The History of Sound, a Crítica | Paul Mescal e Josh O’Connor no melhor romance de Cannes
O novo filme que junta Paul Mescal e Josh O’Connor, “The History of Sound”, recebeu uma ovação de nove minutos no Festival de Cannes 2025.
Ambos os atores deste filme lançaram as suas carreiras em séries de televisão. Paul Mescal na adaptação do romance “Normal People”, ao lado de Daisy Edgar Jones. E Josh O’Connor em “The Crown”, o retrato da família real inglesa.
Ambos se destacaram e acabaram por migrar para o cinema onde, em 2025, tiveram papéis largamente elogiados, em filmes muito distintos. Paul Mescal interpretou o filho de Maximus Decimus na sequela “Gladiador 2”, de Ridley Scott.
Já Josh O’Connor foi o carismático Patrick em “Challengers”, de Luca Guadagnino. Agora, os dois atores em ascensão juntam-se para um dos filmes mais esperados do ano. “The History of Sound”, de Oliver Hermanus, estreou no Festival de Cannes, a 21 de maio, onde a MHD esteve presente.
The History of Sound é o retrato de um amor contido
Oliver Hermanus traz-nos a história de Lionel, um jovem com sinestesia e um dom para a música, que alcança uma bolsa para a universidade, deixando para trás a vida na pequena quinta dos pais.
Lá, conhece David, um aspirante a compositor, por quem se apaixona. Ambientado na década de 1920, o filme acompanha a conturbada relação entre os dois, onde guerras, outros amores e palavras por dizer se colocam entre eles.
O filme é uma adaptação do conto, do mesmo nome, do argumentista Ben Shattuck. “The History of Sound” é um filme lento, um slow burn que reflete a relação das personagens. É um filme que balança entre profundos silêncios e canções folk que dizem mais do que as palavras que conseguem partilhar um com o outro.
Ao longo desta relação vamos percebendo que a música vem tapar os espaços da contínua incapacidade que têm de encontrar palavras para partilhar o que sentem. É sobre não tomar as coisas por garantido e guardar memórias enquanto podemos.
Assim, não é só um romance, mas um filme simples, bonito, sobre música, vozes e momentos que queremos guardar. É um filme que precisa de uma primeira parte mais introdutória para soltar todo o seu significado na segunda parte extremamente emocional.
Paul Mescal e Josh O’Connor são a dupla que precisávamos
Apesar dos momentos divertidos que passaram no set, como partilhou Paul Mescal na conferência de imprensa, as suas personalidades são completamente diferentes neste filme. Os atores desaparecem nestas personagens. Paul Mescal num Lionel melancólico e retraído e Josh O’Connor num David que utiliza o seu carisma para tapar as suas fragilidades.
Assim, Paul Mescal revelou que o seu maior desafio foi mesmo a contenção da história e da personagem. “É um filme autêntico e contido, que não tenta empurrar uma ideia ou um sentimento na direção dos espectadores”, partilhou o ator.
Apesar de ser a personagem principal e um fantástico ator, é Josh O’Connor quem se destaca neste filme. O ator tem uma personagem secundária, comparando com a de Paul Mescal, mas as suas nuances, que vão sendo reveladas ao longo do filme, são incríveis.
É o desenvolver desta personagem, as revelações que vamos tendo e até os pequenos atos de amor que tem quando Lionel não está a ver, que dão significado ao filme, que aumentam a importância da personagem de Paul Mescal.
É como se fosse um suporte e até uma alavanca para a personagem principal. Assim, Josh O’Connor tem a primeira prestação do ano que merece uma nomeação para o Óscar de Melhor Ator Secundário.
The History of Sound na sua relação com o som
A música e o som estão entranhadas no Adn deste filme. Ao contrário de “Sinners”, outro dos grandes filmes de 2025, em que a música tem uma grande importância mas não se relaciona com a resolução do filme. O som liga cada ponto da história de “The History of Sound” até à sua finalização.
Primeiramente, é bonito ver o quanto a música folk era importante na altura e como começaram a ser gravadas as primeiras músicas. Utilizando canções que conhecemos nas vozes de Joan Baez e Bruce Hornsby, “Silver Dagger” e “Across The Rocky Mountains”.
“Um artefacto pode conter a vida inteira de uma pessoa”, partilhou o argumentista Ben Shattuck. Assim, a utilização do fonógrafo no filme é muito significativa, sendo mais um elemento musical que liga as personagens.
Após o visionamento do filme, há uma frase, uma mensagem, que vos ficará marcada. Sem traduções, este é o takeaway do filme: “What happens to those sounds released and never captured?”.
Qual é o filme com estreia em Cannes que mais tens curiosidade de ver?
Conclusão
- Um romance delicado e contido, onde o som e a música são veículos de memória e emoção. Paul Mescal e Josh O’Connor brilham em performances contidas e emocionantes. O filme é um slow burn, sobre amor, silêncio e o poder do som.