Novo jogo de Dune tem talento português
Nem todas as tempestades de areia em Dune nascem nos desertos de Arrakis, algumas começam na cidade longínqua de Lisboa.
Se há universo que exala mistério, ambição e uma certa perigosidade sedutora, é o de Dune. Frank Herbert não imaginaria, nos anos 60, que a sua obra-prima se tornaria um fenómeno transmediático, muito menos que Portugal teria um papel decisivo na sua mais recente encarnação digital. Mas a verdade é que, quando Dune: Awakening chegar às nossas consolas e PCs, uma parte significativa do seu ADN será lusitana. E não, não estamos a falar de uma participação menor—Lisboa foi um dos pilares invisíveis deste colossal projeto.
Lisboa foi um dos bastiões de Dune: Awakening
A Funcom, a gigante norueguesa responsável por títulos como Conan Exiles e The Secret World, tem um segredo bem guardado: um dos seus cinco estúdios está sediado na capital portuguesa, e foi lá que mais de 80 talentos (entre locais e internacionais) moldaram o deserto implacável de Arrakis de Dune. Num mercado global onde os holofotes raramente se viram para Portugal, esta é uma afirmação eloquente: o talento português não só existe como pode ditar o ritmo dos blockbusters digitais.
Hugo Martinho, Studio Operations Director da Funcom em Lisboa, não esconde o orgulho: “Temos 81 pessoas a trabalhar no nosso estúdio em Lisboa e somos ainda responsáveis por mais 45, que trabalham remotamente em vários países.”, disse Hugo à Eurogamer. A equipa é um mosaico de experiências—desde portugueses que iniciaram carreira ali, a nomes que regressaram ao país após anos no estrangeiro, e especialistas internacionais que escolheram Portugal como base.
Guilherme Santos, Head of Studio, vai mais longe: “O lançamento de Dune: Awakening é um marco histórico para o mercado português dos videojogos.” E não é para menos. Pela primeira vez, um estúdio português—com uma equipa maioritariamente local—está na linha da frente de um título com ambições globais. Santos lembra ainda que a indústria dos videojogos já ultrapassou, em valor, o cinema e a música juntos. Portugal, parece sugerir, está finalmente a acordar para este potencial.
Porque é que isto é importante?
Há quem ainda veja os videojogos como entretenimento menor, mas os números não mentem: é uma indústria que movimenta centenas de milhares de milhões anualmente. Portugal, apesar do seu tamanho, tem vindo a afirmar-se como um centro de talento, com estúdios como a Miniclip ou a Bisonic a ganharem relevância internacional. A participação lusa em Dune: Awakening não é um acidente—é o resultado de anos de investimento em formação e atração de talento.
O que isto significa para o futuro? Se um estúdio em Lisboa pode ser decisivo num jogo desta magnitude, é porque o país tem condições para se tornar um polo criativo ainda maior. E não falamos apenas de programação ou design—a narrativa, a direção de arte, até a composição musical portuguesa têm aqui uma oportunidade de brilhar. Assim, basta olhar para o sucesso de Dune (o filme) para perceber que o mundo de Herbert é tão rico visualmente quanto filosoficamente.
Claro, há inegavelmente desafios. A concorrência é feroz, e o risco de brain drain (fuga de cérebros) é real. Mas se projetos como este provam algo, é que Portugal não precisa de ser apenas um outsource barato—pode ser um centro de excelência. Basta que empresas e governos percebam que, nesta arena, o investimento não é um custo, mas um bilhete para o futuro.
O que te diz saber que Portugal está a deixar a sua marca num dos universos mais icónicos da ficção científica? Deixa a tua opinião nos comentários.