Portugal vai participar na próxima edição da Eurovisão?
A participação de Israel na Eurovisão 2026 está a gerar forte contestação entre vários países europeus. Espanha, Irlanda, Países Baixos, Eslovénia e Islândia já anunciaram que poderão retirar-se do concurso caso Telavive não seja excluída. Agora, Portugal também surge como possível aderente a este boicote, aumentando a pressão sobre a União Europeia de Radiodifusão (EBU).
Novo regulamento abre margem para recuo de Portugal
Tradicionalmente, a canção vencedora do Festival da Canção garantia automaticamente presença na Eurovisão. No entanto, o novo regulamento introduziu uma alteração significativa: a música vencedora “fica habilitada a representar a RTP no Eurovision Song Contest”. Esta mudança, aparentemente subtil, deixa a porta aberta para que Portugal decida não enviar representante em 2026, caso Israel mantenha a sua participação, como verificou a NiT e Jornal de Notícias.
Segundo a TSF, a RTP e a EBU irão reunir-se na próxima semana para discutir o tema. A indefinição portuguesa segue a mesma linha de outros países que ainda não tornaram oficial a sua posição, mas que avaliam a possibilidade de recusar competir ao lado de Israel.
Qual é a posição de Espanha?
A pressão internacional aumentou depois de Espanha anunciar oficialmente a intenção de boicotar o concurso. A decisão foi aprovada por maioria absoluta no Conselho de Administração da RTVE. José Pablo López, presidente da televisão pública espanhola, reforçou nas redes sociais que “Espanha retirar-se-á da Eurovisão se Israel continuar no certame”.
Este posicionamento ganha particular relevância porque Espanha integra o grupo dos “Big Five”, os cinco maiores financiadores da competição com lugar garantido na final. Assim, a sua eventual ausência teria impacto direto na credibilidade e no equilíbrio do concurso.
Artistas portugueses contra a participação de Israel
A contestação não se limita aos governos. Vários músicos e antigos concorrentes da Eurovisão têm manifestado publicamente a sua oposição à participação de Israel. Mais de 70 artistas assinaram uma carta aberta apelando à exclusão do país. Entre os signatários estão nomes como Lena D’Água, Fernando Tordo, António Calvário e Mae Muller.
Salvador Sobral, vencedor da Eurovisão em 2017, também defendeu a retirada de Portugal caso Israel esteja presente. Em entrevista, afirmou: “Expulsar Israel da Eurovisão é algo simbólico. Está na hora de Portugal acordar e agir.”
O debate intensificou-se após a publicação de um relatório da Comissão Internacional de Investigação da ONU. O documento acusa Israel de cometer genocídio na Faixa de Gaza desde outubro de 2023, com “intenção de destruir” o povo palestiniano. Navi Pillay, presidente da comissão, afirmou que a responsabilidade “cabe ao Estado de Israel”.
Face a estas conclusões, países como Espanha reforçam que não podem normalizar a presença israelita em eventos internacionais. O ministro da Cultura espanhol, Ernest Urtasun, sublinhou que “na Eurovisão não participa apenas um artista individual, mas alguém que representa o seu país”.
O que diz a organização da Eurovisão?
A EBU reconheceu estar a realizar consultas junto dos seus membros para avaliar como lidar com as tensões geopolíticas em torno do concurso. Uma decisão definitiva só deverá ser tomada em dezembro. Até lá, mantém-se em aberto a hipótese de exclusão de Israel, mas a organização rejeitou a possibilidade de participação sob bandeira neutra.
Martin Green, diretor do Festival da Eurovisão, afirmou recentemente que cada membro da EBU é livre de decidir se participa ou não. Essa autonomia poderá abrir caminho para uma desistência coletiva caso Israel permaneça.
Portugal tem uma longa história de participação na Eurovisão e conquistou o troféu em 2017. No entanto, a atual conjuntura política e humanitária coloca o país perante uma decisão delicada. Ao manter no regulamento a possibilidade de não enviar representante, a RTP sinaliza que a retirada está em cima da mesa.
Se seguir o exemplo de Espanha, Portugal não apenas se juntará a um grupo de países em protesto, como reforçará a pressão sobre a EBU para adotar medidas semelhantes às tomadas em 2022, quando a Rússia foi banida após a invasão da Ucrânia.