Star Wars: Os Últimos Jedi | Os novos figurinos de Rey
Em “Star Wars: Os Últimos Jedi”, os figurinos de Rey, a grande heroína desta nova era da saga, ajudam a ilustrar as relações da personagem com outras figuras e forças em ação nesta guerra do bem contra o mal.
[ESTE TEXTO CONTÉM SPOILERS!]
Em “O Despertar da Força”, o figurinista Michael Kaplan edificou o look da nova protagonista da saga através de um jogo de iconografia nostálgica. O que isto quer efetivamente dizer é que Kaplan vestiu Rey como uma versão moderna e feminina de Luke Skywalker, aquando da sua primeira aparição no “Star Wars” de 1977. Desde o uso de linho e ligaduras para a vida no deserto até ao cruzar de camadas de tecido sobre o peito, o traje de Rey é como que um eco do de Luke, denotando o seu estatuto heroico dentro da narrativa. Para fãs de Star Wars, bastava um vislumbre de Rey para sabermos que ela era a heroína suprema em volta da qual a história se iria desenvolver.
Nesta mais recente aventura, Kaplan manteve muito do mesmo estilo básico com que Rey havia sido introduzida no filme anterior. Talvez a sua alteração mais radical e significativa seja mesmo a escolha de cor. Bege, cru e creme dominavam a figura de Rey em “O Despertar da Força”, ligando-a à lenda de Luke assim como ao seu lar desértico em Jakku. Por muito que a jovem heroína se movesse por entre naves espaciais e lutasse destemidamente com Kylo Ren no meio de um arvoredo gélido, o seu guarda-roupa definia-a sempre como uma forasteira, uma rapariga do deserto a descobrir mundos novos e chocantes. Em “Os Últimos Jedi”, os tons arenosos foram deixados para trás, em prol de tons de cinza e alguns detalhes mais escuros e lamacentos.
Tal dinâmica volta a demarcar a relação de Rey com a paisagem envolvente. Agora, Rey já não é aquela rapariga do deserto, muito pelo contrário. Luke pode querer expulsar a sua sucessora narrativa da ilha sagrada dos Jedi onde ele tem vivido como um eremita em autoexílio, mas as roupas de Rey claramente mostram ao espetador que ela pertence a este ambiente de rochas negras e céus tempestuosos. Para além disso, as roupas da protagonista do novo episódio da saga Star Wars estão quase sempre em concordância com a paleta cromática de Luke, ligando-a a ele mesmo quando o velho Jedi veemente rejeita a ideia de a ter como sua aprendiza.
No que diz respeito à morfologia e silhueta dos seus dois principais figurinos, Rey continua a exemplificar uma ideia de utilitarismo e modéstia. Para além do lenço cruzado sobre o peito, que cada vez mais parece um apontamento de ares nipónicos e uma manifestação do estilo tradicional Jedi no traje de Rey, e de algum acolchoamento nos ombros de um colete cinzento, a protagonista de “Star Wars: Os Últimos Jedi” raramente enverga qualquer tipo de decoração supérflua. Por outras palavras, quer esteja a vestir um poncho para a proteger da chuva ou botas rasas e sem grande aparato, Rey parece sempre vestir-se de modo prático e, acima de tudo, preparada para qualquer batalha que possa inesperadamente acontecer.
De facto, quando a jovem aspirante a cavaleira Jedi é recebida por Snoke na sua opulenta sala do trono, o seu traje nunca se mostra de todo impeditivo para o combate. Nesta sequência, cheia de gloriosas imagens e contrastes entre movimento coreografado e potente monocromia escarlate, as dinâmicas subjacentes aos figurinos de Rey alcançam a sua apoteose. Ela não pertence a este mundo de opressão desumana, pelo que o cinzento e castanho do seu traje cheio de texturas misturadas é uma eletrizante antítese visual da perfeição do espaço em preto, branco e vermelho e dominado por linhas severas. Por muito que ela possa querer controlar os seus poderes e não tema confrontar o Lado Negro da Força, o seu lugar é com os Jedi, que o seu guarda-roupa referencia em material e estilo, e não com os Sith e sua negrura armada e opulente.
De modos subtis ou óbvios, os figurinos ajudam a contar visualmente a história de Rey, delineando a sua relação com ambientes e personagens de modo imediato e visceral. Pelo final, ela continua a ser a mesma Rey de antes, mas também cresceu. O desenho do seu figurino continua a posicioná-la como uma espécie de ícone imutável do universo Star Wars, mas a paleta cromática mais sombria revela um crescimento, tal como aquele outrora evidenciado por Luke quando trocou o linho arenoso e os uniformes militares pelo traje negro e quase eclesiástico com que confrontou Darth Vader e o Imperador.
Uma leitura generosa de tal evolução gradual, que termina em cinza e não em preto, é que, tal como “Os Últimos Jedi” parece sugerir, não existem binários morais. Luke, o grande herói da trilogia original que teve suficiente compaixão para ver um rasgo de humanidade na figura de Darth Vader, considerou matar o sobrinho por ver nele o potencial para o mal. Kylo Ren, por muito monstruoso que seja, é assombrado pela dúvida e pelo potencial remorso. Rey parece capaz de entender tais gradações morais, renegando a simplicidade do bem contra o mal e do preto-e-branco. Também “Star Wars: Os Últimos Jedi” luta para se distinguir do legado mítico que o antecedeu e sua moralidade folclórica, apesar de continuar a referenciar os ícones do passado na criação dos ícones do presente e do futuro.
No próximo artigo desta série, iremos explorar os figurinos de Luke em “Star Wars: Os Últimos Jedi”. Aí, no entanto, a nossa investigação vai incidir muito sobre as pistas que Kaplan nos dá acerca de alguns desenvolvimentos chocantes na ação e história deste novo episódio da saga Star Wars. Não percas!