Restaurante Maria Peixeira: Crítica gastronómica
No meio de uma cidade em constante renovação, há espaços que parecem resistir ao tempo. Outros, mais raros, conseguem dialogar com ele. A Maria Peixeira é um desses lugares. Desde que abriu portas em março de 2019, tornou-se mais do que um restaurante. É um refúgio de memórias bem temperadas e afetos servidos em cada detalhe do espaço.
Localizada numa das artérias de Lisboa, a Avenida Miguel Bombarda, esta casa combina o melhor da tradição portuguesa com uma visão moderna e sensível da restauração. Então, falamos aqui da alma da casa, o que se vê, o que se sente, e o que se guarda depois de sair.
Um nome com raízes do restaurante
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O nome Maria Peixeira não é apenas uma homenagem à mulher portuguesa, mas um manifesto de intenção. Maria, o nome comum e afetivo e Peixeira, símbolo de uma profissão que representa força, presença e autenticidade. É essa alma portuguesa, genuína, popular deste espaço.
O restaurante nasceu da vontade do chef e proprietário Filipe Lopes, com larga experiência na restauração, de criar um espaço onde a memória da cozinha se pudesse sentir com verdade. Por isso, em conjunto com a sua esposa, Raquel Lopes, deram início a este sonho.
O que vem para a mesa
Na ementa do restaurante somos presenteados com alguns nomes criativos para intitular os pratos, sendo uma forma divertida de captar a atenção do cliente. O risotto de amêijoas e vieiras chegou à mesa de uma pessoa curiosa. E o prato cativou à primeira garfada. O arroz estava bem temperado, cozinhado no ponto, e suculento como se espera de um risotto feito com atenção. Havia equilíbrio e profundidade no sabor.
As vieiras, servidas nas suas conchas, destacavam-se pela apresentação elegante e textura macia a que me habituei deste restaurante. O molho, levemente cremoso, contrastava com a acidez cítrica do risotto. O contraste funcionava bem, trazendo frescura e um toque inesperado ao prato. A combinação fazia-nos continuar a comer, mesmo depois de estarmos satisfeitos. As amêijoas, embora algumas visíveis nas conchas, surpreenderam ao aparecerem também misturadas no arroz. Essa descoberta tornava cada garfada mais rica e interessante.
Quando o sabor fala mais alto
Do outro lado da mesa, o risotto de polvo e camarão arrancou um elogio imediato. A apresentação chamava a atenção desde o início. Para surpresa nossa, vinha um pequeno polvo inteiro, bem cozinhado e com textura tenra. Era tão macio que praticamente se desfazia na boca. O camarão, suculento e saboroso, complementava bem sem tirar o protagonismo à estrela. Portanto, o prato tinha equilíbrio entre marisco e arroz, com sabor robusto e de conforto.
Ambos os risottos vinham em porções generosas, mais do que suficientes para satisfazer. Ninguém ali saiu com fome ou sem rapar o prato. Para sobremesa, partilhámos o famoso “Estúpido Bolo de Chocolate” do restaurante. O nome promete irreverência e o sabor cumpre, embora não nos tenha deixado estupefactos. O bolo era denso, húmido e com sabor intenso a chocolate como se pediria. A bola de gelado de pistácio acrescentava frescura e leveza à combinação.
Ainda assim, talvez esperássemos algo mais provocador. O “estúpido” não nos deixou de boca aberta, mas encerrou bem uma refeição que foi sólida do início ao fim. Em resumo, os pratos principais superaram as expectativas e demonstraram rigor técnico.
O ambiente do restaurante
A sala da Maria Peixeira é um lugar que convida a ficar. Assim que se entra no restaurante, temos a sensação de estar a fazer uma viagem imersiva ao fundo do mar, com estatuetas de peixes e de polvos pendurados no teto. Os tons neutros combinam com apontamentos de cor azul, dando ao espaço uma elegância discreta.
Não se trata de luxo, mas de conforto bem pensado. Há um equilíbrio constante entre modernidade e tradição, entre o popular e o contemporâneo. O som ambiente é discreto, a luz é suave e o serviço é marcado pela simpatia e pela proximidade de quem lá trabalha. Aqui, a experiência começa muito antes de chegar o primeiro prato.
Os preços do restaurante, embora reflitam a qualidade do serviço e do espaço, são honestos. A média por pessoa ronda os 20 a 25 euros, podendo variar conforme a escolha de bebidas ou sobremesas. A Maria Peixeira está aberta de segunda a sexta ao almoço, das 12h00 às 15h30 e das 19h00 às 23h00 ao jantar.