The Running Man | Entrevista com Lee Pace (o misterioso Evan McCone)
“The Running Man” chega aos cinemas portugueses no dia 13 de novembro. É o novo filme de Edgar Wright, inspirado numa obra de Stephen King. Assim, o filme passa-se num futuro distópico em que a existe uma programa de TV que leva os seus concorrentes a fugirem de cinco assassinos durante trinta dias.
Além de ser um filme divertido, com muito entretenimento associado, também representa uma crítica à sociedade atual. Glen Powell interpreta a personagem principal do filme e o seu antagonista é o ator Lee Pace, com quem a MHD tem uma entrevista exclusiva. Além dos dois atores, “The Running Man” também conta com Emilia Jones, Michael Cera, Colman Domingo, Jayme Lawson e Josh Brolin.
Preparação de Lee Pace para se tornar Evan McCone
Fale-nos sobre Evan McCone. Quem é ele no mundo de Running Man?
Evan McCone está no maior programa de TV da América. No filme, existe uma rede de TV corrupta, que trabalha com o Estado, e o seu programa mais popular é o “Running Man”.
Que coloca um participante em fuga, que ganhará uma grande quantia de dinheiro se conseguir escapar a um grupo de caçadores que estão a tentar capturá-lo e matá-lo de uma forma espetacular e divertida. O Evan McCone, que eu interpreto, é o líder destes caçadores e, basicamente, a estrela do programa.”
Como é que o realizador do filme, Edgar Wright, lhe descreveu McCone quando se encontraram pela primeira vez para falar sobre o papel?
O Edgar descreveu-me a personagem antes mesmo de eu ler o guião. Disse que via McCone como um fantasma que persegue Ben Richards (Glen Powell). Este fantasma está no encalço de Richards, caçando-o implacavelmente.
Achei esta uma forma muito divertida de pensar nele porque assim que coloquei a máscara, pude desfrutar da natureza performativa de alguém que mata da forma como McCone mata. Ele é o executor. Ele anima o público com esta violência.
Por ser a estrela do programa, McCone também protagoniza uma série de anúncios hilariantes que o anunciam. Qual foi o seu favorito de gravar?
Filmámos no meu último dia no set. Foi um dos meus dias favoritos porque estávamos a gravar estes anúncios um atrás do outro. Foi muito divertido entrar nas ideias que o Edgar tinha preparado e depois interpretá-los com esta personalidade chill e dura do McCone. Também foi divertido fazer o Edgar rir com todas as diferentes formas de interpretar a personagem.
O que faz com que McCone seja tão bom no seu trabalho?
É porque ele é verdadeiro. É isso que torna o programa divertido, o facto de ele estar realmente a caçar estas pessoas. E nem sempre é uma luta fácil. As pessoas que fazem este programa são muito estratégicas nos concorrentes que escolhem, porque o programa não é só assistir a um monte de Porquinhos da Indía a correr por um labirinto. Os produtores estão a escolher pessoas como Ben Richards, com garra, que são inteligentes, que vão dar trabalho a McCone, porque nada vai aumentar mais a audiência do que ver McCone a suar.
A questão é que McCone sobreviveu temporada após temporada porque ele é muito bom naquilo que faz. Faz tudo isto por desporto, como um caçador na savana a abater feras. E ele faz tudo de uma forma tão espetacular que é realmente divertido para o público que assiste em casa.
O antagonista de Glen Powell

Por outro lado, o que faz de Ben Richards um concorrente tão bom? E porque é que Glen Powell é o ator perfeito para dar vida a esta personagem?
O que mais adoro no Glen a interpretar este papel é que ele ama mesmo o Ben Richards. Ele preocupa-se realmente com esta personagem e com os seus valores. A certa altura da história, o Ben Richards não está apenas a lutar pela sua vida, está a lutar por algo muito maior.
Há um verdadeiro sentido de propósito que ele está a abraçar e só ele tem a força de carácter para isso. E, na minha experiência com o Glen, ele é essa pessoa na vida real também, a mil por cento. O Glen tem muita energia para dedicar a algo que admira, tem empenho e generosidade em tudo o que faz. E isso é definitivamente algo que ele trouxe para o Ben Richards.
Como descreveria a relação entre McCone e Richards?
Acho que a relação deles é muito mais divertida para McCone do que para Richards. Ben conquista o respeito de McCone a certa altura. Há muitos momentos desta história em que os caçadores quase o apanham, em que estamos a centímetros de o apanhar, e ainda assim arranja maneira de escapar.
Então, McCone passa a respeitar Ben Richards, a não o ver apenas como mais um rato em fuga, mas como um adversário formidável, alguém que ele precisa de matar antes que seja morto.
O universo de Stephen King

