mas mais ainda pela capacidade da sétima arte em repescar elementos que lhe são característicos e certas personagens que são suas. Ou seja, a partir deste olhar interior, o cinema confirma-se como ferramenta que tudo pode construir. Constrói uma personagem, dá-lhe vida, oferece-lhe uma trama e oferece-nos a nós espetadores a possibilidade de conhecer o seu mundo. Batman é o herói popular, mas isso já sabemos. Queremos conhecer detalhamente o “homem” além do herói, como são os seus relacionamentos (noutros filmes Batman parece não ter muita sorte nas relações amorosas) e como irá, por exemplo, lidar com crianças e com um novo sentido de “família”. Na verdade, desde Batman de Tim Burton que o herói tem sido mostrado como alguém demasiado monstruoso, quase um dissidente da sociedade obscura, e o alter-ego de Bruce Wayne. Agora, com muita ironia, temos o inverso, uma identidade diferente, que tem tanto de brincalhona como de insensível e que, na sua insistência em não retirar a máscara, mostra como hoje em dia vivemos numa sociedade mascarada com medo do mundo lá de fora, com receio dos outros.

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No que respeita, às imagens em si, o filme merece destaque pelo tão exuberante recurso a cores brilhantes que conferem autenticidade a cada peça, novamente na lógica de uma espécie de stop-motion digital. Os efeitos visuais e a direção artística encontram um significado para os objetos mais invulgares da mansão, como os seus troféus, todos os batmóveis e gadgets e as peças de roupa da personagem. Vale também referir a maneira como o filme em 2D, confere a ilusão do 3D, daí que o formato e os óculos não sejam realmente necessários. Tudo é tratado com o máximo pormenor para tornar qualquer peça semelhante àquelas que que tocámos com as nossas mãos quando éramos crianças.

O MELHOR – A animação stop-motion digitalizada e a versão mais cómica das situações que Batman enfrenta.

O PIOR – Por vezes a rapidez das situações não dá tempo para o espectador respirar, o que por vezes faz com que o filme pareça demasiado infantilizado, porque nada faz sentido e nem todas as questões precisam de ser justificadas.

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Título Original: The LEGO Batman Movie
Realizador: Chris McKay
NOS | Animação, Ação, Aventura | 2017 | 104 min

Lego Batman: O Filme
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Virgílio Jesus

 


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