Na síria

Na Síria, em análise

Em “Na Síria” acompanhamos uma família e amigos que se refugiam num apartamento, em plena Guerra Civil, num dia atribulado onde já ninguém sabe o que é viver – apenas tentam sobreviver.

Este é um daqueles filmes em que o nome diz tudo e, de facto, não poderia ser doutra forma. Em “Na Síria” acompanhamos uma família que vive em Damasco e que tenta sobreviver perante as ameaças da guerra. Oum Yazan, mãe de três filhos, faz tudo para manter o seu apartamento impenetrável, onde ela, o seu marido e os seus filhos, a sua empregada, o namorado de uma das filhas e um casal com um recém-nascido se refugiam.

Filmes que não são documentários mas que retratam a realidade dos nossos dias – especialmente catástrofes deste género – são sempre mais bem recebidos pelo aspeto pedagógico que contêm que lhes confere um valor específico. De facto, este tipo de filmes nunca é demais, porque é importante não só mantermo-nos atualizados, como tentarmos perceber o que é que as pessoas passam nestas situações. Já George Santayana nos tentou alertar: “Aqueles que não se lembram do passado estão condenados a repeti-lo”.

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“Na Síria” passa-se praticamente sempre dentro das paredes do apartamento de Oum, sendo que, mesmo para o espectador, a vista para a rua é sempre feita pelas janelas e os planos incluem, na sua maioria, as laterais da janela (ou semelhante). A câmara segue as personagens a movimentarem-se pela casa, criando por vezes close-ups tão fechados que vemos apenas, por exemplo, a cintura da empregada. Todos estes são aspetos que ajudam a que o espectador se envolva mais na claustrofobia daquelas personagens e nos horrores que elas estão a viver.

Na Síria

Todo o filme se passa num dia apenas, de manhã à noite e o espectador não só acompanha o quotidiano terrível daquelas pessoas como espera pelo pior, especialmente depois de dois suspeitos baterem à porta mais do que uma vez. Infelizmente, o suspense não é maior porque logo no início do filme há um acontecimento terrível. Aliás, é aqui que o filme perde um pouco da sua essência, andando por vezes mais à volta do drama do segredo que Oum e a empregada guardam do que explorando os sentimentos e pensamentos das personagens.

Existem algumas cenas despropositadas como o facto de Halima, mãe do recém-nascido e que esperava fugir com o seu marido ainda durante aquele dia, beijar o aparente namorado de uma das filhas de Oum, cena que se prolonga ao almoço, onde ela se apercebe de algo suspeito entre os dois, abandonando a mesa. Estas duas cenas não têm ligação com mais nada ao longo do filme e o espectador nunca fica a saber de onde veio aquele triângulo amoroso. Não desvia a atenção do tema central (nem havia necessidade disso), mas também não foi suficientemente explorado para ajudar na confusão toda em que aquela casa e os seus habitantes estavam. Uma das coisas que é fácil sentir desde logo, especialmente sem ler a sinopse, é a pouca clareza das relações entre todos os que habitam aquele apartamento e quais deles é que são realmente parentescos de Oum. Mas aqui, apesar de o espectador se poder sentir também perdido neste aspeto, ajuda ainda mais a compreender a realidade do que pessoas como esta família e companhia passam, num espírito de entreajuda e medo constante.

Na Síria

As atrizes Hiam Abbass (Oum) e Diamand Bou Abboud (Halima) destacam-se em “Na Síria”, tendo em comum o facto de serem mães capazes de fazer tudo para proteger os seus. Oum garante sempre a segurança e estabilidade de todos e Halima é submetida a vários atos de violência para defender todos os restantes presentes naquele apartamento, em prol de proteger o seu bebé. Estas duas personagens estão bem caracterizadas, mas existe neste filme uma necessidade de atribuir uma espécie de estereótipo a cada um, por vezes exageradamente. Oum é a mãe que cuida de todos e que dá as ordens, a sua filha mais nova é sempre a que tem mais medo (nem sempre bem representado e por vezes um pouco forçado), o filho representa a inocência de uma criança, para o bem e para o mal e o namorado da sua filha mais velha acaba por ser o espertalhão que ficou ali preso porque não larga a namorada.

A banda sonora é crua e ajuda a criar o ambiente, especialmente no início e fim do filme e o barulho de fundo dos helicópteros e das bombas, umas vezes mais intensamente que outras, são um fator nos faz realmente pensar o horrível que será estar naquela posição, sem nenhum descanso e na interminável luta pela sobrevivência. O silêncio das personagens, substituído por estes sons, fala mais do que qualquer diálogo existente.

Assim, é importante, como já referido, retratar a atualidade e os horrores que a humanidade consegue criar (ao ponto de agirem como animais e não como serem racionais e capazes de sentir empatia) tal como acontece em muitos outros filmes sobre guerras ou semelhante, mas “Na Síria” poderia ser mais profundo ao abordar mais o que todas aquelas pessoas que estão encurraladas sentem, explorando mais intimamente os vários desafios com que se deparam por ser demasiado arriscado sair de casa, criando uma maior empatia com o espectador ao explorar mais certas emoções como o medo, a insegurança e a revolta.

Na Síria
Na Síria Cartaz

Movie title: Na Síria

Director(s): Philippe Van Leeuw

Actor(s): Hiam Abbass, Diamand Bou Abboud, Juliette Navis

Genre: Drama

  • Maria João Sá - 65
65

CONCLUSÃO

“Na Síria” é um filme pertinente pelo seu tema e atualidade, mas não aprofunda suficientemente os horrores vividos, especialmente para quem acompanha de perto as notícias sobre a situação da Síria e que é deparado com informação e imagens perturbantes diariamente.

O MELHOR: O tema do filme, pela sua pertinência e importância.

O PIOR: : O pouco aprofundamento dos sentimentos e pensamentos das personagens; a exploração da intimidade de cada um (ou falta dela) também poderia ser maior, criando um impacto mais forte no espectador.

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