Naked Soldier

Naked Soldier, o retrato de um soldado em minoria

Matando a sede por monólogos vem “Naked Soldier”, uma descrição emotiva acerca do que significa fazer parte de uma minoria social da Áustria nos anos 70.

Num monólogo introspetivo, intimista, mas também bem-humorado, Alwin despe-se tanto dos subterfúgios com que disfarçou a sua homossexualidade como da postura arrogante com que protegeu os seus sentimentos mais doces. ‘Naked Soldier’ constitui tanto um relato da realidade dos homossexuais em Viena de Áustria nos anos 70, como também da fragilidade das emoções humanas recalcadas.

“Naked Soldier”, trata-se de um monólogo que toma lugar na década de setenta, no entanto, poder-se-ia ainda hoje fazer ouvir por muitas cidades Europeias, tratando assuntos como a procura identitária da persona, a necessidade de escapar à normatividade para ser fiel a si próprio e o constante esconder e viver na clandestinidade afetiva. Culminando na questão da masculinidade frágil, em “Naked Soldier” é explorada a ciência do olhar e da observação de um indivíduo, a princípio solitário e deslocado, sobre um grupo onde a as relações de poder são negociadas. Ao mesmo tempo há uma procura pelo significado do que é amar, tentando descortinar as imposições deste conceito numa sociedade movida pelo patriarcado e pela inspiração de força a partir da forma masculina.

“Naked Soldier” é uma adaptação teatral do romance homónimo de Belmon O, com tradução do próprio encenador Miguel Granja. A peça é falada em inglês, no entanto, quer as construções frásicas, quer o próprio vocabulário são simples e de fácil compreensão, não desprimorando a beleza do texto. A representação, levada a cabo por Nils Wilkinson, é exímia, desde a dicção à expressão corporal, passando pela transmissão de emoções e por segurar um palco sozinho durante uma hora, nunca deixando a peça morrer ou largar o público da mão. Ficamos agarrados à personagem que nos conta o seu percurso desde o deslocamento numa sociedade heteronormativa até ao alcance da sua própria liberdade.

O único ponto negativo a apontar seria a escolha dramatúrgica de partir a peça por cenas com recurso a um desenho de luzes que envolve o palco na penumbra. Talvez a escolha seja fundamentada na necessidade da criação uma quebra situacional para a vivência da personagem, no entanto, acaba por afastar emocionalmente o espectador. Provavelmente os constrangimentos lumínicos provirão da falta de meios técnicos que a companhia dispõe ou que o próprio espaço permite, uma vez que olhando para o teto da sala é possível  ver uma pobre teia com apenas um par de fontes de luz.

Depois de quase um mês em cena, “Naked Soldier” teve ontem a sua última representação na sala village, do Village Under Ground, residência artística nos edifícios da Carris, em Santo Amaro.

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