©Ground Picture via ShutterStock (ID 1506753662)

As datas de validade são mesmo confiáveis?

Data de validade. Três palavras que parecem simples até o dia em que te fazem duvidar do que é lixo e do que ainda merece um lugar à mesa.

Quando abrimos o frigorífico e encontramos um iogurte que expirou “ontem”, o dilema instala-se: deitamos fora ou arriscamos? E o arroz seco na despensa, com validade ultrapassada há três meses, será lixo ou ainda luxo? Em tempos de inflação, desperdício alimentar e vigilância sanitária, a questão não é só o que comemos… mas quando.

Vivemos inegavelmente rodeados por prazos. Da validade do bilhete de metro à da manteiga com cristais de sal do supermercado biológico, tudo parece ter um tempo certo para acabar. Mas no caso da comida, esse tempo pode ser mais flexível do que nos ensinaram e, ironicamente, menos fiável. Este artigo mergulha nas entrelinhas das etiquetas alimentares e revela: será que os prazos de validade são mesmo de confiança?

Lê Também:
Diz adeus ao mau cheiro na casa de banho com este truque simples

Os prazos que nos assustam mas nem sempre deviam

Pessoas a comer brunch. Validade
Brunch ©Drazen Zigic via Shutterstock, ID:2423781313

É oficial: a maior parte das datas impressas nos alimentos não diz respeito à segurança, mas sim à qualidade. Esta revelação está longe de ser nova no mundo académico. Um relatório da Harvard Law School afirma que as etiquetas confundem os consumidores e os levam a deitar fora comida ainda perfeitamente segura. “As datas não são padronizadas, nem baseadas em ciência de segurança alimentar”, explicam os autores do estudo no site da Harvard.

Nos EUA, a confusão é tanta que 90% dos consumidores acreditam que “best by” significa que o alimento se torna perigoso após aquela data. O Washington Post desmonta essa ideia ao explicar que os fabricantes criaram essas etiquetas para garantir sabor e frescura, e não para proteger contra a salmonela.

E em Portugal? A ASAE é clara: existem duas datas com significados bem distintos. A “data de durabilidade mínima” indica até quando o alimento conserva as propriedades específicas. A “data-limite de consumo” indica produtos altamente perecíveis e essa sim devemos levar muito a sério.

Lê Também:
15 anos depois, José Saramago regressa à TV portuguesa

A ciência por trás da validade

Cientista a explorar os poderes do louro 1
© Gorodenkoff via Shutterstock.com (ID: 2556717801)

Estudos microbiológicos, testes de tempo de prateleira, provas sensoriais… tudo isso é real, sim. Mas muitas empresas definem os prazos com margens de segurança generosas, algo que muitos consumidores desconhecem. Se o fabricante considera um queijo seguro durante 40 dias, ele pode inegavelmente indicar 30 no rótulo como margem de precaução. E tudo isto sem mentir, apenas a jogar pelo seguro.

Mas atenção: nem tudo é paranoia. Assim, produtos como carnes frescas, peixe ou laticínios líquidos trazem a etiqueta “consumir até…” por boas razões. Como sublinha a ASAE, são alimentos “que do ponto de vista microbiológico se deterioram rapidamente e podem, após curto prazo, constituir um perigo direto para a saúde”.

É aqui que se deve fazer a distinção fundamental: qualidade não é segurança. A bolacha mole pode não estar deliciosa, mas não vai matar ninguém. Já o fiambre fresco fora da validade? Aí é melhor não brincar.

E o desperdício?

Trashed
© Blenheim Films

Portugal desperdiça, em média, mais de 1 milhão de toneladas de alimentos por ano e grande parte desse número está inegavelmente relacionado com prazos de validade mal interpretados. Assim, são muitas as pessoas que deitam fora arroz, massas, conservas ou produtos secos que, na prática, ainda estavam bons. Não só desperdiçando comida perfeitamente boa, mas a seu dinheiro também.

Assim, a verdade é que aprendemos a confiar cegamente na data da embalagem — esquecendo-nos de confiar nos nossos sentidos. Se cheira bem, vês que o aspeto é bom e sabes que foi bem armazenado… talvez ainda esteja em boas condições. O problema é que ninguém nos ensinou a “ler” comida, apenas rótulos.

E tu? Já deitaste fora comida que afinal estava boa? Conta-nos nos comentários.



Também do teu Interesse:



About The Author


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *