Penny Dreadful T1 | Primeiras Impressões

 

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  • Título Original: Penny Dreadful
  • Produtores: Showtime
  • Criadores: John Logan, Sam Mendes
  • Elenco: Josh Hartnett, Timothy Dalton, Reeve Carney, Harry Treadaway, Eva Green, Billie Piper,
  • Género: Drama, Horror, Sobrenatural
  • 2014 | EUA | TVSéries HD | Domingo | 05h25m

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” I tried to pray that night and God didn’t answer me, but another did.

                                                                                                                                      Vanessa Ives

 

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Redigidas no tremor abrupto de um susto repentino, as Penny Dreadfuls eram os “centavos de terror” mais consumidos da sociedade britânica do séc. XIX. Imaginem um “Borda d’Água” imprimido na tipografia do “Frankenstein“, e terão uma ideia grotesca desta literatura fugaz. E era assim, que o povo londrino bombeava os soluços de sangue pelas suas veias deslumbradas de superstição, enquanto a ciência da revolução industrial fazia propaganda ao enigma de Deus.

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Imbuída no fenómeno sobrenatural do espiritismo post-mortem, a Londres vitoriana de 1891, parece ter levado à letra a consagração dos seus monstros de revista. E é na plenitude desse ceticismo primário, que Sir Malcom Murray (Timothy Dalton) e Vanessa Ives (Eva Green) desmontam o tabu darwinista que evolui dos despojos humanos no covil das sombras sem mestre. Até mesmo na inevitabilidade de tais encontros imediatos de terceiro grau, nada impede Ethan Chandler (Josh Hartnett) de se alistar naquele “rodeo” vampírico, na demanda missionária de reencontrar os sinais terrenos de Mina Murray.

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Batimentos cardíacos que irrompem ferozmente sob a forma de visões clarividentes, dirigidas intimamente ao senhor explorador como uma maldição do passado. O ar carrancudo e solitário até poderia ser uma herança dos velhos tempos de espião sem vontade para “flirts”, mas a classe e o carisma têm ordem para “matar”, mesmo que Timothy Dalton regresse como vilão paternal em negociações por um perdão emocional. E enquanto a família Murray não se reúne para um tratado de paz, a “Liga dos Cavalheiros Extraordinários” vai caçando vampiros com os poderes psíquicos de uma médium e os tiros certeiros de um pistoleiro do Faroeste.

Episode 101

Até parece coisa de Tarô, um Bond reformado e uma antiga “Moneypenny” a fazerem “Centavos de Sangue“, como dois agentes secretos a batalhar no submundo. E quando a enciclopédia de demónios ascende ao corpo de Miss Ives, não há exorcismo que valha para travar aquele olhar revirado, enquanto o show de contorcionismo prossegue ao mais alto nível carnavalesco. É como almoçar com a cara de sempre e jantar com uma máscara desconhecida, em função dos quartos vagos para os hóspedes malignos entrarem e sairem “à la carte”. Eva Green é um “cartoon” com botão de stop e play, um espetáculo à parte digno de uma bilheteira esgotada.

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E se já tinhamos presenciado uma Vanessa Ives com queda para o teatro, Ethan Chandler é a atração principal da paródia armada que reconstitui a batalha do “General Custer” contra os índios americanos. Qual Capitão “Nathan Algren” a fazer piruetas com pólvora seca para entreter as hostes fáceis, sob a vista de recrutamento da “viúva negra”. Mas, fora do horário festivaleiro, Chandler até consegue ser um gentlemen cordial e altruísta, algo que deverá sair com naturalidade a Josh Hartnett. Depois de “Pearl Harbor”: é tempo de montar a cavalo e bombardear criaturas inimigas como um “Blade”, engatar umas miúdas giras sem nome, dizer umas piadas engraçadas, e guardar um ou dois segredos na algibeira.

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Igualmente talhado para o sucesso, o Dr. Victor Frankenstein (Harry Treadaway) é uma espécie de anatomista romântico, que vive obcecado com o fenómeno galvinista como fonte originária da vida. Metódico e pragmático, respira as suas ideias com um fervor incorruptivel, próprio da tenra idade daqueles sonhadores que se acham capazes de revolucionar o mundo. Harry Treadaway preconiza esse tipo de homem à margem do seu tempo, enclausurado numa dissecação carnal que poderá ter tanto de gratificante como de sinistro.

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Dorian Gray (Reeve Carney), a alma imortal aprisionada na sua própria pintura, é o retrato libertino da luxúria e depravação. A sua presença é como a libertação de uma feromona que reverte qualquer renúncia, instigada pelo desejo da sua mente empiricamente fantasiosa. Nessa condição de galã sem idade, Reeve Carney é exemplar na tradução dos seus atributos físicos em impulsos primitivos muito próprios de um predador.

Episode 104

“Dreadful” vai beber às fontes originárias da literatura clássica de terror: o estilo esquartejante de “Jack, o Estripador” funde-se com a mordidela canídea do “Drácula” de Bram Stoker, e a lobotomia pioneira de Frankenstein é agraciada pela juventude eterna de Dorian Gray. No fundo, é como oferecer um modos operandi complementar para elevar a carnificina a um novo patamar de revolta estomacal. E se as entranhas correm o risco de extrapolar num salto de morte, ao menos fazem-no artisticamente, provocando aquele arrepio na espinha que suga o oxigénio circundante. “Penny Dreadful”, é um poema de terror com requinte e sofisticação, que vale muito mais que um centavo e não menos que um Emmy.

P.S – “The monster is not in my face, but in my soul.”

MS

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