Denis Villeneuve, realizador de Dune, declara guerra aos telemóveis
Numa era em que vivemos presos a ecrãs de cinco polegadas, há quem ouse declarar territórios livres de notificações. Denis Villeneuve é um desses revolucionários.
Sumário:
- Denis Villeneuve defende a desconexão digital nos sets de filmagem, proibindo telemóveis para promover a presença coletiva e artística;
- O realizador critica o domínio dos algoritmos sobre a sociedade moderna, comparando o uso compulsivo de telemóveis a uma droga viciante;
- Durante as filmagens de “Dune”, adotou práticas como trabalhar sempre de pé, procurando flexibilidade, foco e dinamismo no processo criativo.
No mundo do cinema contemporâneo, onde cada segundo parece ser cronometrado por algoritmos, o realizador de “Dune” ergue-se como uma voz dissonante contra a mare digital que nos engole. E não, não se trata apenas de mais um manifesto tecnofóbico – é uma questão de sobrevivência artística.
Um manifesto contra a distração digital
“O cinema é um acto de presença”, declara Villeneuve numa entrevista Los Angeles Times, com a mesma convicção com que baniu os telemóveis dos seus sets de filmagem. A comparação que faz é tão simples quanto poderosa: tal como um pintor precisa de concentração absoluta para escolher a cor perfeita, ou um bailarino para executar um movimento preciso, o cinema exige uma sincronia coletiva que só é possível quando todos os elementos estão verdadeiramente presentes.
A proibição de telemóveis nos seus sets não é um capricho – é uma necessidade vital. “Quando dizes ‘corta’, não queres que alguém vá imediatamente verificar a sua conta do Facebook”, explica o Villeneuve. É um comentário que arranca sorrisos, mas esconde uma verdade profunda sobre como a tecnologia está a remodelar – ou talvez a deformar – a nossa capacidade de estar verdadeiramente presentes.
Uma reflexão sobre a sociedade moderna
O realizador vai mais longe na sua análise: “Os seres humanos são atualmente governados por algoritmos. Comportamo-nos como circuitos de IA.” É uma observação perturbadora, especialmente vinda de alguém que acabou de realizar um dos filmes mais tecnologicamente avançados da atualidade.
Mas a ironia não escapa a Denis Villeneuve. Ele próprio admite ser vítima do poder viciante dos telemóveis, comparando-os a uma droga que nos oferece acesso instantâneo a toda a informação imaginável. “É compulsivo”, confessa, revelando o seu próprio desejo de se desconectar completamente.
E se pensavam que as excentricidades de Villeneuve se limitavam à proibição de telemóveis, preparem-se: durante as filmagens de “Dune”, ele e o seu diretor de fotografia recusaram-se a sentar. Não por uma qualquer regra arbitrária, mas por uma lição aprendida durante “Blade Runner 2049”, onde problemas de costas o fizeram repensar a sua abordagem ao trabalho. “Decidimos ficar de pé, para mantermos uma pegada mínima, sermos flexíveis e rápidos, mantermos o sangue a fluir, permanecermos despertos.”
Quanto tempo conseguias passar num set de Villeneuve sem espreitar o telemóvel? Partilhe connosco nos comentários se concordas que precisamos de mais “zonas livres de telemóveis”.