Os melhores guarda-roupas de 2016 | 5. Salve, César!

Sereias cintilantes, marinheiros energéticos, centuriões coloridos e ídolos de matiné elegantes são apenas algumas das figuras que Mary Zophres vestiu em Salve, César!

 


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Apesar do que pode parecer se olharmos para as muitas listas de prémios e honras que tanto caracterizam a Awards Season, La La Land não foi o único filme de 2016 a homenagear e referenciar o esplendor da era dourada de Hollywood. Muito antes do musical de Damien Chazelle ser apresentado pela primeira vez no festival de Veneza, já os irmãos Coen tinham lançado o seu mais recente filme, Salve, César!, uma comédia satírica que mescla cinefilia nostálgica com uma dissecação concetual da culpa católica. Não que este seja um artigo sobre argumentação teológica, longe disso, pois estamos aqui para celebrar um dos elementos mais alegremente superficiais deste filme, o seu fabuloso guarda-roupa.

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E desengane-se quem pensa que a menção de La La Land é despropositada pois, para além do seu amor pelo passado do cinema americano, estes dois filmes são ligados pelo trabalho de uma mulher, a figurinista Mary Zophres. Para além disso, apesar de um filme se passar na Los Angeles dos nossos dias e outro na Hollywood dos anos 40, ambos são caracterizados por uma aura anacrónica sobre todas as suas figuras, cujas roupas parecem mesclar épocas e criar uma realidade meio indefinida que apenas pode existir nos plateaus dos grandes estúdios.

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Para quem não prestar muita atenção aos detalhes cronológicos e históricos, Salve, César! poderá parecer uma comum recriação do passado. Só que, entre cenários, figurinos e referências textuais, os anos 30, 40 e 50 manifestam-se em incestuosa coexistência nesta narrativa que, efetivamente, ocupa somente um dia na vida de Eddie Mannix, uma figura real da História de Hollywood. Como consequência, os figurinos edificados por Zophres são um curioso híbrido entre fidedignidade histórica e uma colagem sonhadora que acaba por conjurar um visual tão ou mais artificial que o dos filmes referenciados nesta obra.

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Com tudo isso em conta, convém esclarecer que, não obstante os detalhes de fusão temporal que Zophres e restantes cineastas vão espalhando pela narrativa, Salve, César! atinge as suas maiores glórias não quando está a registar os absurdos que ocorrem por detrás das câmaras, na “vida real”, mas sim quando se deixa inebriar pelas glórias fantasiosas da MGM nos seus anos áureos. Seguindo essa linha de pensamento, por muito intelectualmente fascinante que seja ver como a personagem de Scarlett Johansson referencia estrelas dos noirs dos anos 50 ao mesmo tempo que veste roupas do início da década de 40, é ainda mais excitante ver a sacarina espetacularidade de um número musical protagonizado pela atriz disfarçada de sereia com cauda de lantejoulas. A juntar-se ao divertimento temos Channing Tatum como uma versão híper camp de Gene Kelly num fato de marinheiro, um estúdio inteiro aprumado em sedosos vestidos à la Charles James e uma equipa de figurantes a encarnar uma versão Technicolor da Antiga Roma.

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A única figura capaz de rivalizar com os excessos das fantasias musicais e melodramáticas da MGM de Salve, César! é a que Tilda Swinton interpreta. Ou melhor o par de figuras encarnado por essa iconoclasta atriz escocesa que aqui enverga alguns dos mais extravagantes figurinos da sua filmografia. Nos papéis de Thora e Thessaly Thacker, Swinton é um desfile de moda concentrado numa só atriz, ao mesmo tempo que representa uma homenagem exagerada às mais infames colunistas que aterrorizaram a Hollywood dessa época, Louella Parson e a venenosa Hedda Hopper. Em impecáveis fatos com pormenores assimétricos, chapéus insanos, esquemas cromáticos mirabolantes e uma estética que transcende normais noções de elegância e ridículo, estas indumentárias deveriam, num mundo justo, valer a Zophres uma garantida nomeação ao Óscar.

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Infelizmente, ou felizmente dependendo da perspetiva, o trabalho de Zophres neste filme dos Coen parece destinado a ser ofuscado por títulos mais recentes, nomeadamente La La Land, pelo que a figurinista pode ainda arrecadar uma nomeação dia 24 deste mês. Mesmo assim, o seu feito em Salve, César! é de incomensurável valor e triunfante glória, especialmente quando temos em consideração as dificuldades económicas que marcaram esta produção. A certa altura, Zophres teve de dispensar a sua equipa e ficar ela própria a costurar as roupas. No final podem perguntar-se como é que Tilda Swinton está tão faustosa, mas a resposta é simples – quando lhe apresentaram o projeto, os irmãos Coen tiveram uma muito importante direção, apontando para as personagens de Swinton e afirmando: “É aqui que gastas todo o dinheiro.” Boa decisão!

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Dos excessos dos estúdios de Hollywood, a nossa lista vai fazer uma viagem geográfica e temporal até á Escócia Medieval, onde, longe da realidade histórica, as roupas transpiram a mística fantasiosa da tragédia Shakespereana.

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