Mogwai à MHD | “Como um gang?”

Aproveitámos a vinda dos Mogwai ao NOS Primavera Sound para falar com Barry Burns, guitarrista desta banda sem a qual não haveria qualquer após para o pós-rock. 

Gravado pelos Mogwai no pino do inverno americano, mas ouvido por nós no (só em nome) Primavera Sound (com a chuva que caiu e o frio que fez), Every Country’s Sun (a ironia continua) assinala o regresso da banda à composição exclusivamente da sua autoria, depois do lançamento de duas bandas sonoras em 2016 (Atomic e Before the Flood). Mas também às origens, com o disco a ser gravado nos Tarbox Studios e produzido por Dave Fridmann, que estivera envolvido na gravação de Come On Die Young (1999) e Rock Action (2001), dois dos primeiros e já clássicos álbuns dos Mogwai.

Mogwai, Every Country's Sun (2017)
Mogwai, Every Country’s Sun (2017)

Apesar da saída de um dos fundadores da banda, o guitarrista John Cummings, algum tempo depois do lançamento de Rave Tapes (2014), este mais recente registo dos Mogwai revela uma banda decidida a compensar a perda de um membro com a entrega em corpo inteiro de cada um dos restantes.

A acumulação de tensão e as explosões de energia, as pacientes e nostálgicas melodias e a agressividade das descargas eléctricas, tudo modulado em atmosferas cheias de emotividade, capazes de abranger o largo espectro da existência humana – ou não se chamasse este disco Every Country’s Sun – exprimem uma banda cheia de vida para dar e música para ouvir. E, como de ouvir se trata, aqui vos deixamos a conversa que o nosso Daniel Rodrigues teve com o guitarrista Barry Burns, neste sábado passado, minutos antes de Nick Cave subir ao palco principal do NOS Primavera Sound (para verem o quanto gostamos deles!).

MOGWAI | VÍDEO DA ENTREVISTA

MHD – Desde que Rave Tapes saiu em 2014, sei que realizaram bandas sonoras para filmes, John Cummings deixou a banda. Estava interessado em saber como foi o processo de escrever este álbum…

Barry Burns – O novo álbum?

MHD – Sim, sim, o novo álbum. Porque vocês criaram bandas sonoras e, para a maioria das bandas sonoras, o sentimento é, teoricamente, imposto. Como é que isto afectou o vosso processo de composição?

BB – Boa questão. Acho que afecta, porque quando se esteve num estúdio, junto com toda a gente da banda e a escrever música para uma banda sonora, julgo que há uma espécie de ressaca. Talvez por se terem usado sintetizadores ou técnicas, isso é levado para o álbum seguinte, e depois, de novo, a música que se escreve para a banda sonora seguinte será influenciada por um álbum normal dos Mogwai, é contagioso.

MHD – E como é trabalhar com Dave Fridmann?

BB – Não é. Nós fizemos o segundo e terceiro álbum com ele há muito tempo atrás. Sabes como é quando não vês alguém da tua família há muito tempo e é normal quando o voltas a ver? Foi assim, é muito como numa família. Ele não mudou, mas está muito melhor a fazer discos agora e isso foi óptimo.

MHD – Somos de uma revista portuguesa online chamada Magazine.HD e adoramos pós-rock. Vemos que raramente há voz na vossa música e quando é usada, é usada…

BB – Mal? [risos]

MHD – … como um novo instrumento. Porque sentiram necessidade de ter uma letra em “Party in the Dark”?

BB – Essa é a nossa [canção] estranha porque é diferente do que costumamos fazer. Geralmente temos uma canção que não soa como estando verdadeiramente acabada e não conseguimos criar uma parte que encaixe. Então o Stuart ou eu inventamos uns versos e cantamo-los, mas é sempre como uma última oportunidade de conseguir ter a canção terminada. Porém, no caso de “Party in the Dark” penso que o Stuart sempre quis, desde o início, que aquela canção tivesse voz. Foi a primeira vez que realmente nos aconteceu ter “Isto é uma canção, porque é suposto ter letra nela”. Por isso, foi novo para nós, fazê-lo assim. Não tenho bem a certeza porquê. Talvez queiramos ser famosos eventualmente!

MHD – “Toda a gente quer ser famosa”, como Superorganism disse ontem!

BB – Yeah!

MHD – Uma pergunta mais pessoal. Vocês vêem-se como um colectivo?

BB – Como um gang? Nós somos muito próximos. Nós damo-nos mesmo muito bem uns com os outros, nunca há um problema, nunca há uma discussão, o que provavelmente é muito raro numa banda, porque sabemos de bandas que têm discussões enormes sobre coisas mínimas e nós não fazemos isso, por isso é bom que tenhamos sido sempre muito bons amigos.

MHD – Vocês encontram algum espaço para a auto-expressão, ter uma voz própria?

BB – Sim, porque há três de nós a escrever canções na banda e não as compomos juntos, fazêmo-lo separadamente, nunca colaboramos, mas quando vamos para o estúdio, eu confio no Stuart, no Dominic e no Martin para fazer as partes deles das minhas canções e penso que o mesmo acontece vice-versa.

MHD – O vosso segundo LP chama-se Come On Die Young. Mas vocês estão bem vivos e em topo de forma…

BB – Muito velhos!

MHD – … bem vivos e em topo de forma, como veremos daqui a pouco…

BB – Nunca se sabe! Estou muito cansado hoje, por isso vamos ver!

MHD – Como é estar a trabalhar com a banda há já tanto tempo, fazerem música juntos? Qual o significado desta história comum?

BB – Penso que… provavelmente há medo de não fazer isto, sabes? Nós queremos realmente fazer isto. Penso que a grande motivação para continuar a fazê-lo é porque se não o fizermos, que faremos? Eu não quero trabalhar num supermercado! Mas também porque realmente adoramos tocar música juntos, especialmente ao vivo, é a coisa que mais satisfaz, é divertido!

MHD – Vai ver o Nick Cave?

BB – É suposto ele entrar em meia-hora?

MHD – Nós já o vimos.

BB – Já o viram? Oh… Sim, gostava de o ver.

MHD – Na primeira porta.

BB – Ah, sim, ah, sim, primeira porta [faz gesto de espreitar]. Olá, homem! Como vai isso [acena]?

MHD – Acho que terminámos.

BB – Sim? Obrigado.

MHD – Obrigado. Tenham um bom espectáculo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *