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Stephen King detesta personagem desta famosa adaptação do seu livro de terror

A relação do escritor com o cinema é quase tão turbulenta como alguns dos hotéis assombrados que criou. Desde Carrie até It, passando por adaptações menos felizes (Dreamcatcher, estou a olhar para ti), Stephen King já viu de tudo. O problema? Quando um realizador pega numa personagem que lhe nasceu da mente e a molda de forma a perder aquilo que tinha de mais humano.

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Qual a personagem que Stephen King odeia?

Stephen King Baby Reindeer Netflix
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Stanley Kubrick fez um filme que hoje é considerado um clássico do terror, The Shining, mas que Stephen King nunca engoliu totalmente. E no centro da discórdia está Wendy Torrance, a mulher de Jack, interpretada por Shelley Duvall.

Assim, a polémica começou quando Stephen King revelou, anos depois, a sua insatisfação com a adaptação da personagem de Wendy. Para o escritor, a personagem no filme de Kubrick é um estereótipo. Como disse numa entrevista à BBC: “Shelley Duvall como Wendy é, realmente, uma das personagens mais misóginas alguma vez colocadas em filme; ela está basicamente ali para gritar e ser estúpida, e essa não é a mulher que eu escrevi.”

Duvall até ganhou uma nomeação para um Razzie de “Pior Atriz”, algo que hoje soa a um completo disparate. Basta rever a cena do taco de basebol para perceber o estado de terror absoluto em que estava e sejamos francos, alguém acha mesmo que não estaríamos a gritar se Jack Nicholson estivesse a perseguir-nos com um machado? Mas Stephen King não se queixou apenas da performance, a crítica aponta o dedo ao guião, que retirou a complexidade psicológica da Wendy literária.

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Wendy Torrance foi mesmo reduzida a um estereótipo?

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Aqui a questão divide fãs e críticos. Para muitos, Shelley Duvall deu um dos desempenhos mais intensos da história do cinema de terror. Logo, a sua fragilidade, o choro, o olhar desesperado, tudo isso é precisamente o que torna Wendy tão real. Ninguém reage com serenidade quando está preso num hotel isolado, com o marido a enlouquecer lentamente.

Outros, porém, entendem o ponto de Stephen King. Na sua versão literária, Wendy é uma mulher que, apesar de viver numa relação abusiva, consegue mostrar inteligência e determinação. Kubrick, ao optar por a retratar como mais passiva e emocional, criou um contraste quase cruel com a força aterradora de Jack.

Mas a verdade é que Duvall não teve vida fácil durante as filmagens. O próprio Kubrick era conhecido pelo seu perfeccionismo implacável e chegou a filmar a mesma cena mais de 100 vezes, o que deixou a atriz exausta e fragilizada, algo que hoje levanta debates sobre os limites da direção de atores em Hollywood.

Quem tem razão, Stephen King ou Stanley Kubrick?

Se perguntarmos a Stephen King, a resposta é clara: o filme traiu a essência da personagem. Já para Kubrick, o cinema é adaptação, não transcrição, e Wendy funcionava melhor como símbolo da vulnerabilidade humana diante da loucura e do sobrenatural.

Assim, o público parece ter ficado do lado de Kubrick. Hoje, The Shining é um marco do terror, citado em séries, homenageado em videoclipes e até recriado em Ready Player One. E Wendy, com todos os seus gritos, tornou-se icónica, não apesar deles, mas por causa deles. Portanto, The Shining é tanto de King como de Kubrick. Achas que Wendy Torrance foi injustiçada por Kubrick ou que Shelley Duvall nos deu uma das performances mais marcantes da história do terror?

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