Projecto Casa Assombrada | O medo (não) é psicológico

Não quisemos dar uma simples notícia e falar sem conhecimento – lemos tudo o que havia a ler, enchemo-nos de coragem e entramos na Casa mais assombrada do país… mas ao percorrer as várias assoalhadas do tenebroso palacete de Belas, a valentia transformou-se rapidamente em terror puro.

Se guardas com saudade a memória da Casa Assombrada da Feira Popular, ou daquelas célebres Passagens do Terror que se multiplicam como cogumelos nas grandes metrópoles europeias… podes continuar a guardá-las com nostalgia, porque o que  o Projecto Casa Assombrada tem para te oferecer é algo completamente diferente… e muito mais negro.

casa1

Lê mais: Hotel de Shining transformado em Museu de Terror

Desde junho de 2015 que as portas da Quinta Nova da Assunção em Belas (Sintra) estão abertas ao público para uma experiência inédita e verdadeiramente arrepiante. O evento – que é da responsabilidade da Reflexo: Associação Cultural e Teatral, que em 2011 estreou pela primeira vez em Portugal o conceito de visitas guiadas a uma casa assombrada em Alcântara – gira em torno de uma aterrorizadora visita a um palacete de estilo neoclássico do século XIX, uma propriedade com mais de 25 assoalhadas e extensos jardins, em Sintra e que tem no currículo uma série de pouco inocentes episódios insólitos relacionados com o terror e o sobrenatural.

Das ditas histórias particulares e nada mundanas nada revelaremos, pois a experiência merece ser sorvida com a maior ignorância possível, mas assertamos o seguinte: todas elas são reais e igualmente vitais para vos ajudarem na tempestuosa tarefa de tentar encontrar o caminho para fora da mansão. 

Estabelecidas as requisitadas explanações e explicações sobre o projeto em causa, partimos então para as considerações sobre a experiência.

casa2

São nove os corajosos que compõem cada um dos seis grupos que, de meia em meia hora, ousam atravessar a penumbra do palacete sintrense todas as noites. A nossa tropa composta por audaciosos cavaleiros da luz – entre membros da MHD e respetivos familiares curiosos – apresentou-se ao serviço a tempo e horas da segunda sessão de terror noturno.

A bravura, aquela que se foi esvaziando em pingos grossos ao longo de um dia inteiro de antecipação, rapidamente se esfuma quando somos informados de que, afinal, enfrentaremos os pavores da muy misteriosa habitação em sub-grupos de três elementos. Rapidamente recebemos um breve briefing sobre a natureza da casa, aquilo que encontraremos e as regras que devemos cumprir (nomeadamente, banir quaisquer instrumentos eletrónicos ou passíveis de produzir luz). É que, afinal de contas, isto também é um jogo para ser jogado com as respetivos preceitos – os visitantes são orientados pela penumbra apenas com um audioguide, e assim caminham pelas vastas assoalhadas da propriedade tentando deslindar, com pouco mais do que os próprios sentidos, coragens e temores, as pistas necessárias para encontrar a saída. O problema é que, evidentemente, nunca sabemos se estamos sozinhos… ou nunca estamos verdadeiramente sozinhos.

casa3

Lê também: Quanto tempo sobreviverias num filme de terror?

Se metade do tempo o poder da sugestão chega para nos alimentar a paranóia, o restante chega para nos disparar descontroladas taquicardias enquanto corremos desorientados na escuridão em fuga constante de figuras cujos traços mal conseguimos deslindar. Ao mesmo tempo, devemos dominar a carga de nervos descomunal de um iminente encontro inesperado para procurar as pistas que nos são indicadas em cada divisão… mas quais serão os verdadeiros sinais do caminho a seguir e quais serão os meros iscos para nos desviar a atenção de um apoteótico susto repentino?

Entre salões de estar, quartos de arrumos, dormitórios e cozinhas, deslizamos por diversos cenários de acontecimentos macabros, ouvindo as histórias que não conseguiremos esquecer, mal distinguindo os semblantes daqueles que os nossos pesadelos não deixarão de evocar.

Com a cabeça já desorientada dos vários minutos de escuridão e gritos e com o coração acelerado pela sucessão de encontros sinistros chegamos, a muito custo mas já com a certeza de uma experiência valorosa, ao mal-fadado segundo piso do palacete.

casa4

A segunda fase, já sem audioguide, parece trazer boas novas – aqui reúne-se novamente todo o grupo de nove elementos apenas para que uma nova bomba informativa nos desfaça os minguados resquícios de coragem que restam. É que agora só se continua a solo – razão mais do que suficiente para perdermos rapidamente dois elementos do nosso grupo, que suficientemente afetados pelo árduo percurso do piso inferior, se decidiram incapazes de olhar o medo nos olhos sem poder estrangular a mão de um companheiro próximo.

Os restantes sete cavaleiros do desassombro seguem em frente, uns mais seguros que outros, para um imenso corredor que se divide em 11 portas para o desconhecido. Com intensidades diferentes (mas desconhecidas) de medo e pavor, apresentam inalcansáveis possibilidades dos bichos papões ao serviço, mas entre estas estão as derradeiras pistas sobre a saída do palacete que por esta altura nos parece cada vez mais apertado, claustrofóbico.

Graças ao sangue frio de uns, que contrastou com o puro horror de outros (que, em boa verdade, é sempre digno de uma valente gargalhada no final de tudo), o pesadelo terminou com um final feliz e o que sobrou de tudo isto foi uma intensa e inacreditável experiência para partilhar.

casa5

Lê ainda: Ícones do terror com instruções do IKEA

Intensamente pavoroso e incrivelmente bem organizado, o Projecto Casa Assombrada é uma experiência imersiva de primeira qualidade – entre aparições, sombras, portas que batem, tábuas que rangem, sopros frios, arrepios na espinha gritos e lágrimas, há um pouco de tudo para os amantes do terror e da adrenalina em geral.

Organizado por um grupo de responsáveis que não só compreende e respeita o Medo mas também os seus entusiastas, este percurso de terror polvilhado por deliciosos enigmas pontuais é uma tremenda explosão sensorial que, por razões óbvias, não é aconselhável ao público mais sensível. No entanto, e se te achas verdadeiramente capaz de enfrentar o medo garantimos-te um serão muitíssimo bem passado… só não prometemos que consigas adormecer logo à noite…

As visitas do público à Casa Assombrada de Belas decorrem às quintas, sextas e sábados, entre as 21h30 e as 24h00, no horário de verão, e são sujeitas a marcação prévia – de facto, o projeto tem estado continuamente com sessões esgotadas desde que abriu portas. A entrada não é permitida a menores de 16, nem aconselhável a grávidas ou a pessoas com problemas cardíacos. O custo por pessoa é de quinze euros.


Também do teu Interesse:


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *