Martin Scorsese abandona as salas de cinema
Quando até o grande cineasta Martin Scorsese abandona a sala de cinema, algo de profundamente errado está a acontecer.
Há décadas que o realizador de Taxi Driver e Goodfellas molda a sétima arte com mãos de mestre, mas agora, confrontado com a crescente falta de respeito dos espectadores, decidiu retirar-se. Não das filmagens, não das narrativas que tece com precisão, mas da própria experiência de ver um filme numa sala escura, partilhada com desconhecidos. O motivo? O barulho de conversas e o brilho irritante dos telemóveis que tornam o ecrã numa televisão de fundo.
Martin Scorsese, aos 82 anos, já não tem paciência para o que descreve como uma “falta de reverência” pelo cinema. E, se um dos maiores cineastas vivos desistiu da sala escura, o que resta ao comum mortal?
Martin Scorsese é contra as conversas no cinema
A revelação surgiu numa conversa com o crítico Peter Travers, onde Martin Scorsese não poupou palavras. “O público fala ao telemóvel durante o filme, sai para comprar snacks e refrigerantes gigantes, e faz barulho”, desabafou, segundo Travers. Quando o crítico tentou defender os mais jovens, lembrando que até ele, na juventude, não era modelo de silêncio, Scorsese contra-atacou: “Sim, mas quando falávamos, era sobre o filme. Era sobre a magia do cinema.”
A quebra de etiqueta nas salas não é novidade, mas atingiu níveis preocupantes. A ascensão do streaming e os hábitos adquiridos durante a pandemia transformaram o cinema num espaço onde muitos agem como se estivessem no sofá de casa. Brigas, lançamento de comida e conversas altas tornaram-se tão comuns que alguns filmes, como The Minecraft Movie, até incentivam a anarquia com pedidos para as crianças “correrem em descontrolo”.
Enquanto isso, figuras como Tom Cruise continuam a fazer campanha pela experiência cinematográfica, implorando aos fãs que vejam os filmes no grande ecrã. Mas se até Martin Scorsese, um dos últimos guardiões do cinema como arte sagrada, desistiu, será que a batalha já está perdida?
O cinema sobreviverá à sua própria plateia?
Martin Scorsese não é o único a protestar. Relatos de espectadores que confrontam outros por comportamento inadequado multiplicam-se, e as salas tentam adaptar-se com sessões mais restritivas ou alertas antes dos filmes. Mas será suficiente?
O realizador, que tem em produção um thriller no Havai com Dwayne Johnson e um documentário sobre o Papa Francisco, parece cético. Para Martin Scorsese, o problema não é a tecnologia, mas a falta de respeito pela narrativa.
O paradoxo é cruel: nunca houve tanta acessibilidade a filmes, nunca se produziu tanto conteúdo, mas a experiência coletiva—aquela que transforma um filme num evento cultural—está a ser corroída. Se o público não consegue desligar-se do mundo exterior por duas horas, o que esperar do futuro do cinema?
Ainda acreditas na magia da sala escura do cinema? Ou já desististe, como Martin Scorsese? Deixa a tua opinião nos comentários.