Juliette Binoche em Hana a enfermeira de 'O Paciente Inglés' | ©Berlinale

Juliette Binoche em Cannes 2025 não assinou o manifesto contra o silêncio em relação a Gaza | Diário do Festival de Cannes 2025 (Dia 2)

Juliette Binoche preside o júri do Festival de Cannes 2025 com uma mensagem clara sobre o papel transformador da arte. Ao mesmo tempo, um manifesto subscrito por mais de 380 figuras do cinema internacional denuncia o silêncio da cultura perante a guerra em Gaza. O primeiro dia do festival ficará marcado por este forte apelo à consciência artística e política do setor.

Juliette Binoche assumiu a presidência do júri com com uma visão artística e ética da sua importante tarefa de atribuir a Palma de Ouro 2025. De facto, a presidente do júri da 78.ª edição do Festival de Cannes 2025, um ícone do cinema europeu, vencedora de um Óscar e distinguida nos festivais de Cannes, Veneza e Berlim, defende uma arte que transforma: “Se não precisa de algo novo, é melhor não se dedicar à arte.”, afirmou Juliette Binoche numa longa entrevista ao jornal Le Monde.

Juliette Binoche
A actriz no papel que a revelou para o mundo em ‘A Insustentável Leveza do Ser’. | ©Berlinale

Com mais de 70 filmes no seu currículo, Juliette Binoche trabalhou ao longo da sua carreira com realizadores como Kieslowski, Kiarostami, Leos Carax ou Claire Denis. Fora dos ecrãs, tem sido uma voz ativa em questões sociais, ambientais e na defesa da ética no trabalho artístico — nomeadamente no que toca à intimidade e aos direitos dos atores. Binoche falou ainda abertamente sobre abusos na indústria e defende que os intérpretes devem ter mais controlo criativo, inclusive na montagem final das obras. A sua presidência do júri do Festival de Cannes 2025, surge num momento sensível para o cinema francês, marcado por denúncias de violência de género e pela exigência de maior responsabilidade institucional, marcado obviamente pelo caso Depardieu.

Pedro Almodóvar
Pedro Almodóvar é uma das vozes do cinema, que assina o manifesto de Gaza. ©José Vieira Mendes

Vozes contra o genocídio em Gaza

Entretanto, várias vozes do cinema romperam o silêncio sobre Gaza. Na véspera da cerimónia de abertura do Festival de Cannes 2025, um manifesto internacional abalou o panorama cultural. Publicado nos prestigiados jornais Libération e Variety, o manifesto denuncia o silêncio do mundo artístico perante a guerra em Gaza. Assinado por cerca de 380 figuras do cinema — incluindo Pedro Almodóvar, Susan Sarandon, Richard Gere, David Cronenberg, Ruben Östlund, Xavier Dolan, Mike Leigh, Nadav Lapid, Julie Delpy e Javier Bardem — o manifesto exige uma posição clara contra o que descrevem como um genocídio: ‘O nosso silêncio seria uma forma de cumplicidade. O cinema não pode ignorar os horrores da realidade. Deve continuar a ser um veículo de consciência e de resistência.’ Segundo a AFP, Juliette Binoche terá inicialmente apoiado o manifesto, mas o seu nome foi posteriormente removido da lista publicada no Libération, sem qualquer explicação oficial.

No Other Land
Hamdan Ballal, realizador palestiniano de “No Other Land”, foi atacado violentamente. © Antipode Films

Homenagens e denúncias no coração de Cannes

O manifesto, do qual Juliette Binoche acabou por não se subscritora ou decidiu ficar ausente presta ainda homenagem à fotojornalista palestiniana Fatima Hassouna, morta num bombardeamento israelita em abril de 2025, juntamente com dez familiares. Hassouna é protagonista de um documentário exibido na programação paralela de Cannes, sublinhando a ligação direta entre o conflito e os rostos que o cinema procura retratar. O manifesto também critica a inação da Academia de Hollywood perante o ataque sofrido por Hamdan Ballal, realizador palestiniano recentemente premiado com um Óscar pelo documentário No Other Land. Poucos dias após a cerimónia, Ballal foi agredido por colonos israelitas, sem resposta pública da instituição. A propósito, também na secção ‘Un Certain Regard’ vai estar a ficção “Era uma vez em Gaza”, dos irmãos palestinianos Arab e Tarzan Nasser, que conta com co-produção da portuguesa da Ukbar Filmes.

Era Uma vez em Gaza
“Era Uma vez em Gaza”, uma co-produção palestiniana-portuguesa vai estar na Un Certain Regard. ©Academia Portuguesa de Cinema

Gaza e o papel do cinema em tempos de crise humanitária

A guerra entre Israel e o Hamas, iniciada a 7 de outubro de 2023, já provocou mais de 52 mil mortos em Gaza — a maioria civis — em resposta ao ataque que vitimou mais de mil israelitas. A dimensão da tragédia intensifica o apelo à responsabilidade ética do meio artístico. O manifesto, publicado no epicentro do maior festival de cinema do mundo, mas sem Juliette Binoche, lança uma pergunta incontornável: Pode o cinema continuar a ignorar o que se passa à sua volta?

Acompanha o nosso Diário do Festival de Cannes 2025 para mais análises, críticas e notícias sobre os filmes, protagonistas e os debates mais urgentes no maior palco do cinema mundial.

JVM



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