O Fantástico Homem-Aranha – Banda Sonora em Análise

 

 Título Original: The Amazing Spider-Man
 Realizador: Marc Webb
 Compositor: James Horner
2012| 75 min

 

 

 

Eu sou do tempo em que ligava o canal três da TV logo pela manhã para ver as aventuras do   Spider-Man. Sou também do tempo em que estes heróis faziam, acima de tudo, parte do nosso imaginário e das nossas fantasias, porque no fundo ainda não existia o youtube nem os downloads como os conhecemos hoje. Daí que só tínhamos acesso ao homem-aranha naqueles dias em que não havia escola e que depois de passados os episódios da “Sailor Moon” acabávamos por ter o nosso momento: O Fantástico Spider Man!Em 2002 materializou-se em carne e osso um dos grandes heróis da Marvel, e assim o génio de Sam Raimi trouxe Tobey Maguire para encarnar o tímido Peter Parker: neto encavacado durante o dia, e amante-heroi durante a noite!Nessa altura não ligava a bandas desenhadas da mesma forma que hoje. Dantes lia a caixa dos cereais enquanto tomava o pequeno-almoço, agora vou-me deitar imerso em quadradinhos e personagens que eu julgava que só a minha imaginação podia criar. E se em 2002 a estreia do filme do homem-aranha foi um dos meus grandes momentos de êxtase do ano, agora fico logo de pé atrás só de pensar na ideia de trazer de novo o homem-que-sobe-paredes-com-as-mãos para o cinema.Tobey Maguire era um bom homem aranha, acertou no look e parecia realmente que os textos eram dele; Sam Raimi é que não conseguiu aguentar muito bem o barco, e quando “Drag Me To Hell” passou a ser um filme bem mais fácil de digerir do que o grande “Homem-Aranha 3”, algo estava profundamente errado.Tudo isto para falar da música de James Horner.

Eu que no fundo nem sou assim de um tempo tão longínquo, tenho tempo suficiente para conhecer filmes como “Titanic”“Braveheart” ou “Avatar” (o mau avatar! porque o bom, o Sr. Shyamalan teve o prazer de o estragar). Todos estes filmes, uns mais aclamados que outros e de formas bem diferentes, têm bandas sonoras originais de James Horner. E eu tenho um carinho gigante por Horner. Claro que esta admiração por Horner não é consequência destes três filmes (mesmo que dentro das comunidades aficionadas por bandas sonoras, a BSO de “Braveheart” seja uma das que maior júbilo provoca.), e apesar de eu ser um fã incondicional da saga “Alien” também não foi aí que Horner me conquistou.

A grande revelação foi “A Beautiful Mind”.

Russel Crowe teve dois grandes momentos durante a minha adolescência, mostrando-se um actor de uma profunidade imensa: “Cinderella Man” (2005) com uma fascinante banda sonora de Thomas Newman e “A Beautiful Mind” (2001) com uma banda sonora de James Horner. Ambos os filmes (de Ron Howard) tratam de uma pesquisa do que é ser um bípede emocional, ser vivo e do quanto desmembrados podemos ser, por muitas ferramentas que tenhamos à nossa disposição. Claro que não só de imagens e de personagens se faz um filme, e entre o movimento e a acção surge também o som. Thomas Newman compõe uma forte banda sonora que tão depressa nos deixava na ânsia de sair e correr, como nos tira o chão e mostrava que acima de tudo, tudo o que somos, somo-lo por dentro.

Em “A Beautiful Mind” James Horner seguiu um caminho bem diferente de Newman mas igualmente genial, escreveu para e sobre o interior, da parte emocional do bípede. A força era encontrada na sua própria ausência, na pintura de uma viagem feita para dentro, de um olhar para o eu, expresso através de um conjunto de cordas, madeiras, metais e coro. E foi nesse momento que percebi que nunca mais iria olhar para a banda sonora de um filme da mesma forma.

E agora que ficou mais que esclarecido que James Horner é um dos compositores pelos quais me apaixonei durante a adolescência e que apesar de até à data nunca mais ter criado uma banda sonora que tivesse em mim tanto impacto como o registo de 2001, percebem que, quando soube da notícia que seria Horner o compositor para “The Amazing Spider Man”, todo o meu interesse e excitação para com a nova cara do homem-aranha mudou drasticamente. De repente parecia que tinha voltado aos meus 12 anos e que estava à espera que o episódio de “Sailor Moon” acabasse para ver finalmente o fantástico homem aranha!

“The Amazing Spider-Man” , de James Horner

Com alguma pena minha este não é um daqueles casos em que ter pouco para falar de algo é sinónimo da sua inquestionável qualidade, onde apenas um conjunto de palavras robustas assegurariam que comprar a banda sonora em questão e correr desenfreadamente para casa para ouvi-la, seria a única prática aconselhável. Não, este não é o caso.

A banda sonora de “The Amazing Spider-Man” de 2012 não é nada mais que um registo seguro, feito para servir a acção e os seus desfechos. Não é uma má banda sonora, são 75min de música que até dão algum gosto em ouvir, digerem-se com facilidade, mas com alguma tristeza minha, não passam disso, de um digestivo.

Em alguns momentos, Horner chega a fazer lembrar Danny Elfman – compositor da BSO para Sam Rami, o que não é propriamente uma boa comparação, já que o próprio Elfman na altura fora criticado por ter criado um tema que não era heróico suficiente para aquela que é uma das mais adoradas personagens da Marvel. Mas se esta é uma composição que se destina a acompanhar a ação e tem pouco de excitante, porque é que ainda acaba por receber uma atenção considerável? Porque o compositor de “The Amazing Spider Man” é James Horner.

Peter Parker é uma personagem difícil, e quanto mais dificeis as personagens mais profundidade precisa de ter a sua música, e é aí que Horner resolve esta banda sonora. A carga emocional de faixas como “Ben”s Death” ou “Rooftop Kiss” fazem dos restantes temas um conjunto de interlúdios para aquilo que Horner realmente tem a dizer, e “Main Title (Young Peter)” é a mostra disso mesmo, possivelmente a melhor música do álbum, que faz de Spider-Man não só um heroi que sabe dar uns bons socos, mas um Herói que tem uma pessoa por de trás da máscara.

Posso ter ficado um pouco triste por o Fantástico Homem-Aranha não ter conseguido fazer parte do top das melhores bandas sonoras do meu verão, e apesar de grande parte das faixas serem temas que serão esquecidos já para o próximo mês, existem ainda algumas pequenas, mas boas, razões para descobrir esta banda sonora: vale sempre a pena voltar a ouvir James Horner.

E se não é este o grande hit de verão, teremos que nos contentar com Zimmer e o Cavaleiro das Trevas!

GD