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O Impossível, em análise

 

The Impossible - poster Título Original: The ImpossibleRealizador: Juan Antonio Bayona

Elenco: Naomi Watts, Ewan McGregor e Tom Holland

Género: Drama

ZON | 2012 | 114 min

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Disse-o Julio Verne, sem a mínima hesitação: “Não há obstáculos impossíveis; há apenas vontades mais ou menos enérgicas.”

Decerto que o impossível que aqui mais se realça é a idoneidade humana em domar a Natureza. Perante a grandiosidade fatal da Natureza, o Homem é pouco mais do que um ser mínimo e débil. E se fisicamente o obstáculo parece tornar-se impossível de ultrapassar, então é imperativo que se coloque em prática aquilo que nos liga à psique humana do próximo: o amor.

Mais do que fazer um ‘disaster-movie’, há que fazê-lo credível. E não falamos apenas na componente visual (que o diga Roland Emmerich ou Michael Bay): as ondas artificiais criadas com o auxílio tecnológico que entram pelo sudeste Asiático adentro e devastam todos os obstáculos, sejam eles animados ou inanimados. Apesar dessa evidente (e enormíssima) qualidade técnica, referimo-nos sobretudo à credibilidade do ponto de vista humano e emocional.

J.A. Bayona  (“O Orfanato”)  tinha então dois desafios. Ou, se quisermos, “dois impossíveis”. Primeiro, relatar de forma verosímil um desastre físico em grande escala e particularizá-lo para uma ‘micro-catástofre’ vivida no seio de uma família desmembrada durante o tsunami que assolou o sudeste Asiático, em 2004. Em segundo lugar, e talvez o mais importante, exprimir esse relato verídico através de uma beleza desconfortante.

The Impossible (2)

Seria excessivamente básico recriar o evento que o seu argumento evoca. De facto esse mesmo argumento é até bastante linear e simplista. Não apresenta qualquer tipo de complexidade ou arrojo criativo.

A irreverência de “O Impossível” reside na destreza e engenho de J.A. Bayona atrás das câmaras, exacerbando a simplicidade do argumento e conjugando habilmente os “dois impossíveis”. Tudo resulta numa obra que, não sendo perfeita, é dominada por uma beleza reconfortante e desconcertante.

A câmara de Bayona enamora os paradoxos do enredo, seguindo a mágoa e o traumatismo emocionais dos personagens e rapidamente transforma toda essa dor numa inspiradora e bela busca pela sobrevivência.

impossible

Bayona, no fundo, tem uma formidável capacidade em colocar o espectador no momento da ação, permitindo que este sinta in loco tanto a luta triunfante de uma família pelo reencontro após a desagregação, como as suas dores físicas e mentais depois da tragédia. Para isso, é desprezado qualquer tipo de compaixão pelo desconforto da audiência.

É essencialmente esse desprezo pelos sentimentos do espectador (sejam eles positivos ou negativos) que faz com que “O Impossível” seja um espetáculo quase ‘masoquista’. Tudo porque somos inundados por uma melancolia que nos alimenta o interesse em vê-lo até ao fim.

Fotograficamente é também um dos mais belos filmes do ano. Essa qualidade na cinematografia de Óscar Faura (um dos trabalhos mais subvalorizados do ano) é portentosa na conceção da cena passada na noite da véspera de Natal (data festiva que motiva a deslocação da família referida para a Tailândia). Simples conjugação de cores e contrastes. A prova de que a simplicidade nem sempre é uma fragilidade.

Se ao nível técnico existisse mais algum aspeto a destacar, esse seria a poderosa banda sonora de Fernando Velázquez. O som dos violinos no seu ‘Main Titles’ agoniza toda a amargura e exalta, sempre no timing correto, o êxito do amor.

No complemento da realização de Bayona, há fundamentalmente três peças que rematam o puzzle de um grande filme: Naomi Watts, numa das melhores prestações da sua carreira (e também numa das mais exigentes fisicamente), Ewan McGregor, protagonista da cena (provavelmente) mais arrasadora ao nível emocional de toda a película, e o jovem Tom Holland, aquilo a que se pode chamar um diamante em bruto.

The Impossible

Bem lá no fim assistimos a um final anti-climático, que deita quase por terra todo o balanço melodramático ao longo dos seus 114 minutos. Assiste-se talvez ao momento onde essa componente melodramática está em excesso, querendo-se a todo o custo passar a mensagem de missão impossível completa. Não era necessária mais uma glorificação da resiliência humana porque essa capacidade de superação já havia sido tão bem explorada. Mas nada que lhe retire o brio.

Sem subtexto e sem pretensiosismo, mas com fascínio e comoção, “O Impossível” desafia o espectador às lágrimas, não há como o negar.

DR


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