DocLisboa ’25 | Megadoc, em análise
Megadoc é um documentário de Mike Figgis que acompanha os bastidores da produção do filme “Megalopolis“, de Francis Ford Coppola, que saiu o ano passado. Megadoc estreou no Festival Internacional de Cinema de Veneza em agosto de 2025 e chegou recentemente ao DocLisboa 2025, marcando a sua estreia em Portugal.
O filme oferece um olhar detalhado e próximo sobre o processo criativo de Coppola, que autoproduziu este épico experimental, arriscando cerca de 120 milhões de dólares do próprio bolso. Figgis teve acesso total e informal ao set, começando a sua observação em novembro de 2022 em Atlanta, e registando desde os ensaios até à pós-produção.
O que nos mostra Megadoc?

Através de entrevistas e cenas de bastidores, Megadoc mostra-nos assim figuras como Adam Driver, Aubrey Plaza, Dustin Hoffman, Jon Voight, Shia LaBeouf, entre outros. Destacam-se ainda momentos íntimos com Coppola e sua esposa Eleanor, cuja morte antecedeu a estreia de “Megalopolis” em Cannes, adicionando uma dimensão emotiva ao filme. O documentário inclui também material de arquivo raro, como leituras e ensaios realizados em 2001 e 2003 por atores como Uma Thurman, Robert De Niro e Ryan Gosling, para uma versão abandonada do filme, mostrando que este já há muito era planeado.
A realização de Figgis distingue-se pelo estilo íntimo, utilizando equipamento leve para interferir minimamente no ambiente e captar as “colisões de estilo” do processo criativo. Aubrey Plaza, Dustin Hoffman, Jon Voight, Shia LaBeouf, Giancarlo Esposito e Laurence Fishburne surgem em momentos-chave, discutindo dúvidas e expetativas em torno de um projeto tão incomum, bem como conflitos criativos, notoriamente o embate entre Coppola e LaBeouf sobre a construção do seu personagem. Figgis aplica uma abordagem “fly-on-the-wall” desde as primeiras reuniões virtuais até improvisações e debates durante as filmagens.
Coppola e o ideal criativo

Um dos focos centrais do documentário mais interessantes é a contradição vivida por Coppola: depois de décadas de sucesso e reconhecimento, o realizador, na casa dos 80 anos, deseja agora assim divertir-se ao concretizar um sonho de liberdade artística. Contudo, a escala industrial da produção, com múltiplas equipas e um orçamento colossal, impõe obstáculos inesperados, limitando a espontaneidade que Coppola procurava.
O documentário revela como, apesar dos esforços para incentivar improvisação e simplificar o processo, tudo se torna lento e complexo. A estrutura inchada resulta em atrasos e mal-entendidos, obrigando Coppola a lidar com demissões de figuras criativas. O próprio cineasta admite que o maior entrave não é o dinheiro, mas sim o excesso de intervenientes em cada decisão. Isto gera um paradoxo fascinante entre o sonho de liberdade e a realidade burocrática do grande cinema.
Megadoc homenageia o espírito de Francis Ford Coppola ao expor a leve tragédia que permeia o seu sonho: ao tentar criar algo belo e livre, descobre que a diversão e liberdade são constantemente corroídas pela magnitude do próprio projeto e pelo peso das obrigações. Figgis captura esta tensão, revelando então um artista que luta para concretizar um ideal utópico, mesmo se confrontando com a lentidão, o caos e a melancolia do processo. É um documento absolutamente fascinante e essencial para fãs de cinema, tenham ou não gostado do divisivo “Megalopolis”.
O que acharam de “Megalopolis”? Planeiam ver este documentário?

