Avatar: Fogo e Cinzas, a Crítica | As 3 horas mais rápidas da história do cinema
Depois do impacto técnico, visual e emocional (com algumas mensagens éticas e morais) de “Avatar” (2009) e da dimensão sensorial de “Avatar: O Caminho da Água” (2022), James Cameron regressa a Pandora com “Avatar: Fogo e Cinzas”, o terceiro filme da saga e, possivelmente, o mais intenso até agora. Mais sombrio, mais bélico e emocionalmente mais carregado, este novo capítulo confirma que o realizador continua a saber como construir espectáculo sem perder de vista a ligação humana ou, neste caso, Na’vi ao centro da narrativa.
Apesar de uma duração generosa de cerca de 3 horas, o filme passa de forma surpreendentemente rápida. O ritmo é seguro, bem doseado, e a narrativa mantém-se envolvente do início ao fim, algo que nem sempre é fácil num blockbuster desta escala.
A sede de guerra dos Humanos chegou a Pandora

“Avatar: Fogo e Cinzas” arranca pouco tempo depois dos acontecimentos de “O Caminho da Água”. A família Sully continua marcada pela perda de Neteyam, enquanto a ameaça humana, liderada novamente pelo Coronel Quaritch, regressa mais organizada, mais violenta e com objetivos ainda mais claros. Ou seja, tornar Pandora habitável para uma Terra que já não se conseguiu salvar a si própria.
No entanto, a grande novidade na narrativa surge com a introdução do Povo das Cinzas, uma nova tribo Na’vi moldada pela destruição do seu território vulcânico. Liderados por Varang, interpretada de forma magnética e cheia de carisma por Oona Chaplin, estes Na’vi representam uma rutura clara com a visão espiritual e harmoniosa das tribos anteriormente apresentadas. Aqui, a dor transformou-se em ódio, e a sobrevivência justifica quase tudo.
Assim sendo o conflito acrescenta camadas morais interessantes ao filme, mostrando que nem tudo em Pandora é puro ou idealizado. Até certo ponto, com a “chegada” deste novo clã de Pandora, podemos ver neles o lado negro do Humano, a sede pela guerra e cheio de ódio.
As personagens continuam a crescer dentro do filme

No centro da história continua a estar a família Sully. Jake Sully assume definitivamente o papel de líder de guerra, enquanto Neytiri surge mais frágil, consumida pela dor e pela raiva. A dupla traz uma dimensão emocional que dá peso às decisões tomadas ao longo do filme.
Entre os mais jovens, Lo’ak cresce como personagem, carregando a culpa do passado e tentando encontrar o seu lugar. Kiri, mais uma vez, destaca-se como uma figura especial, profundamente ligada à natureza e à energia de Pandora, deixando pistas claras de que o seu papel será ainda mais decisivo no futuro da saga. Já Spider continua a ser uma personagem divisiva, presa entre dois mundos, mas desta vez com maior profundidade emocional, especialmente na relação complexa com Quaritch, que ganha aqui mais nuances do que nos filmes anteriores. No entanto, sem entrar em pormenores e spoilers, há um momento chave com Spider e Kiri, que certamente irá definir pontos chaves no futuro da saga.
O espectáculo continua a ser um ponto muito forte

Visualmente, “Avatar: Fogo e Cinzas” é arrebatador em cada detalhe. James Cameron volta a elevar o nível do cinema de grande escala, com sequências de ação que decorrem na terra, no ar e na água, agora com uma presença mais forte do fogo e da destruição. As cenas de batalha são massivas, coreografadas com mestria e impressionantes do ponto de vista técnico.
A tecnologia capta o movimento dos atores continua a ser usada de forma exemplar, permitindo que as emoções transpareçam mesmo sob camadas digitais complexas. Mais do que um exercício técnico, o filme consegue criar verdadeira imersão, sobretudo em formatos IMAX e 3D.
Uma estrutura clássica que continua a funcionar (e que sabe bem ver)

É inegável que “Avatar: Fogo e Cinzas” segue uma estrutura narrativa clássica: ameaça crescente, conflito interno, grande batalha final e resolução moral. No entanto, longe de ser um defeito, essa familiaridade acaba por funcionar a favor do filme. Num mundo cada vez mais cínico, soube bem ver o bem triunfar sobre o mal, sem ambiguidades excessivas. Quando tudo está mal e, a ajuda parece não chegar, surge então reviravolta “inesperada” com a ajuda da Natureza.
Além disso a mensagem ambiental e humanista mantém-se bem vincada na saga, ao mostrar a ideia de que a destruição nasce da ganância e da incapacidade de respeitar o equilíbrio natural, um tema recorrente na obra do realizador, mas aqui tratado com maior dureza.
Pandora tem muito para oferecer

“Avatar: Fogo e Cinzas” é um épico de guerra, emoção e espectáculo visual, que consegue manter o interesse durante três horas sem nunca se tornar pesado. Apesar de seguir a fórmula da saga, fá-lo com confiança, intensidade e maturidade narrativa.
James Cameron prova, uma vez mais, que Pandora ainda tem muito para contar e que o público continua disposto a mergulhar neste mundo, vezes sem conta. Ao que se tem assistido nas salas portuguesas, é um filme contra a corrente das salas de cinemas cada vez mais vazias.
Conclusão:
“Avatar: Fogo e Cinzas” é um épico de guerra, emoção e espectáculo visual, que consegue manter o interesse durante três horas sem nunca se tornar pesado. Apesar de seguir a fórmula da saga, fá-lo com confiança, intensidade e maturidade narrativa.

