© Metro-Goldwyn-Mayer Studios Inc. All Rights Reserved / © carrie-nelson via ShutterStock (ID 147301745) / © Denis Makarenko via ShutterStock (ID 1104452258) / (Editado por Vitor Carvalho, © MHD)

Christopher Nolan, realizador de Interstellar, revela o seu filme favorito de Sean Connery

Christopher Nolan, o cineasta que redefiniu o blockbuster com Inception, Interstellar e o recente colosso Oppenheimer, é conhecido por ser um guardião do cinema clássico. Já falou do impacto de Kubrick, já explicou a importância de filmar em pelicula até da sua devoção ao som analógico. Mas há um detalhe que apanhou muitos cinéfilos de surpresa: a forma como defende uma das interpretações menos lembradas de Sean Connery.

E não, não é James Bond. Não é sequer The Untouchables, que lhe valeu o Óscar. Christopher Nolan escolher outro filme, mais obscuro, mais desconfortável, e que em 1973 passou despercebido a muitos.

Pub

Lê Também:
KPop Demon Hunters da Netflix entra para o top histórico do streaming

Afinal, qual é o filme de Sean Connery que Nolan adora?

Sean Connery 007 James Bond Never Say Never Again Nunca Mais Digas Nunca cena perigosa
© MGM

A resposta surpreendente: The Offence (A Ofens), um thriller psicológico de 1973 realizado por Sidney Lumet. O próprio Christopher Nolan revelou em entrevista ao programa francês Dans le Vidéo Club que considera esta a obra definitiva da carreira de Connery, descrevendo-a como “um nível de talento do Sean Connery que simplesmente não se vê em mais lado nenhum”.

Assim, o filme adapta a peça This Story of Yours (1968), de John Hopkins, e mostra Connery como o detetive Johnson, um polícia de carreira britânico marcado por décadas a lidar com crimes violentos. Quando interroga um suspeito de pedofilia (interpretado por Ian Bannen), Johnson deixa o trauma acumulado transbordar — com consequências brutais. É nesse colapso emocional que Connery dá corpo a uma personagem fragmentada.

Pub

Na época, The Offence foi quase um anti-Bond. Portanto, a United Artists aceitou produzi-lo como parte do contrato que trouxe Connery de volta para Diamonds Are Forever (1971). Assim, o ator usou essa cláusula para escolher um projeto mais arriscado, longe do martini agitadoe do smoking impecável. O resultado foi um filme cru, claustrofóbico, onde a violência e a moralidade se confundem. Uma confusão que Christopher Nolan adora.

Pub

Lê Também:
Amazon Prime obrigada a reembolsar milhões após batalha judicial histórica

Pub

Porque é que The Offence é tão diferente?

The Offence
© Metro-Goldwyn-Mayer Studios Inc. All Rights Reserved

Nos anos 70, o cinema policial vivia uma metamorfose. Títulos como Dirty Harry ou The French Connection mostravam polícias que ultrapassavam a linha da lei, em nome de uma justiça “maior”. Mas enquanto esses filmes ofereciam ação e ritmo frenético, The Offence foi noutra direção: introspeção. Um thriller sem perseguições de carros, sem tiros em becos escuros. O terror vinha da mente do protagonista.

Connery, habituado a papéis de heróis charmosos, mergulhou no extremo oposto. O detetive Johnson é corrosivo, instável, incapaz de separar vida pessoal de vida profissional. Numa das cenas mais desconfortáveis, a personagem despeja frustração e raiva na sua própria mulher (Vivien Merchant), expondo uma ferida íntima que nunca tinha mostrado. É uma desmontagem cruel da masculinidade dura que Connery tinha ajudado a construir no grande ecrã.

É precisamente aqui que se percebe o entusiasmo de Christopher Nolan: tal como em Memento ou The Dark Knight, há uma fascinação pela ambiguidade moral. Tanto o Batman de Christian Bale como o detetive Johnson vivem no limiar do aceitável. Ambos carregam um fardo psicológico que ameaça consumir quem estão a tentar proteger. A ponte entre Nolan e Lumet parece, afinal, natural.

E porque é que quase ninguém fala deste filme?

Apesar da ousadia, The Offence não teve sucesso comercial. O público que queria Connery como 007 ficou perplexo ao vê-lo como um polícia perturbado, capaz de brutalidade e vulnerabilidade no mesmo gesto. Logo, a crítica também ficou dividida: alguns viram ali uma obra-prima psicológica, outros acharam a experiência demasiado opressiva.

Assim, curiosamente, o filme até antecipa algumas técnicas narrativas que Christopher Nolan depois levaria ao extremo: a utilização de flashbacks fragmentados, a subjetividade da memória e a ideia de que o verdadeiro inimigo pode estar dentro da própria mente. Portanto, não é de estranhar que o realizador de Oppenheimer lhe preste tributo.

Se tiveres curiosidade, The Offence está atualmente disponível através de aluguer pela Amazon e pelo streaming pela AppleTV+. Já tinhas ouvido falar de The Offence ou vai ser esta a sua próxima descoberta obscura de domingo à noite?


About The Author


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *