Câmara de Lisboa envolvida em polémica em plena crise estudantil
Lisboa esconde nas suas avenidas iluminadas uma luta silenciosa por um teto e os estudantes sentem-na como ninguém.
A cidade que há séculos atrai sonhadores, académicos e mentes inquietas enfrenta hoje um problema antigo com novas roupas: onde dormem os estudantes? Entre projetos abandonados, promessas reformuladas e licenciamentos polémicos, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou mais um capítulo nesta saga e, como sempre, nem todos aplaudiram na capital Lisboa.
A questão das residências estudantis é um espelho de contradições. De um lado, a urgência de alojamento acessível; do outro, a realidade de um mercado imobiliário que engole orçamentos como um dragão faminto. E no meio, a política, com os seus cálculos, abstenções e críticas cruzadas. Mas vamos por partes nesta complicada situação em Lisboa.
Câmara de Lisboa aprova residência privada
De acordo com o Expresso, a Câmara de Lisboa deu luz verde à construção de uma residência privada para estudantes na Avenida 5 de Outubro, um projeto apresentado pela Predurba — Prédios Urbanos SA. O edifício terá 10 pisos, 88 unidades de alojamento e 11 lugares de estacionamento. A proposta, liderada pela vereadora do Urbanismo Joana Almeida (independente eleita pela coligação PSD/CDS-PP), passou com votos a favor da maioria governativa e a abstenção do PS.
Quem não gostou? PCP, Livre, Cidadãos Por Lisboa e BE, que votaram contra. O motivo? A ironia de aprovar um projeto privado na mesma avenida onde, há pouco tempo, foi abandonada a ideia de uma residência pública no antigo edifício do Ministério da Educação. O PS, embora abstendo-se, não deixou de criticar o que chamou de “estigma social” por priorizar o privado em detrimento do acessível na cidade de Lisboa.
Carlos Moedas e a equipa PSD/CDS-PP rebatem: desde 2021, já foram licenciados projetos que totalizam 5.239 camas, públicas e privadas. “Não distinguimos”, afirmam. Mas será que essa neutralidade resolve o problema de fundo — a falta de habitação estudantil a preços humanos?
Público vs. Privado
O cerne da questão não é novo, mas mantém-se relevante: deve o Estado (ou a Câmara) garantir residências públicas, ou o mercado privado pode suprir essa necessidade? Os números sugerem que o privado avança mais rápido — mas a que custo para Lisboa e para Portugal?
O PS lembra que a falta de oferta pública alimenta a especulação imobiliária, empurrando muitos estudantes para quartos sobrelotados ou para fora da cidade. Já o PCP foi mais direto: “Isto é a rendição ao negócio imobiliário, em vez de uma política de habitação social.”
A liderança municipal contra-argumenta: o projeto da residência pública no antigo Ministério da Educação foi “viabilizado” em 2024, mas, como o edifício não é propriedade da câmara, a obra não está nas suas mãos. Uma explicação técnica, sim, mas que deixa no ar a pergunta: então, de quem é a responsabilidade?
Mais camas, mas para quem?
Lisboa precisa desesperadamente de mais alojamento estudantil — disso, ninguém discorda. Mas a qualidade e o preço dessas camas são o verdadeiro teste. Assim, se o privado avança com projetos como este da Avenida 5 de Outubro, qual será o impacto nos valores das rendas? E onde fica a promessa de um ensino superior verdadeiramente inclusivo em Lisboa?
Enquanto isso, os estudantes continuam a fazer contas: um quarto em Lisboa pode custar mais do que uma bolsa de estudo. E a cidade, que se quer capital de conhecimento, arrisca-se a ficar apenas com quem pode pagar por ela.
Lisboa deve priorizar residências públicas ou confiar no mercado privado para resolver a crise? Deixa a tua opinião nos comentários.