MOTELX 2025 | The Home – Análise
Encerrar o Motel X 2025, o grande festival de terror lisboeta, com The Home, o novo veículo para o comediante Pete Davidson, parecia à primeira vista uma escolha curiosa, quase anticlímax após um festival cheio, como habitual, de obras estranhas e únicas. No entanto, a sessão revelou um objeto singular, irregular, mas que acabou sendo discutido na saída da sala justamente pelas suas reviravoltas inesperadas.
O filme, que junta elementos de drama psicológico com comédia camp, centra-se numa premissa aparentemente simples: um jovem em crise pessoal que aceita trabalhar temporariamente num lar de idosos, na tentativa de reencontrar um sentido de vida e escapar à prisão.
O comediante Pete Davidson no mundo do terror
O ponto de partida deste filme de James DeMonaco funciona graças a Pete Davidson, que surge desde o primeiro minuto como uma presença afável e relacionável. É um jovem com problemas, com ar perpetuamente cansado e deprimido, com uma backtstory algo trágica, depois de ter sofrido com a perda do irmão mais velho. O público rapidamente se afeiçoa à sua figura frágil e ao mesmo tempo espirituosa, construída com uma dose certa de autoironia. É um começo promissor, carregado assim de simpatia e expetativa de que a história desabroche para direções originais.
O problema surge após a chegada ao lar. Por cerca de uma hora, a narrativa perde o fôlego e arrasta-se num registo demasiado estático. Pouco parece acontecer em termos visuais ou dramáticos: as situações repetem-se e as personagens secundárias não se desenvolvem por aí além. É apenas uma série de acontecimentos rotineiros no registo do terror, com jump scares com idosos no lar a agirem de forma cada vez mais desconcertante. A atmosfera, que poderia ser claustrofóbica ou perturbadora, acaba por resvalar para o aborrecimento, dando a sensação de um filme que gasta demasiado tempo em lugar nenhum. Este longo vazio narrativo contrasta em demasia com a energia inicial, criando a frustração de ver uma ideia com potencial estagnar.
Um clímax imperdível
No entanto, The Home explode nos últimos vinte minutos. O que parecia uma narrativa “morna” transforma-se num delírio. O camp surge em força e os limites da lógica são estraçalhados por reviravoltas impensáveis no início do filme. A sobriedade dá lugar ao desvario, como se o filme inteiro tivesse sido apenas um pretexto longo para chegar a um clímax completamente alucinado. É nesse momento que Pete Davidson reencontra o terreno ideal para brilhar com o seu registo mais direcionado para a piada. O filme liberta-se então de quaisquer amarras para mergulhar na galhofa mais absurda.
Assim, The Home pode ser descrito como frustrante e fascinante em partes iguais. A paciência é exigida, e, para alguns, poderá ser demais para ficar até ao fim. Contudo, para quem se deixar levar até ao fim, o prémio é um clímax absolutamente imperdível, tão desconcertante quanto hilariante e memorável. Vale a pena dar uma vista de olhos ao filme só por isso.
Nota: 6/10
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