No filme, o programa The Running Man é transmitido pela Free Vee. Como é a Free Vee enquanto emissora?
A Free Vee é uma exigência da cultura que estamos a retratar neste filme. Está ligado em todas as casas. Neste mundo, paga-se multas se não ligar a TV. Está ligada 24 horas por dia e a sua programação condiciona as mentes das pessoas a abraçarem um mundo hostil, fazendo com que as pessoas aceitem subtilmente este ambiente hostil em que vivem.
Porque, enquanto espectador, quando se entende que existe um McCone que pode estar escondido em qualquer edifício, acompanhando cada movimento seu, quer seja um concorrente ou não, a pessoa aceita a ideia de que está a ser observada, de que a sua vida é uma constante aventura mortal. Isto é Free Vee. É uma lavagem cerebral nesta sociedade.
Stephen King escreveu este livro em 1981 e ambientou-o numa distopia futura de 2025, o ano em que estamos a viver agora. Quão profética se mostrou esta história?
Definitivamente vivemos agora num ambiente mais hostil do que vivíamos no início dos anos 80. Penso que todos nos permitimos mergulhar na hostilidade, independentemente das nossas posições políticas.
A hostilidade é algo em que penso muito e penso que foi nisso que Stephen King acertou. Talvez seja algo a que ele sempre esteve atento, porque muito do que escreveu, não apenas “The Running Man”, é tão sensível a esta insanidade coletiva em que parecemos estar a mergulhar com a tecnologia, com coisas como os media a serem algo tão omnipresente e repulsivo que está a moldar todas as nossas mentes.
A ficção que esta história cria é ainda pior, pois essa hostilidade tornou-se agora entretenimento. O que, felizmente, não aconteceu no mundo real. Ora esta história mostra um mundo onde isso é possível.
Parece que já leu bastantes livros de Stephen King. Já tinha lido “The Running Man” antes de aceitar o papel?
Não tinha lido o livro original antes de ser escolhido para este filme, mas li-o quando fui escolhido e fiquei muito inspirado pela forma como Evan McCone é retratado no livro. Há algo na sua calma. É um tipo tão calmo no livro que quis trazer isso para a minha interpretação da personagem.
Sou fã de Stephen King. Passei por uma fase, na adolescência e no início dos meus vinte anos, em que li muitos dos seus livros, como ‘The Stand’, ‘Cujo’ e muitos outros. Aliás, lembro-me de estar numa viagem de campismo com os meus pais e ninguém me conseguia tirar da caravana porque estava constantemente com a cabeça num dos seus livros.
Em que aspetos esta adaptação é semelhante ao livro e em que aspetos é diferente?
Este é o filme de Edgar Wright. O livro é o livro e a sua própria experiência, mas aqui estão a comprar um bilhete para “The Running Man” de Edgar Wright. Isto não é fan fiction. Edgar é um realizador único, que está a trazer a sua interpretação, o seu tom, a sua sensibilidade para o que já é uma história extremamente divertida.
A realização de Edgar Wright

O que faz de Edgar Wright um realizador tão inteligente?
Ele é extraordinário. É um cinéfilo como nem se imagina. As referências cinematográficas que ele solta tão casualmente são fruto das opiniões que tem sobre os milhares de milhões de filmes que já viu. E isso ajuda-o a comunicar o tom do filme a toda a gente no plateau, para que todos saibam exatamente o filme que nos juntámos para fazer.
Esta é apenas uma parte do que te faz estar em tão boas mãos com um realizador como ele. Sabes o que estás ali para fazer, sabes qual é a cena. Sabes o que ele espera da tua prestação. E isto porque ele sabe o que quer. Além disso, adora o elenco. Ele adora mesmo as pessoas que estão nestes papéis e quer vê-las tornar este filme divertido e emocionante.
O que pode o público esperar deste filme, enquanto experiência?
Uma viagem verdadeiramente emocionante, enquanto assistem a este protagonista inteligente e duro provar que tem o que é preciso para lutar num mundo hostil. Uma versão de 2025 que não é muito diferente do mundo em que vivemos agora, mas que é também uma sátira desse mundo. É por isso que não é apenas divertido, mas também instigante.

