Top 2015, guarda-roupas | 05. Timbuktu
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Timbuktu é um filme em que o fundamentalismo islâmico é forçado sobre uma comunidade, sendo que os figurinos tomam posição de destaque na representação visual do conflito de ideias, valores e moralidades.
O mais recente filme de Abderrahmane Sissako, Timbuktu, é um dos mais belos filmes a agraciar os cinemas portugueses em 2015, sendo em simultâneo uma das mais duras e sofredoras obras deste mesmo ano. O filme torna-se uma pintura do sofrimento e injustiça despoletado pela invasão da cidade titular no Mali por fundamentalistas islâmicos que impõe sobre a comunidade as suas rígidas regras e tirano poder.
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Visualmente, o filme é dominado pelo azul do céu e o intenso dourado do deserto em que a ação decorre, criando um ambiente em que a própria paisagem parece expressar um conflito entre duas ideias em oposição. Esta magnífica pintura cinematográfica é, no entanto, complementada por fortes pinceladas de variadas cores, quebrando este equilíbrio natural. Essas pinceladas são consequência das coloridas vestes usadas pelo elenco, que na sua intensidade cromática parecem exacerbar a pulsante humanidade das suas personagens.
Ami Sow foi o responsável pela concretização destas importantes vestimentas, concebendo uma genial coleção de roupas que torna explícito, a partir de fortes códigos de vestuário, o modo como o radicalismo é forçado sobre a vida de uma população inocente. Aos poucos, a cor que complementava o ambiente natural, vai-se esvanecendo e sendo substituída por um sufocante preto, e as esvoaçantes vestes cheias de detalhes e contrastes dão lugar a pesados conjuntos que claramente são uma prisão em forma de vestuário.
Se há algum filme que, em 2015, mostrou a importância do vestuário na vida de uma pessoa em sociedade, foi Timbuktu, mostrando a subversão da individualidade humana e a injustiça da tirania religiosa no simples calçar de um par de luvas pretas.
Os figurinos de Timbuktu não serão certamente dos mais vistosos de 2015, mas são dos mais primorosos no modo como apoiam a narrativa do seu e traduzem em forma de roupa as suas complexas e importantes ideias.
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