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Como a Dark Academia se tornou na maior tendência literária viral no TikTok

Como alguém que passa horas a navegar pelo BookTok sem nunca ter coragem de fazer o meu próprio vídeo, tenho observado com fascínio a explosão da estética Dark Academia.  E sendo autor, ainda que iniciante, posso dizer que há algo profundamente sedutor neste universo que mistura conhecimento, mistério e uma pitada de perigo intelectual.

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O que é Dark Academia?

Dark Academia
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Dark Academia é mais do que uma simples tendência estética. É um movimento cultural que romantiza o mundo académico clássico, envolvendo-o numa aura de mistério e melancolia. Pensa em bibliotecas antigas com estantes que tocam o teto, professores excêntricos que guardam segredos, grupos de estudantes brilhantes mas moralmente ambíguos, e instituições centenárias onde cada corredor sussurra histórias do passado.

O termo ganhou força através da literatura, especialmente com “The Secret History” de Donna Tartt (1992), que muitos consideram a obra fundadora do género. O livro segue um grupo de estudantes de clássicos numa universidade de elite, mergulhando em temas de obsessão intelectual, moralidade duvidosa e as consequências perigosas da busca pelo conhecimento absoluto.

Mas as raízes são muito mais profundas. Portanto, Dark Academia bebe da tradição gótica, desde “Frankenstein” de Mary Shelley aos contos de Edgar Allan Poe, e da fascinação romântica pelos limites do conhecimento humano. Assim, é o filho legítimo do gótico universitário e primo próximo do mistério académico.

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Porque é que Dark Academia se tornou tão popular?

Dark Academia
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Confesso que descobri Dark Academia através do algoritmo do TikTok. Estava numa fase em que devorava vídeos de recomendações literárias quando comecei a ver estas montagens hipnotizantes: livros antigos empilhados, casacos de tweed, chávenas de chá fumegantes, bibliotecas mal iluminadas. Os hashtags #DarkAcademia e #BookTok estavam em todo o lado. Assim, na minha perspetiva como observador desta comunidade, creio que Dark Academia explodiu por várias razões:

Nostalgia Digital: Numa era dominada por ecrãs e educação online, há uma saudade quase romântica pelo ensino presencial, pelos livros físicos, pelas discussões acaloradas em salas com cheiro a giz e madeira velha. Logo, Dark Academia oferece essa fuga para um passado idealizado onde o conhecimento era táctil e comunitário.

Elitismo Democratizado: Paradoxalmente, o BookTok democratizou uma estética tradicionalmente elitista. Jovens de todo o mundo podem agora participar nesta fantasia intelectual, mesmo que nunca tenham pisado os corredores de Oxford ou Cambridge.

Complexidade Moral: Numa época de narrativas simplificadas, Dark Academia oferece protagonistas moralmente ambíguos. Portnato, os “heróis” destas histórias são frequentemente manipuladores, obsessivos, até perigosos. Há algo refrescante nesta complexidade.

Estética da Melancolia: A geração Z, crescida entre crises globais e ansiedade generalizada, encontra conforto numa estética que abraça a melancolia como algo belo. Assim, Dark Academia não promete felicidade, promete profundidade emocional.

Como homem numa comunidade predominantemente feminina, sinto-me por vezes como um observador silencioso. Vejo as booktokers partilharem as suas paixões literárias, os seus mood boards inspirados em universidades inglesas, as suas interpretações da moda desta estética. Há uma energia contagiante nestas comunidades, uma sede genuína por histórias que vão além do superficial.

As minhas recomendações pessoais

Dark Academia
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Assim, como leitor voraz e aspirante a autor, aqui estão os livros que considero essenciais para quem quer mergulhar em Dark Academia:

Os clássicos fundadores:

  • “The Secret History” de Donna Tartt – O livro que definiu o género. Imprescindível.
  • “If We Were Villains” de M.L. Rio – Estudantes de teatro Shakespeare numa academia de elite. Genial.
  • “The Goldfinch” também de Tartt – Menos óbvio, mas com toda a melancolia intelectual característica.

Descobertas recentes (via BookTok):

  • “Ninth House” de Leigh Bardugo – Sociedades secretas em Yale com elementos sobrenaturais.
  • “The Atlas Six” de Olivie Blake – Seis jovens magos numa biblioteca mística. Viciante.
  • “Babel” de R.F. Kuang – Dark Academia com crítica pós-colonial brilhante.

Os clássicos que inspiraram:

  • “The Picture of Dorian Gray” de Oscar Wilde – O dândi intelectual por excelência.
  • “Brideshead Revisited” de Evelyn Waugh – Oxford, amizades tóxicas, decadência aristocrática.

Enquanto trabalho no meu próprio projeto literário, reconheço a influência de Dark Academia no meu estilo. Há algo irresistível na ideia de personagens que sacrificam tudo, moralidade, relacionamentos, por vezes a própria vida , em nome do conhecimento.

O que mais me atrai em Dark Academia é a sua honestidade sobre a natureza dupla do conhecimento. Saber pode ser libertador, mas também pode ser uma prisão. Pode conectar-nos, mas também isolar-nos. Assim, esta ambivalência é o que torna estas histórias tão ricas e complexas. E tu? Já caíste na teia sedutora de Dark Academia?


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