O Que Fazemos nas Sombras, em análise

 

O Que Fazemos nas Sombras é, simultaneamente, um balde de originalidade no universo vampírico e uma das melhores comédias dos últimos anos.

 

o que fazemos nas sombras

 FICHA TÉCNICA

Título Original: What We Do in the Shadows
Realizadores: Jemaine Clement, Taika Waititi
Elenco: Jemaine Clement, Taika Waititi, Cori Gonzalez-Macuer
Género: Comédia, Terror
Vendetta | 2014 | 86 min

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Façamos um pequeno exercício de projeção: somos todos vampiros. À parte de toda a espetacularidade aparente de sermos, potencialmente, um ser mitológico sensualão, que tipo de dificuldades poderíamos encontrar no mais mundano dos dias?

Afinal não poderíamos confraternizar socialmente no exterior à luz do Sol; nem organizar devidamente uma indumentária catita para uma noite fulgurante de copos (de sangue) porque não conseguimos ver-nos ao espelho; nem entrar num clube badalado se não nos convidarem; nem suportar que o nosso colega de casa se recuse a limpar a badalhoquice que orquestrou quando matou alguém na noite passada.

Resumindo e concluindo, não seria fácil, mas o que é fácil é imaginar agora como esta série de situações poderia gerar comédia do mais alto gabarito. Foi essa a ideia vencedora de Jemaine Clement e Taika Waititi.

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Em Wellington, uma curiosa e corajosa equipa de filmagens mune-se de crucifixos e dentes de alho para tentar filmar um documentário numa casa partilhada por quatro vampiros. Começamos por conhecer o líder assumido Viago, uma figura que se orgulha do aspeto janota e que se queixa recorrentemente dos colegas de casa por se escaparem às tarefas domésticas. Segue-se Vladislav, um macho latino do lado negro, aborrecido por ter perdido o poder que detinha há 800 anos. Deacon é o bad-boy do grupo, sempre descontente e em desacordo com as imensas regras impostas por Viago. Por fim temos Petyr, que do alto dos seus 8000 anos de vida e uma tez que certamente já viu melhores dias, prefere manter-se recluso na cave da casa, longe da convivência com os outros. No entanto, quando os vampiros conhecem os humanos Nick e Stu começa a verdadeira viagem de traços hilariantes à medida que os mortos tentam compreender mais da sociedade atual.

Fazendo pelos vampiros o que “This is Spinal Tap” fez pelas bandas de Rock, “O Que Fazemos nas Sombras” é, na sua génese, uma comédia sobre a dificuldade de ser (MUITO) diferente.

Depois de explorarem o conceito do que seria a vida de vampiro no quotidiano atual na curta-metragem “What We Do In the Shadows: Interviews with some Vampires” (2005), Taika Waititi e Jemaine Clement decidiram aproveitar a mesma ideia para concretizar, nove anos depois, a respetiva longa-metragem.

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É verdade que, a certa altura, parece tornar-se longo demais para o seu próprio bem, um problema comum no sub-género do “mockumentary”, especialmente quando se tenta criar uma história a partir de 120 horas de improviso louco – pois foi assim que se edificou, efetivamente, esta comédia que demorou aos realizadores um ano a editar. Mas este é um género incrivelmente limitado, e Wititi e Clement demonstram um engenho particularmente notável a domar a besta.

O argumento navega de forma dinâmica por todos os elementos para encontrar o humor na forma como os personagens se relacionam entre si – mas a genialidade do mesmo encontra-se na exploração das inseguranças de cada personagem que acaba por torna-los tão… humanos. São assassinos imortais que, no fundo, têm os mesmos desejos e os mesmos medos que o comum dos mortais.

Outra das jogadas de mestre da produção foi associar cada um dos protagonistas a diversos ícones mitológicos que já passaram pelo grande ecrã ao longo dos anos. Viago representa claramente a era vitoriana de “Entrevista com o Vampiro” (1994), Vladislav mantém o sex-appeal europeu de “Dracula” (1992), Deacon parece inspirado na natureza malandra de “Os Rapazes da Noite” (1987) e por fim, Petyr partilha claras semelhanças com o ícone “Nosferatu” (1922).

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Waititi e Clement criaram não só uma das melhores comédias dos últimos anos como uma fantástica adição ao cânone do Cinema sobre Vampiros. “O Que Fazemos nas Sombras” é um filme que grita por visionamentos repetidos, alimentados por um diálogo pejado de citações de platina, de gags que possivelmente se tornarão objetos de culto e de piadas secundárias que certamente perdemos quando estávamos a rir à gargalhada da primeira vez.

E é esta natureza da possibilidade de repetição que separa uma grande comédia de uma comédia mediana ou medíocre. É isto que separa “Ghostbusters”, “This is Spinal Tap” e “Monty Python e o Cálice Sagrado” dos restantes. E é com alguma segurança que dizemos que, a partir de hoje, “O Que Fazemos nas Sombras” faz também parte desse restrito grupo imortal.

 

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