Queer Lisboa 2025 | By Hook or By Crook – Análise
Na sala 3 do Cinema São Jorge, durante o último dia do Queer Lisboa 2025, houve um daqueles raros momentos em que o cinema parece devolver ao público um pedaço perdido da história queer. Mais de duas décadas após a sua estreia nos EUA no circuito de festivais como o OutFest e o SXSW, “By Hook or By Crook”, de Harry Dodge e Silas Howard, chegou assim ao grande ecrã pela primeira vez em Portugal. O filme revelou-se para uma nova geração em Lisboa como um retrato intemporal de sobrevivência, amizade e dissidência no que toca à expressão de género.
Rodado em 16mm com poucos recursos, o filme acompanha Shy (interpretado por Howard), um jovem trans que foge da sua pequena cidade no Midwest para tentar a vida em São Francisco. Aí encontra Valentine (Harry Dodge), uma figura errática, carismática e caótica, e entre ambos estes dois homens trans nasce uma aliança fraturada mas vital, feita de lealdade improvisada, pequenos biscates e ternura inesperada. Mais do que uma história de crime ou aventura marginal, “By Hook or By Crook” fala de pertença em contextos onde não existe manual de sobrevivência.
Um filme a ser (re)descoberto
Muitos espectadores viram pela primeira vez em tela grande um filme que até hoje mal circula como objeto de culto. O festival programou o título como parte de uma retrospetiva dedicada a narrativas trans no cinema, sublinhando como obras antes marginalizadas, estão a ganhar novo reconhecimento histórico, ou então a serem vistas pela primeira vez.
Quando foi lançado em 2001, “By Hook or By Crook” chamou então a atenção justamente por colocar homens trans como protagonistas reais da narrativa, sem estereótipos e sem caricaturas. Howard e Dodge filmaram a partir das suas próprias experiências, trazendo a sua honestidade para o ecrã. Enquanto Shy é interpretado com muita mais naturalidade, a performance de Dodge como Valentine é mais feita de tiques que, apesar da artificialidade, encanta o espetador que queira torcer pela relação terna entre os dois protagonistas. No elenco secundário temos também uma interpretação surpreendente de Stanya Kahn como Billie, companheira de Valentine.
É, assim, um filme terno com um charme DIY inegável. Vale a pena descobrir e redescobrir!
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