Antes de Inception e Interstellar, Christopher Nolan já tinha criado a sua obra-prima sci-fi
Se existe um realizador que domina a arte de nos deixar a questionar a nossa perceção da realidade, esse realizador é Christopher Nolan.
Dos labirintos mentais de “Inception” às viagens interestelares de “Interstellar“, o cineasta britânico tornou-se sinónimo de narrativas complexas e ambição visual. No entanto, escondido entre os seus blockbusters mais estrondosos, há um filme que, discretamente, supera todos.
The Prestige é (secretamente) ficção científica
À primeira vista, “The Prestige” de Christopher Nolan parece um thriller histórico sobre rivalidade entre ilusionistas. Mas, tal como os melhores truques de magia, o filme esconde muito mais do que revela. O que começa como um drama vitoriano sobre dois ilusionistas em guerra — Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale) — transforma-se, nos seus momentos finais, num dos filmes mais inteligentes de ficção científica já feitos. A viragem acontece quando Nikola Tesla (interpretado por um hipnótico David Bowie) entra em cena, trazendo consigo uma invenção que desafia as leis da física: uma máquina de teletransporte.
A genialidade de Christopher Nolan está em como este elemento futurista não quebra o tom do filme, antes o eleva. Tesla, uma figura histórica já envolta em mistério, serve como ponte entre a magia e a ciência. A sua máquina não é apenas um dispositivo de plot twist; é uma metáfora para o preço da genialidade. Angier, obcecado por superar Borden, está disposto a sacrificar tudo — incluindo a sua própria humanidade — para alcançar o truque perfeito. E, como qualquer bom ilusionista, Nolan revela-nos a verdade apenas quando já é tarde demais para olharmos para trás.
O filme também brinca com a estrutura narrativa, espelhando os três atos de um truque de magia: “O Pledge” (o setup), “The Turn” (a surpresa) e “The Prestige” (o momento de revelação). Esta abordagem não-linear é mais do que um artifício estilístico; é uma forma de nos fazer sentir como a plateia de um espetáculo de ilusionismo. E, tal como os espetadores da época vitoriana, somos enganados — mas de forma tão magistral que não conseguimos ficar zangados.
Um orçamento pequeno, uma obra-prima gigante
Enquanto “Inception” e “Interstellar” custaram centenas de milhões, “The Prestige” foi filmado com um modesto orçamento de $40 milhões. Christopher Nolan optou por localizações reais em vez de sets construídos, câmaras manuais em vez de efeitos digitais excessivos. O resultado? Um filme que prova que a verdadeira magia do cinema não está no dinheiro, mas na criatividade.
Curiosamente, “The Prestige” foi lançado entre “Batman Begins” e “The Dark Knight“, dois projetos massivos que redefiniram o género dos super-heróis. Mas, enquanto esses filmes se apoiavam em explosões e efeitos especiais, “The Prestige” brilha mais através do seu guião afiado e das performances excecionais do elenco. Christian Bale e Hugh Jackman entregam algumas das suas melhores atuações, transformando uma rivalidade profissional numa tragédia shakespeariana.
Numa entrevista à “Empire“, Nolan descreveu a experiência como “encantadora”, destacando a liberdade que um projeto mais intimista lhe deu. E, apesar de não ter sido o maior sucesso de bilheteira da sua carreira, “The Prestige” é, para muitos fãs (e críticos), o seu trabalho mais redondo.
Concordas que “The Prestige” é a obra-prima de Christopher Nolan? Ou prefere os seus blockbusters mais viscerais? Deixe a tua opinião nos comentários.